sexta-feira, 13 de julho de 2012

Secretário do Tesouro dos EUA envolvido no escândalo da taxa Libor

Enquanto presidia o Banco Federal de Reserva (Federal Reserve Bank ou, abreviadamente, New York Fed) de Nova Iorque, Timothy F. Geithner pressionou os reguladores britânicos para modificar o modo como um índice de referência global crítico  chamado London Interbank Offered Rate, ou Libor, é calculado, de acordo com um e-mail datado de 1 de junho de 2008 obtido pelo The Washington Post.

Escrevendo para o presidente do Banco da Inglaterra, entre outros, Geithner fez seis recomendações, que incluíam a eliminação de incentivos que pudessem encorajar bancos a manipular a taxa e o estabelecimento de um "procedimento confiável de geração de relatórios". - "Seríamos receptivos a uma oportunidade de discutir isso e ficaríamos gratos se pudessem nos dar uma noção de quais alterações seriam possíveis", escreveu Geithner.

Não ficou claro que outros passos Geithner tomou, e se seus esforços interromperam quaisquer delitos pelos bancos. No mês passado, o banco Barclays, sediado em Londres e um dos maiores bancos da Europa, admitiu que montou um esquema para manipular a Libor durante a crise financeira -- e seu principal executivo asseverou que os agentes reguladores britânicos sabiam de suas atividades e pouco fizeram para interrompê-las. O escândalo levou à renúncia dos executivos seniores do Barclays.  [Vejam postagem anterior sobre esse escândalo da Libor.]

Com o escândalo da Libor ameaçando migrar de Londres para Washington, cresce a pressão sobre os agentes reguladores e Geithner, que é hoje secretário do Tesouro americano, para que expliquem o que sabiam e quando o sabiam. Ontem, vários senadores democratas importantes foram ao Departamento de Justiça para que fossem detidos os banqueiros e reguladores responsáveis por falhar em "sustar delitos de que tinham conhecimento ou deveriam ter conhecimento".

Num esforço para abordar algumas dessas questões, o New York Fed, que Geithner dirigiu de 2003 até juntar-se à equipe de Obama, preparou-se para liberar nesta sexta-feira de manhã um volume importante de documentos que detalham sua resposta às preocupações surgidas ainda em 2007 sobre a Libor,  a taxa que ajuda a definir a norma para bônus corporativos, cartões de crédito, hipotecas e outros empréstimos no valor de US$ 10 trilhões ao redor do mundo.

Andrea Priest, porta-voz do New York Fed, disse que os documentos que serão liberados hoje "mostrarão que o New York Fed agiu prontamente quatro anos atrás para ressaltar os problemas com a Libor e pressionar por uma reforma".

O New York Fed desempenhou um papel secundário em provocar a investigação, de acordo com uma fonte familiarizada com o processo em curso nos EUA e no Reino Unido. Durante anos de audiências de investigação sobre a Libor, o nome do banco rarissimamente ou praticamente nada apareceu, disse a fonte, falando sob anonimato porque a investigação está em andamento.

No complicado, secreto e difícil mundo da regulamentação bancária o New York Fed é, talvez, o ator mais poderoso. Entretanto, durante o tempo em que as alegações sobre a Libor foram levadas ao Fed, ele estava igualmente no meio do processo de administrar uma crise metastática em seu setor financeiro.

O banco de investimentos Bear Sterns faliu apenas poucas semanas antes que Geithner tivesse uma reunião em 28 de abril de 2008 com o título "Fixing LIBOR" ("Consertando a Libor", em tradução livre), de acordo com a agenda deste. A situação continuou ladeira abaixo naquele verão e no outono.

Autoridades na Comissão de Negócios Futuros com Commodities (CFTC, em inglês) começaram a mergulhar no assunto Libor depois que o Wall Street Journal e o Financial Times publicaram reportagens no início de 2008, levantando questões sobre manipulação do mercado. A CFTC contatou o Departamento de Justiça. A Autoridade de Serviços Financeiros britânica juntou-se ao grupo mais tarde, naquele ano.

Uma ex-agente reguladora, Sheila C. Bair, que chefiava a Federal Deposit Insurance Corp. durante a crise financeira, disse que o New York Fed -- assim como outros reguladores, como por exemplo o Office of the Comptroller of the Currency (Birô do Controller/Controlador da Moeda, em tradução livre) -- tinha uma visão privilegiada dos meandros internos do trabalho dos bancos. "Ambos tinham inúmeros inspetores nesses bancos, deste modo seria muito mais fácil para eles conduzir essa investigação do que para a CFTC", disse Sheila Bair.

Não obstante isso, a investigação conjunta conduzida pelo Departamento de Justiça (EUA), pela CFTC (EUA) e por reguladores britânicos constatou que ao longo de toda a crise financeira o Barclays informou rotineiramente taxas de empréstimo artificialmente baixas. Os dados falsos mascaravam os problemas em que o Barclays estava envolvido durante aquele período, e podem ter ajudado a manter baixas as taxas Libor. Isso, por sua vez, pode ter permitido ao Barclays a obtenção de empréstimos mais baratos.

A investigação está agora focada em outro banco, mas essa parte do inquérito pode não ficar pronta até o outono, disse a fonte familiarizada com o assunto. Cerca de 20 dos maiores bancos do mundo -- incluindo o Citigroup, o Bank of America e o JPMorgan Chase -- participaram da fixação dos valores das taxas Libor.

Geithner, assim como outros reguladores, foi criticado no passado por manter relações muito estreitas com os bancos que vigiava. Ele está agendado para, dentro de duas semanas, testemunhar ante o Comitê Bancário do Senado e Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, durante audiências programadas regularmente por essas duas Casas. Os legisladores que requisitaram os documentos agora sendo liberados pelo Fed provavelmente irão atormentar Geithner com mais questionamentos, na tentativa de juntar as peças da questão durante aquele período caótico em 2008.

A ascensão de Geithner: depois de um começo difícil em seu cargo de Secretário do Tesouro, Timothy F. Geithner não apenas sobreviveu como cresceu em status, usando sua recém-adquirida influência para pressionar Obama a concentrar-se na redução da crescente dívida do país - (Foto: The Washington Post).



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