segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A contaminação pela toxina do Teflon se espalhou pelo mundo

[Traduzo a seguir artigo de Sharon Lerner publicado no site The Intercept. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Este, o único que traduzi, é o 9° artigo de uma série de 10. 

Invariavelmente, quando surge um artigo como esse a gente aqui se pergunta: - i) por que a imprensa brasileira não publica esse tipo de texto?! -- ii) o nosso Ministério da Saúde, ou quem quer que seja, já vez alguma pesquisa ou avaliação sobre a toxina do Teflon no Brasil? Em caso afirmativo, onde estão os resultados? Em caso negativo, por que isso não foi feito no país?]


Nos meses recentes, o ácido perfluorooctanóico (PFOA, na sigla em inglês), o produto químico usado na produção do Teflon, tem sido notícia novamente. Conhecido também como C8, por causa de sua molécula com oito moléculas de carbono, o PFOA foi encontrado em água potável em Hoosick Falls (Nova Iorque), Bennington (Vermont), Flint (Michigan) e em Warrington (Pennsylvania), entre muitos outros lugares através dos EUA. Embora esse produto químico tenha sido desenvolvido e por muito tempo fabricado nos EUA, ele não é um problema somente americano. O PFOA espalhou-se pelo mundo. 

Assim como nos EUA, o PFOA foi drenado para a água nas proximidades de fábricas em Dordrecht, na Holanda, e em Shimizu (Japão), ambas construídas pela DuPont e por ela operada durante muitos anos. No ano passado, as instalações de Shimizu e parte da fábrica de Dordrecht tornaram-se propriedades da Chemours, uma subsidiária da DuPont. Exatamente como fez em New Jersey e West Virginia, a DuPont rastreou durante anos os níveis de PFOA no sangue de seus empregados na Holanda e no Japão, de acordo com os arquivos da EPA [agência ambiental do governo americano] e de documentação interna da empresa. Muitos desses níveis eram altos, alguns extremamente altos. Em um caso, em Shimizu em 2008, um operário tinha um nível de PFOA no sangue de 8.370 partes por bilhão (ppb). Em Dordrecht, em 2005, um outro operário foi detectado com 11.387 ppb. A média nacional nos EUA em 2005 era de cerca de 5 ppb.

A contaminação da água era também um problema em ambas as  localidades. Em Shimizu, o PFOA foi detectado em 10 poços no local, com o nível mais elevado de contaminação alcançando 1.540 ppb. A água do lençol freático em Dordrecht, que está a cerca de uma hora ao sul de Amsterdã, foi também contaminada com 1.374 ppb de PFOA em um local perto da fábrica em 2014. 

Mas, houve pouca discussão desse problemas nas duas localidades, pelo menos até recentemente, quando a contaminação por PFOA tornou-se notícia na Holanda. Em março, o Instituto Nacional Holandês para Saúde Pública e o Meio Ambiente emitiu um relatório indicando que os níveis de PFOA na água eram elevados até 2002, e que os moradores de Dordrecht foram expostos a PFOA por via aérea durante anos.

No início de abril, um contingente do 'Honre Suas Promessas DuPont', um grupo ativista representando moradores de West Virginia e Ohio, viajou para a Holanda e se reuniu na fábrica de Dordrecht com representantes locais: políticos, cientistas, moradores de Dordrecht, e representantes do sindicato dos trabalhadores.

"Eles estavam possessos", disse Paul Brooks, um médico de West Virginia que foi à Holanda e narrou para as pessoas ali as pesquisas que permitiram a epidemiologistas estabelecer o vínculo do PFOA com pré-eclâmpsia [uma complicação durante a gravidez, que atinge de 5% a 10% das mulheres grávidas, caracterizada por pressão arterial elevada e sinais de danos a outros órgãos, mais frequentemente os rins; usualmente começa depois de 20 semanas de gravidez em mulheres cuja pressão arterial havia sido normal -- se não for tratada, pode levar a sérias complicações e pode ser até fatal para a mãe e para o bebê], colite ulcerativa e dois tipos de câncer, entre outras possibilidades. "Eles não sabiam nada, absolutamente nada sobre o vínculo do PFOA com doenças", disse Brooks.

Mas os holandeses estão aprendendo rapidamente. Em 7 de abril, o jornal holandês Algemeen Dagblad publicou os resultados de exames de sangue em dois moradores de Dordrecht, que apresentavam altos níveis de PFOA. Um ex-empregado da DuPont tinha 28,3 ppb em seu sangue, enquanto sua mulher, que não trabalhava na fábrica, tinha 83,6 ppb. Em contraste, o nível de PFOA no sangue de Carla Bartlett, uma residente de Ohio que ganhou US$ 1 milhão no primeiro dos 3.500 casos contra a DuPont, era de apenas 19 ppb em 2005.

Hoje, pelo menos 1.000 residentes em Dordrecht solicitaram exame de sangue, de acordo com Ingrid de Goot, uma jornalista investigativa do Algeemen Dagblad. De Groot disse que moradores de Sliedrecht, uma pequena cidade do outro lado do rio de Dordrecht, estão também preocupados com a contaminação com PFOA por via aérea "porque em 90% do tempo o vento sopra em sua direção, vindo da fábrica de Teflon".

A DuPont transferiu as questões relativas a Dordrecht e Shimizu para a Chemours, a empresa que herdou seu negócio com produtos químicos perfluorinados (PFC, na sigla em inglês), que agora utilizam cadeias de moléculas mais curtas. A Chemours emitiu um comunicado dizendo que a área no entorno do sítio de Shimizu, "criada décadas atrás pela DuPont e pela empresa japonesa Mitsui, "é altamente  industrializada e a água do subsolo é salobra, não é potável". O comunicado assinalou também que o PFOA era usado por várias empresas no Japão, e a "Chemours nunca o utilizou".

Com relação a Dordrecht, a Chemours escreveu que "não há exposição crescente ao PFOA para os residentes vizinhos por meio de água potável para a área no entorno da fábrica de Dordrecht", e que a empresa "está confiante em que a DuPont agiu sensata e responsavelmente durante os anos em que usou o PFOA em Dordrecht, dando alta prioridade à saúde de seus empregados e da comunidade. Acreditamos que a DuPont foi além do que lhe era exigido, e do que outras empresas fizeram, para gerir o uso do PFOA de modo a proteger a saúde e a segurança de seus empregados e de seus vizinhos". O comunicado observou também que a DuPont reduziu as emissões de PFOA na fábrica de Dordrecht em mais de 90% em relação ao seu nível em 2000, e por volta de 2012 a empresa havia encerrado completamente a produção desse produto químico.

Uma amostragem da contaminação global com compostos perfluorados (PFC, na sigla inglesa) -- Austrália: os mais altos níveis médios de PFOS em sangue humano -- Canadá: PFCs em três lagos árticos -- China: o mais elevado nível de PFOS em sangue humano jamais detectado -- Dinamarca: níveis de PFOA e PFOS no sangue de crianças relacionados com supressão imunológica -- França: PFOS detectado em 27% da amostragem de sistemas públicos de abastecimento de água no país -- Alemanha: PFCs detectados em água potável consumida por mais de 5 milhões de pessoas -- Groenlândia: níveis crescentes de PFC em ursos polares -- Índia: 15 PFCs diferentes detectados no rio Ganges -- Itália: duas fábricas químicas próximas ao rio Pó são fontes importantes de PFOA -- Japão: contaminação com PFOA perto de uma fábrica desativada da DuPont -- Noruega: 12 PFCs diferentes detectados em amostras de comidas e bebidas -- África do Sul: PFOA e PFOS foram detectados em 100% das amostras de 3 rios importantes -- Espanha: PFC detectado em água de torneira, águas fluviais e em água engarrafada na província de Tarragona -- Suécia: níveis elevados de PFOA e PFOS nas proximidades de bases militares -- Reino Unido: níveis elevados de PFOA transportados por via aérea em Manchester -- Vietnã: um estudo encontrou PFC em 98% - 100% de mulheres vietnamitas dando à luz

Ambientalistas têm pressionado para reduzir o consumo mundial de PFOA e de PFOS (sigla inglesa para sulfonato de perfluoroctano), ambos os quais foram detectados no mundo inteiro, incluindo Alemanha, Canadá, Groenlândia, Espanha, Itália, Noruega, Suécia, as ilhas dinamarquesas Faroe, França, Vietnã, África do Sul, Índia, Inglaterra e Austrália (onde umainvestigação governamental está em curso). Em 2014, os PFOS foram listados como um dos poluentes orgânicos persistentes cuja produção deve ser interrompida nos termos da Convenção de Estocolmo, o tratado internacional ratificado por 179 países (embora não pelos EUA). No ano passado, a União Europeia (UE) propôs que o PFOA fosse incluído no acordo.

Mas, enquanto alguns países interrompem a produção de PFOS e PFOA, outros a estão aumentando. Talvez o melhor exemplo disto seja a China, onde pelo menos 56 empresas produzem PFCs segundo dados coletados pela Convenção de Estocolmo. Sem normas para água potável no que tange a PFOA e PFOS, ou restrições quanto ao seu uso, a contaminação por lá está subitamente aumentando. Uma comparação entre rios chineses e europeus publicada no ano passado mostrou que a concentração de PFCs Xiaoqing era mais de 6.000 vezes mais elevada do que no rio Scheur, situado próximo à fábrica da DuPont em Dordrecht. Em um estudo recente, cientistas fizeram exames de sangue de empregados na indústria de peixes no lago Tangxun, na região chinesa de Wuhan. Em um deles foi detectado o nível mais elevado de PFOS jamais verificado em sangue humano: 31.400 ppb.

Ver também (em inglês):



3 comentários:

  1. Estou chocada..................................

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  2. Estou chocadaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Costa, brilhante iniciativa ao traduzir e divulgar esse artigo, denunciando a contaminação que está ocorrendo no mundo e mais ainda na China.

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