domingo, 1 de março de 2015

O que aconteceria se a Grécia deixasse a zona do euro?

[A Grécia continua o foco das atenções não só na UE (União Europeia) como no mundo, pois o que está realmente em jogo e em questão é a solidez da zona do euro, que se mostra fortemente ameaçada pelo destino de uma economia que não vale mais que 2% de sua riqueza (ver postagem anterior sobre a questão grega). No dia 24/02 a Grécia ganhou uma sobrevida de quatro meses (até o final de junho), com a prorrogação da ajuda financeira a Atenas em troca de uma lista de reformas a serem realizadas pelos gregos. 

Muito se especula sobre uma eventual -- para muita gente, inevitável -- saída da Grécia  da eurozona, e as consequências daí decorrentes. Traduzo a seguir reportagem do staff do site Spiegel Online International sobre isso, publicada em 20/02, quatro dias antes do acordo mencionado acima. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. É recomendável ter em mente que a reportagem é do site da principal revista alemã, e que a Alemanha é ao mesmo tempo a maior credora da Grécia na UE e a mais ferrenha opositora a que se dêem vantagens aos gregos na reestruturação de sua dívida.]

Bancos através da Europa, incluindo o Banco Central Europeu, estão se preparando para a possibilidade da Grécia sair da zona do euro. Com Atenas e Bruxelas ainda em conflito, essa eventualidade parece mais realista do que nunca. Mas, quão perturbadora seria realmente essa saída da Grécia?

Na quarta-feira desta semana [de 20/02], 30 altos executivos de um grande banco alemão receberam todos, ao mesmo, uma mensagem de texto e um email. Pouco tempo depois, seus celulares tocaram e uma mensagem automática deu-lhes a todos senhas e um número a ser chamado exatamente às 08:30, para que se juntassem a uma teleconferência com a diretoria. 

Esse surto de comunicação era o primeiro passo do plano de emergência do banco, denominado "Grexit" [junção de "Greece" e "exit" (saída)], exposto em um documento de dezenas de páginas que detalhava como os dirigentes e executivos deveriam reagir na eventualidade de uma saída da Grécia da zona do euro. 

Cada um dos 30 dirigentes foi solicitado a trabalhar as medidas de emergência relativas à sua área. As informações deveriam ser transferidas ao comitê supervisor, e autoridades públicas deveriam igualmente ser mantidas informadas assim como o ministro das Finanças alemão. O plano incluía também que os grandes investidores fossem tranquilizados. Questões relativas a perdas potenciais do banco pela posse de bônus gregos deveriam ser abordadas, assim como as mudanças nas transações monetárias com a Grécia caso ela não fizesse mais parte da zona comum do euro. 

A resposta a ser dada se estendeu também à comunicação interna do banco, com instruções aos empregados sobre como lidar com a nova situação uma vez ela ocorresse na intranet do banco. Clientes e acionistas deveriam ser mantidos também informados. 

Exatamente às 18h a crise chegou a um fim, assim como o dia de trabalho. O plano "Grexit" havia sido apenas um teste, um ensaio, nada mais do que isso. Pelo menos por enquanto. 

Cenários como esse estão sendo simulados através da Europa nesses dias, à medida que empresas, bancos e governos se preparam todos para o tipo de pior hipótese que não está sequer prevista nos estatutos da eurozona: a saída de um dos estados membros da zona de moeda comum. 

Na quinta-feira, o novo governo da Grécia sob a administração de Alexis Tsipras finalmente solicitou uma extensão de seu programa de resgate. Mas, do ponto de vista do ministro alemão das Finanças Wolfgang Schäuble, o governo grego não preencheu as condições impostas pelo eurogrupo. A chanceler Angela Merkel falou pelo telefone com Tsipras e as negociações prosseguiram, com o round mais significativo previsto para sexta-feira à noite. Mas, mesmo que se chegue finalmente a um acerto, o jogo de altos riscos não estará encerrado. Ambas as partes teriam que chegar a um entendimento sobre um novo plano para habilitar o país de volta à saúde financeira. 

Longe de ser simples

Os credores da Grécia, conhecidos agora como "instituições" em vez de "a troika", terão que chegar a um acordo com Atenas não apenas sobre taxas de juros e períodos de reembolso, mas também em questões sobre o salário mínimo e aumentos nos benefícios da aposentadoria. Uma possível "Grexit", como a potencial saída da Grécia da zona do euro passou a ser conhecida, pairaria ameaçadoramente sobre as conversações o tempo todo. 

Tais negociações estariam longe de serem simples. De um lado estão os simpatizantes do partido populista de esquerda de Tsipras, o Syriza, muitos dos quais vivem ainda no mundo dos partidos comunistas dissidentes dos anos 1970. Do outro lado, os 18 ministros de finanças da zona do euro que se juntaram para torpedear as promessas de campanha de Tsipras. O Syriza quer aumentar os gastos públicos, enquanto o grupo do euro quer reduzí-los. Atenas planeja aumentar o número de funcionários civis, enquanto o eurogrupo defende que os gastos públicos têm que ser cortados ainda mais. O grupo do euro considera que a privatização de ativos públicos deve ser uma prioridade, mas o governo de Tsipras colocou o programa em banho-maria por enquanto. 

A situação grega, em gráficos da Spiegel Online International.



Lampejo de esperança -- PIB da Grécia em relação ao ano anterior, em % -- Exportações em relação ao ano anterior, em % -- Desemprego, em % - (Gráficos: Spiegel Online International)



Ajuda financeira a Atenas -- Maio de 2010 - Primeiro pacote de resgate / Estados membros do FMI e da zona do euro /-- Compra de bônus soberanos - Banco Central Europeu / -- Março de 2012 - Segundo pacote de resgate -FMI/EFSF (*) / Corte da dívida - Investidores privados abatem 75% de suas reivindicações
Dívida soberana da Grécia: € 321,7 bilhões / Parcela retida por credores públicos - 141,9 - Fundo Europeu de Resgate EFSF / Empréstimos bilaterais de países da zona do euro: 52,9 / FMI: 31,9 / Banco CentralEuropeu: 20,0 / Bando da Grécia: 4,3 / Outros: 59,8 / Bancos gregos: 10,9 



Programa de amortização - Quando a Grécia tem de pagar suas dívidas (em bilhões de euros) -- FMI / Empréstimos bilaterais / Fundo de resgate EFSF / de membros da zona do euro



O clima não é bom. Durante semanas o primeiro-ministro Tsipras e seu ministro das Finanças Giannis Varoufakis apresentaram a seus parceiros da eurozona bilhões em demandas sem fornecer uma única proposta realista sobre como os planos deveriam ser pagos. Finalmente, Schäuble deu um ultimato aos gregos no inglês notoriamente vacilante que ele frequentemente usa quando as coisas ficam sérias. "No dia 28, à meia-noite", disse ele, "acabou". 

De fato, Schäuble parece às vezes desempenhar o papel de um pai rígido, que tenta manter seu adolescente rebelde na linha. Muitos gregos, no entanto, se sentiram humilhados com o tom do debate e dificilmente há alguém apropriado para a tarefa à mão: o de chegar a um acerto entre duas posições aparentemente irreconciliáveis. 

O sucesso depende grandemente de que Tsipras faça concessões. Certamente, ele pode ser convenientemente favorecido com um alívio nas taxas de juros ou ser autorizado a melhorar as condições sociais na Grécia. Mas, ele teria também que concordar com a manutenção do regime de austeridade e implementar as reformas demandadas pelos credores de seu país. E isso seria exatamente o oposto do que ele prometeu aos eleitores gregos durante sua campanha. 

A única outra opção parece ser a saída da Grécia da zona de moeda comum, cujos possíveis efeitos mantêm ambos os lados bastante ocupados em sua avaliação. O que o abandono da zona do euro faria à economia grega? Quão altos seriam os custos para a zona do euro? Quais seriam as consequências políticas se Atenas se afastar da Europa?

O Banco Central Europeu (BCE) está se preparando também para uma possível saída da Grécia. Funcionários estão efetuando ativamente simulações internas para determinar como o resto da  eurozona pode ser mantido coeso se a Grécia se for. Executivos do BCE consideram que as chances de uma saída grega aumentaram nos últimos dias e, apesar de suas negativas enérgicas, estão encorajando Atenas a finalmente implementar controles de capital para avançar contra a corrente fuga de capitais. O BCE acredita que, diariamente, os gregos estão remetendo mais de um bilhão de euros para o exterior.

Todos os envolvidos insistem em que não querem que a Grécia saia da zona do euro. Mas, no final das contas, isso pode se tornar inevitável se o abismo entre Atenas e Bruxelas não puder ser transposto.

Quartel-general

O coração do partido [Syriza] bate na praça Koumoundourou. (...) O prédio de sete andares que abriga a sede do Syriza está no centro do bairro chinês de Atenas.

Quando de nossa visita, a liderança do partido estava no Parlamento para eleger um novo presidente. Mas o acampamento de base do partido, a lanchonete do primeiro andar, estava cheio. Era visível a prevalência de funcionários experientes, homens de barbas grisalhas, todos eles comunistas que insistem em que "não são dogmáticos". Um deles é Alekos Kalivis, 61 anos, um membro do politburo [comitê executivo] do Syriza, um líder sindical e um bancário aposentado. "Os alemães e a elite europeia querem nos sufocar", diz ele, dando  uma longa tragada em seu cigarro. "Por que? Porque não querem que a Grécia vire um precedente". 

E o que acontecerá se o eurogrupo não se deixar convencer por esses argumentos? "Eles têm que ser convencidos, ou então será como se não tivesse havido eleição. Não podemos, em qualquer hipótese, aceitar qualquer solução que nos obrigue a abandonar nossos princípios". 

"Mesmo se tombarmos na batalha", diz Georgia Fillou, que trabalha na lanchonete, "cairemos de cabeça erguida". Ela enxuga suas mãos, pega seu laptop e começa a falar dos "180 bilhões [de euros] que vocês alemães ainda nos devem da guerra".  

A sede do Syriza é seu próprio mundo. Internacional, mas de algum modo isolado do mundo externo e inesperadamente acolhedor. É um refúgio político em que as velhas convicções ainda existem. Mas, é um refúgio que deu nascimento ao novo governo de um país europeu no século 21. E é um refúgio que dá a Tsipras o suporte de que ele depende. Quantos desapontamentos seus seguidores podem absorver? 

"Esperei a vida toda que a raiva contra o sistema chegasse à classe média", diz Vassilios Primikiris. "Agora ela chegou". O anestesista de 63 anos passou exilado na Itália o período da ditadura militar grega. Hoje, está no comitê central do Syriza.  Ele diz que o Syriza está destinado a ter êxito, e insiste em que o governo de Tsipras ainda tem força na Europa. "Uma Grexit seria a solução mais onerosa para todos os envolvidos", diz ele. E depois, continua, os tubarões começariam a procurar por carne fresca como a Itália e a Espanha. "A Sra. Merkel", diz Primikiris, "é o coveiro da Europa, mas entretanto parece apenas que Tsipras está tão isolado quanto Efigênia. Ele não está. E quem morrerá será Agamenon, o comandante". [Primikiris faz uso aqui do mito de Efigênia, filha de Agamenon (comandante do exército grego) e Clitemnestra. Para conseguir a vitória na conquista de Tróia, Agamenon sacrifica a filha à deusa Minerva e sai vitorioso. Primikiris associa Agamenon a Merkel e diz quem morrerá no final será ela, a "comandante" e não Efigênia (a Grécia).]

O comissário

Valdis Dombrovskis é um homem tímido. O novo vice-presidente da Comissão Europeia é um físico experiente, e ganhou em Bruxelas a fama de ser um desses políticos que só fala quando tem algo a dizer. 

Além disso, esse homem de 43 anos da Letônia sabe conduzir um país através de dificuldades financeiras. Quando seu país báltico se viu assolado pela crise financeira em 2009,  Dombrovskis era primeiro-ministro e imediatamente reduziu em 30% o número de funcionários civis na folha de pagamento estatal, e cortou em 40% o salário dos funcionários restantes. Dois anos depois, a economia de seu país voltou a crescer. "Você convence os mercados financeiros de que você é sério quanto aos ajustes, e você restaura a estabilidade financeira", ele disse à BBC em 2011, explicando a história de sucesso da Letônia. 

Hoje, Dombrovskis é o Comissário para o Euro e o Diálogo Social, e optou por uma abordagem severa à disputa com a Grécia sobre a dívida desta, uma posição que justifica com seu próprio passado político. "De acordo com a programação, a Grécia somente receberá fundos sob certas condições", diz ele, "e isso continuará assim também depois de 1° de março". 

Dombroviskis não entende os gregos. Antes da eleição em janeiro, a situação do país vinha melhorando. O governo em Atenas estava conseguindo trazer mais dinheiro do que gastava -- pelo menos uma vez foram excluídos pagamentos de juros -- e a economia  estava crescendo. A Organização para Cooperação Econômica e Desempenho (OCDE) recentemente registrou que o país havia feito "um progresso impressionante". 

Na época, Atenas teria tido boas chances de receber ajuda nova de Bruxelas, que teria criado um espaço maior de manobra para que o governo tomasse suas próprias decisões sobre o orçamento.  Mas a eleição de Tsipras mudou radicalmente a situação. Muitos gregos deixaram de pagar impostos ou pagaram menos do que deviam, antecipando-se aos cortes de impostos que ele prometera durante a campanha. Enquanto isso, empresas cortavam investimento com receio do governo esquerdista. O resultados disso é que os rombos no orçamento do país são tão grandes quanto eram antes. 

Fontes em Bruxelas dizem que os primeiros passos  dados pelo novo governo grego destruíram quaisquer esperanças para uma maior concessão ou flexibilização. "Agora, não resta outra opção para os gregos senão postular um terceiro e abrangente resgate", diz uma fonte bem informada em Bruxelas. E Dombroviskis, o homem que durante anos havia pregado austeridade e sacrifícios aos letonianos, mostra pouca inclinação para curvar-se em recuo para os gregos. Essa é uma posição compartilhada por muitos ministros de Finanças. "As negociações vindouras", diz uma fonte do grupo do euro, "serão mais duras do que qualquer coisa que fizemos até agora". 

A conta para uma Grexit

Como presidente da Câmara Greco-Alemã de Comércio, Athanassios Kelemis tem como tarefa atrair tantas empresas para a Grécia quanto possível -- pelo menos durante épocas normais. No momento, entretanto, até Kelemis está tendo dificuldades para promover seu país.  Sem uma  perspectiva clara, diz ele, o único que pode fazer é aconselhar as empresas a não investirem em seu país. "Todo mundo está esperando para ver o que acontece", diz ele, "2015 será um ano perdido para a economia grega". 

Embora o tema da saída da Grécia supostamente não seja um tópico em discussão nas conversas entre Atenas e Bruxelas, na realidade todos estão considerando essa possibilidade -- ou por acidente, ou por causa de uma concretização que pode ser o menor dos males. 

Se a Grécia for cair fora do euro, seu governo terá que da noite para o dia circular uma nova moeda, que imediatamente se depreciaria frente ao euro. Pelo menos inicialmente, isso resultaria em caos.  Bancos oscilariam perigosamente, as taxas de juros aumentariam rapidamente e empresas iriam à falência. O número de insolvências subiria 50% em 2015 e novamente por um adicional de 30% no ano seguinte, prevê Ludovic Subran, economista-chefe para a seguradora de créditos Euler Hermes. Mesmo  a maior empresa de energia elétrica do país, a estatal PPC, iria provavelmente à falência prevê a agência de avaliação de riscos Standard & Poor's. 

Para evitar que as pessoas façam uma corrida aos bancos, o país teria que, temporariamente, introduzir controles sobre o fluxo de dinheiro. Transferências para o exterior seriam banidas, seriam impostos limites nos saques em caixas automáticos e contratos de  crédito de fornecedores (supplier contracts) seriam suspensos. É possível que medicamentos e produtos comestíveis estrangeiros se tornassem disponíveis apenas no mercado negro, e que só pudessem ser comprados com moedas fortes.

Uma consequência potencial da desvalorização seria que a dívida do governo grego subiria do nível atual de 175% do PIB para 230%, na opinião de analistas do banco alemão Commerzbank.  Atenas não seria mais capaz de pagar a dívida em uma grande parte de seus empréstimos, e o país ficaria pelo menos parcialmente insolvente. 

É difícil prever como as pessoas reagiriam a essa situação. A declaração de  bancarrota da Argentina em 2001 foi seguida de tumultos e saques violentos. O exemplo da Argentina mostra também a demora que pode custar a uma economia para se recuperar de uma crise como essa. Dezenas de milhares de argentinos, muitos deles com boa formação escolar, deixaram seu país e muitos gregos fariam o mesmo. A confiança de investidores internacionais seria também abalada. É provável que o governo grego tenha dificuldades para levantar dinheiro durante anos. 

Oportunidades?

Ao mesmo tempo, uma moeda nova, mais barata, poderia também criar algumas oportunidades. Ela poderia de repente tornar as exportações gregas muito mais baratas. Hans-Werner Sinn, presidente da usina de ideias (think tank) Ifo, de Munique, acredita por exemplo que o país poderia ressuscitar a indústria têxtil, que desapareceu poucos anos atrás. 

O país poderia ganhar também com negócios de férias baratas. Atualmente, muitos destinos de feriados na Grécia padecem porque os preços são mais baratos na vizinha Turquia, cujos céus e mares são tão azuis quanto os gregos.  "A indústria de turismo grega, em particular, se beneficiaria fortemente com uma Grexit", diz Thomas Mayer, que anteriormente foi economista-chefe do Deutsche Bank. 

A questão aqui é o grau de estímulo que isso daria aos setores de exportação e turismo. Mais importante ainda é a questão sobre quando esse surto de desenvolvimento começaria. 

O Instituto para a Economia Mundial (IfW, em alemão), de Kiel, tem dúvidas sobre se a Grécia se beneficiaria com a reintrodução do dracma a longo prazo. "Uma desvalorização mal feita, desastrada, não ajudaria em nada para mudar os problemas estruturais da Grécia", diz Stefan Koots, chefe do centro de previsões do IfW. O FMI tem uma visão similar sobre a situação. Fontes do FMI em Washington consideram que, para a Grécia, o custo da saída do euro seria maior que o de continuar com as reformas.  

Mas, mudar a moeda daria uma vantagem chave para o governo grego: ele poderia emitir tanto dinheiro quanto fosse necessário para financiar as promessas que fez durante a campanha eleitoral.

O dilema da Europa

Os riscos de uma Grexit para toda a zona do euro são administráveis, e o BCE usaria todas as medidas ao seu dispor para defender a união monetária. No fronte político, o Mecanismo de Estabilidade Europeu, o fundo de suporte que já provou ser um instrumento eficiente no fornecimento de fundos de emergência para países, pode ser usado caso ocorra uma "hemorragia". Grande parte do meio trilhão de euros do fundo não foi sequer tocada. O FMI elogiou o Eurogrupo por ter construído uma "porta corta-fogo" para evitar que turbulências relacionadas à Grexit possam se espalhar para outros países. 

Mais importante, entretanto, é o fato de que países na periferia da zona do euro não são mais tão suscetíveis a riscos como eram quando da irrupção da  turbulência do euro em 2010. Os juros pagos sobre bônus governamentais da Itália e da Espanha podem subir ligeiramente após uma Grexit, prevêem especialistas do Commerzbank, "mas não há risco de quebra". 

Isso, entretanto, levaria a perdas financeiras para os países que emprestaram dinheiro à Grécia. Países parceiros, o fundo europeu de resgate e o FMI proveram a Grécia com 240 bilhões de euros. A Alemanha, direta ou indiretamente, garante quase  € 65 bilhões desses empréstimos. Se a Grécia sair da zona do euro, grande parte desse dinheiro jamais será vista novamente.

Ainda assim, tais perdas seriam dificilmente perceptíveis nos anos vindouros. Com os pagamentos de juros e a amortização dos empréstimos de resgate suspensos até 2020, a Grécia tem pouco o que fazer para pagar tais dívidas neste exato momento. A Alemanha não teria que contabilizar quaisquer dessas perdas a não ser muito mais tarde. 

Mas, os gregos podem gerar custos alhures. Como membro da UE, a Grécia tem o direito de postular de Bruxelas a denominada "assistência para balança de pagamentos". Essa assistência está disponível para países da UE fora da zona do euro que estejam em apuros. Hungria e Letônia são  exemplos de países que tiraram proveito dessa assistência.  

Risco econômico incalculável

Obviamente, o dano político será muito maior. Uma Grexit representaria uma derrota política significativa para os líderes europeus. Pelos últimos cinco  anos, eles tentaram manter a Grécia na zona do euro quase que a qualquer preço. Se esse país sair do euro, há o perigo de que ele comece a se orientar mais em direção à Rússia ou à China. 

Em última análise, sair da zona do euro seria um risco econômico quase incalculável para a Grécia, mas isso poderia gerar-lhe dividendos políticos. O inverso aplica-se à zona do euro. Desse modo, dificilmente alguém deve se surpreender com o fato de que comecem a aparecer rachaduras na fachada da Grécia nas últimas semanas. O ministro grego das Finanças, Varoufakis, por exemplo, fez várias concessões às suas contrapartes europeias apenas para, em seguida, ver seu primeiro-ministro retirá-las novamente. 

A Europa, também, tem sido tudo menos estar unificada. Enquanto o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tem buscado encontrar um acerto de sua lavra, o ministro deFinanças alemão Schäuble tem agido frequentemente como se sua preferência fosse a saída da Grécia da eurozona. Até Sigmar Gabriel, líder do partido que participa da coalizão de Angela Merkel, o Partido Social Democrata, manifestou sua oposição. 

A melhor opção para  todos os envolvidos permanece ser a de se chegar a um entendimento. Após as difíceis reformas estruturais que introduziu nos anos recentes, seria extremamente difícil para a Grécia enfrentar as  dores adicionais de uma reforma monetária. Por outro lado, a zona do euro não tem interesse em permitir a Atenas direitos especiais que nenhum outro país possa postular. Segue possível um acordo, mas quanto mais longas sejam as negociações mais duvidoso fica se ambos os lados pretendem fazer as reformas necessárias. 

Aqueles que lideram as negociações em ambos os lados deixaram claro que não dispõem de muito espaço para manobras. "A Grécia não pode mais satisfazer as demandas do programa", diz Tsipras. "Essa é a razão pela qual ele tem que ser modificado". De sua parte, a chanceler Angela Merkel disse: "Solidariedade e empenho são duas faces da mesma moeda".






Nenhum comentário:

Postar um comentário