terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A genialidade de Dvořák

Entre os maiores compositores clássicos de todos os tempos, tenho especial predileção por Antonín Dvořák. Para compensar os tempos sombrios por que estamos passando aqui e alhures, com petrolões e atentados mortais terroristas, barbáries e guerras, nada melhor que a música de Dvořák. 



Antonín Dvořák (1841-1904) - (Foto: Wikipédia)


Antonín Leopold Dvořák nasceu em 8 de setembro de 1841 na aldeia boêmia de Nelahozeves, perto de Praga (então parte da Boêmia no Império Austríaco, atual República Tcheca), onde passou a maior parte de sua vida. Foi batizado na igreja católica de St. Andrew na mesma aldeia. Os anos que Dvořák passou em Nelahozeves nutriram a forte fé cristã e o amor pela sua herança boêmia que tão fortemente influenciou a sua música. Seu pai Frantisek Dvořák (1814-1894) foi um taberneiro, instrumentista profissional de cítara e açougueiro. Embora seu pai quisesse que ele também fosse um açougueiro, Dvořák passou a buscar um futuro na música. Recebeu sua primeira educação musical na escola da aldeia, onde ingressou em 1847, aos seis anos. De 1857 a 1859 estudou música na única escola para organistas de Praga e, gradualmente desenvolveu-se, tornando-se um excelente instrumentista de violino e viola. Escreveu seu primeiro quarteto de cordas quando tinha vinte anos, dois anos após a graduação.

Ao longo da década de 1860, tocou viola na Orquestra Provisória do Teatro da Boêmia, que em 1866 era regida por Bedřich Smetana. Quando tinha dezoito anos, Dvořák era um músico em tempo integral. Recebia cerca de 7,50 dólares por mês. A constante necessidade de complementar sua renda levou-o a ensinar lições de piano. Foi através dessas aulas de piano que conheceu sua esposa. A princípio, ele se apaixonou por sua pupila Josefina Čermáková, para quem ele compôs Cypress Trees. No entanto, ela nunca correspondeu a esse amor e acabou casando com outro homem. Em 1873, Dvořák casou-se com a irmã de Josefina, Anna.

Seu primeiro sucesso foi um hino baseado numa obra de Vítězslav Hálek, famoso poeta de seu país. Assim conseguiu a colocação de organista na Igreja de Saint-Ethelbert, que ocupou até 1877. Datam desses anos Stabat Mater e outras obras sinfônicas, vocais e, sobretudo, de câmara. Em 1875 obteve uma renda do Estado.

A obra de Dvořák conheceu um sucesso cada vez maior: surgiram as Danças eslavas (1878), Quarteto op. 51 (1879) e as primeiras sinfonias. O compositor foi diversas vezes para a Inglaterra, onde recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Cambridge em 1891. Obteve o mesmo título também da Universidade de Viena e da Universidade de Praga.

Em 1892 aceitou o convite para dirigir o Conservatório de Nova York. Escreveu então algumas de suas obras mais famosas, como a Sinfonia do novo mundo (1893). No entanto, a saudade de seu país fez com que o compositor retornasse para o lugar de professor de composição que obtivera em 1891.

A obra de Dvořák constitui uma síntese do pós-romantismo alemão de Brahms (que o admirava) e da tradição folclórica eslava.

Na relação de suas obras encontram-se nove sinfonias, um concerto para piano, um concerto para violino, um concerto para violoncelo (o mais famoso dos seus concertos), poemas sinfónicos (O espírito das águasMeu LarWaldesruhe), aberturas (OthelloNa naturezaTrágica), danças sinfônicas, suites (TchecaAmericana) e as danças checas.
As composições de Dvořák têm estilos muito próprios, com grande riqueza melódica e colorido orquestral.

Obras

Dvořák foi um compositor muito talentoso, tanto o foi que Brahms fez o seguinte comentário: "Fico fora de mim de inveja, com as ideias que ocorrem tão naturalmente a esse músico". De fato, Dvořák tinha a capacidade de inventar belos temas e incorporar harmonias complexas às obras que finalmente, faziam muito bem aos ouvidos. Ele impressionou a Brahms de tal maneira, que se pode reparar que suas sinfonias têm a influência marcante de Dvořák.
Um exemplo claro sobre esta influência pode ser notado na quarta sinfonia de Brahms de 1884/1885. Ela possui as formas tão características nas sinfonias do compositor tcheco, inclusive o tema inicial do quarto movimento é um "plágio" do tema inicial do quarto movimento da sexta sinfonia (1880) de Dvořák. Só neste aspecto vê-se claramente o quanto forte foi a influencia de um sobre o outro.
Grande contrapontista, Dvořák elaborava três ou quatro vozes conversando ao mesmo tempo com uma harmonia perfeita. Grande orquestrador, tinha no brilho e no colorido instrumental as características mais marcantes, apesar de que suas obras principalmente as sinfonias, estejam predominantes as cordas. Instrumentos como flautas, oboés, clarinetes e fagotes entram como coadjuvantes às cordas dando um agradável ar eslavo, não esquecendo que ele gostava bastante das percussões e da música intensa e forte.
Sobre as sinfonias, com exceção da terceira que possui apenas 3 movimentos, as outras 8 sinfonias de Dvořák têm 4 movimentos, geralmente um allegro, um adagio, um scherzo e outro allegro. Elas seguem mais ou menos um mesmo padrão formal, um pouco diferente da forma-sonata: nos seus primeiros e últimos movimentos são formados de três partes: Uma exposição de temas, uma re-exposição dos mesmos temas nas mesmas seqüências de compasso com pequenas alterações orquestrais e finalmente o desenvolvimento dos temas apresentados anteriormente, apresentando também novos temas. Suas nove sinfonias são obras primas do conjunto sinfônico romântico do século XIX.

Sinfonias

  • Sinfonia No. 1 em Dó maior "Os Sinos de Zlonice"
  • Sinfonia No. 2 em Si bemol maior, Op. 4
  • Sinfonia No. 3 em Mi bemol maior, Op. 10
  • Sinfonia No. 4 em Ré menor, Op. 13
  • Sinfonia No. 5 em Fá maior, Op. 76
  • Sinfonia No. 6 em Ré maior, Op. 60
  • Sinfonia No. 7 em Ré menor, Op. 70
  • Sinfonia No. 8 em Sol maior, Op. 88
  • Sinfonia No. 9 em Mi menor "Do Novo Mundo", Op. 95

Óperas

  • Alfred (não publicada), 1870
  • King and Charcoal Burner (Král a uhlíř), 1871, recomposta em 1874, revisada em 1887, Op.14
  • The Stubborn Lovers (Tvrdé palice), 1874, Op.17
  • Vanda, 1875, revisada em 1879 e 1883, Op.25
  • The Cunning Peasant (Šelma sedlák), 1877, Op.35
  • Dimitrij, 1881/1882, revisada em 1883, 1885, 1894/1895, Op.64
  • The Jacobin, 1887/1888, revisada em 1897, Op.84
  • The Devil and Kate (Čert a Káča), 1898/1889, Op.112
  • Rusalka, 1900, Op.114
  • Armida, 1902/1903, Op.115
Algumas músicas de Dvořák

Humoresque n° 7, Op. 101 -- Intérpretes: Yo-Yo Ma (violoncelo) e Itzhak Perlman (violino) com a Orquestra Sinfônica de Boston, regente Seiji Ozawa



Canções que minha mãe me ensinou (Sete Canções Ciganas, Op 55 n° 4) -- Intérpretes: Pablo Casals (violino) e Mieczysław Horszowski (piano)




Dança Eslava Op. 72 n° 2 em mi menor -- Intérprete: Cleveland Orchestra, regente George Szell 


Sinfonia n° 8 em sol maior Op. 88, 1° Movimento -- Intérprete: Orquestra Filarmônica de Los Angeles, regente Zubin Mehta



Sinfonia n° 9 "Do Novo Mundo", 1° Movimento -- Intérprete: Orquestra Filarmônica de Nova Iorque, regente Kurt Masur



Romance para Violino e Orquestra, Op. 11 -- Intérprete: Tanja Sonc (violino) e a Filarmônica Eslovena, regida por Keri-Lynn Wilson 



Serenata para Cordas Op. 22, 2° Movimento: Tempo de Valsa -- Intérprete: Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, regente Fabio Costa



Carnaval - Abertura, Op. 92 -- Intérprete: Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga, regente Jan Kučera



Dança Eslava Op. 46 n° 1 em dó -- Intérprete: Filarmônica de Viena, regente Seiji Ozawa



Quarteto de cordas em fá menor Op. 9 (B. 37) -- Intérprete: Quarteto de Cordas de Praga




Romance para violino e piano Op. 11 -- Intérpretes: Bohuslav Matousek (violino) e Petr Adamec (piano)




Suíte Tcheca em ré maior B.93, Op. 39 - II Polca -- Intérpretes: Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional Polonesa (Katowice), regente Antoni Wit


Pintura "Um vilarejo no inverno", de Adrianus Eversen



Um comentário:

  1. Também sou fã de Dvorak. Ótimo este contraponto: política X música...
    Vou transpor a Humoresque para o tom de dó, para ver se aprendo a tocá-la (em piano)... O original tem, me parece, todos os bemóis na armadura... Aí é fogo...

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