terça-feira, 19 de agosto de 2014

A malandragem francesa com o "prêmio Nobel" da matemática ganho pelo brasileiro Artur Ávila

[No dia 13 de agosto, Artur Ávila Cordeiro de Melo foi um dos agraciados com a Medalha Fields, considerada o Nobel da Matemática (ver detalhes sobre a medalha). Nascido no Rio em 29 de junho de 1979, Artur estudou no Colégio São Bento e no Colégio Santo Agostinho, no Rio de Janeiro, e concluiu o doutorado em 2001 no IMPA - Instituto de Matemática Pura e Aplicada, também no Rio de Janeiro. No segundo semestre de 2001 fez pós-doutorado no Collège de France e, na sequência, foi contratado pelo Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS, em francês) da França. Artur se naturalizou francês em 2013, tendo hoje dupla cidadania. Ele sempre foi um prodígio na matemática, e seu currículo revela que já antes da medalha Fields acumulava uma lista impressionante de prêmios internacionais na matéria que domina como poucos.


Artur Ávila, o brasileiro ganhador da Medalha Fields de matemática - (Foto: Veja)




O perfil de Arquimedes faz parte da medalha Fields - (Foto: Wikimedia Commons) 

Em janeiro de 2010 a revista Piauí publicou um longo artigo sobre Artur Ávila, cuja íntegra está acessível apenas a assinantes da revista. Morando em Paris há 13 anos, Artur vive a cidade de uma maneira peculiar. A beleza da cidade não o impressiona. Os confortos urbanos, como a facilidade do transporte público, também não chamam sua atenção. Artur não frequenta os museus, nunca foi ao Louvre e recentemente viu pela primeira vez a torre Eiffel de perto e achou a sua estrutura feia.

Pois bem, apesar de todo esse acervo tupiniquim na formação técnica de Artur Ávila, o fato dele ser também cidadão francês (há apenas um ano ...) foi suficiente para que os franceses se "apoderassem" de sua conquista -- como fizeram o jornal Le Monde e o site do CNRS -- dizendo que a distinção a ele coloca a França entre os países mais laureados com a medalha Fields! C'est la France pirate ... Traduzo a seguir o artigo do Le Monde. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Medalha Fields: a França, país mais premiado juntamente com os Estados Unidos
Le Monde, 13/8/2014

Graças a ele, a França continua próxima aos Estados Unidos na disputa do primeiro lugar no pódio dos países distinguidos com a medalha Fields, considerada o prêmio Nobel para os matemáticos. Aos 35 anos, o franco-brasileiro Artur Ávila foi premiado na quarta-feira 13 de agosto com três outros pesquisadores, entre os quais Maryam Mirzhakani, a primeira mulher a ganhar a medalha Fields.

Décimo-quarto francês premiado com o Graal dos matemáticos, Artur Ávila sucedeu a Ngo Bao Chau e Cédric Villani, franceses laureados com a medalha Fields em 2010. Mas sua trajetória contrasta com a de seus antecessores franceses, todos passaram pela Escola Normal Superior (ENS) da rua de Ulm, em Paris.

[Infelizmente, o artigo citado do Le Monde apresenta gráficos que não podem ser copiados. O primeiro deles ("Medalha Fields: os países mais premiados"), já atualizado até 2014, mostra que os EUA têm 14 laureados (dos quais 1 se naturalizou americano após receber a medalha), a França 13 (dos quais um apátrida -- Alexander Grothendieck  -- considerado francês porque estudou e trabalhou na França; e 1 com a nacionalidade francesa -- Artur Ávila -- quando recebeu o prêmio), a Rússia/URSS com 9, o Reino Unido com 6, o Japão com 3 e a Bélgica com 2. Uma lista completa dos laureados com a medalha Fields de 1936 a 2014 pode ser encontrada aqui.]

Duplamente franco-brasileiro

Nascido no Rio de Janeiro, o matemático iniciou sua formação no Brasil até sua tese, que finalizou na França, inicialmente no Collège de France na equipe de Jean-Christophe Yoccoz (medalha Fields de 1994) e depois no CNRS, onde é diretor de pesquisas. Trabalha no Brasil no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), e na França no Instituto de matemáticas Jussieu-Paris, na margem esquerda.

Essa carreira profissional original deve muito a uma especificidade francesa já desaparecida: a componente de cooperação do serviço militar obrigatório. "O IMPA é um viveiro para a cooperação científica e sempre teve franceses trabalhando lá, como Jean- Christophe Yoccoz", diz Etienne Ghys, diretor de pesquisas no CNRS na ENS em Lyon que também esteve no IMPA [de 7 a 10 de maio de 2014].

Em 2006, essa parceria franco-brasileira se materializou com a criação de uma unidade mista internacional entre o IMPA e o CNRS. "Sou duplamente franco-brasileiro, pela nacionalidade e pela matemática", se diverte Artur Ávila.


Artur Ávila recebe a medalha Fields das mãos da presidente sul-coreana, em 13 de agosto -- (Foto:AFP/Yonhap)

Cumprimentado por Hollande e Valls

O prêmio do pesquisador foi saudado pelo presidente da República. Para François Hollande, Artur Ávila demonstra a "atratividade da França no domínio da pesquisa" e "confirma o papel de primeira grandeza em escala mundial desempenhado pelos matemáticos franceses". De sua parte, o primeiro-ministro felicitou "um jovem cientista excepcional, que encarna a excelência da pesquisa matemática francesa".

Quanto ao seu campo de estudos,  Artur Ávila acumula resultados importantes na área de sistemas dinâmicos, cujo arquétipo é a rotação dos planetas, que se torna rapidamente complexa desde que se tenha mais de dois corpos em movimento. Ele se interessa, por exemplo,  pelo comportamento das bolas lançadas em mesas de bilhar retangulares ou poliédricas para saber se permanecerão juntas ou não. A resposta é sim para as mesas retangulares ou quadradas, mas não para a maior parte das outras.

[O artigo do Le Monde apresenta dois outros gráficos. Um mostra que os EUA abrigavam a maioria dos laureados (26) quando de sua premiação, vindo a França em segundo lugar (16) e o Reino Unido em terceiro (7). O outro gráfico agrupa os laureados desde 1936 por instituição universitária a que estavam vinculados quando premiados -- essa estatística mostra que a Universidade de Princeton (EUA) lidera esse ranking com 8 laureados, seguida da Universidade de Harvard (EUA) com 5, do Instituto de Altos Estudos Científicos (França) também com 5, e do Instituto para Estudos Avançados (EUA) com 4.]












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