segunda-feira, 28 de julho de 2014

Algumas das guerras execráveis que castigam o planeta e matam milhares de inocentes, e as reações do Brasil

É impressionante o número de conflitos armados que ocorrem simultaneamente em várias partes do mundo. O ano passado (2013) foi considerado o pior nesse aspecto desde a 2ª grande guerra. Vários desses confrontos se destacam por sua extrema violência e pelo elevado número de crianças e cidadãos comuns entres as vítimas fatais.

Focalizemos apenas os que ocorrem no Oriente Médio.

Guerra na Síria -- já dura 3 anos e registra documentadamente  171.509 mortos até este mês  de julho, com 56.495 civis, dos quais 9.092 crianças -- além de gerar 2 milhões de refugiados. A guerra suja síria empregou armas químicas -- em um único ataque das forças governamentais em 21/8/2013 com esse tipo de armamento (com o presumível emprego de gás sarin) teriam morrido 1.300 pessoas. Em 03/8/2012 a vice-chefe da missão do Brasil nas Nações Unidas, Regina Dunlop, disse que a resolução aprovada na Assembleia Geral da organização sobre o conflito na Síria reflete a posição brasileiraO texto aprovado mais cedo clamava por uma transição política no país em crise, condena o regime do presidente Bashar al Assad e critica o Conselho de Segurança por "não agir" para tentar deter a violência no país em conflito. Apesar dos números de mortos e de crianças vitimadas, e do emprego de armas químicas, o governo de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia) em momento algum acusou o governo sírio de uso desproporcional da força, nem chamou para consulta nosso embaixador em Damasco. 

Ver postagem: Afinal, o que quer e faz o Brasil em relação ao genocídio na Síria? 

A guerra do ISIS (sigla inglesa para Estado Islâmico no Iraque e no Levante) -- Formado em 2013, esse grupo jihadista extremista vem fazendo uma guerra que se caracteriza por uma extrema violência, com torturas, execuções em massa, matança de civis, uso de civis como escudos humanos, recrutamento e uso de crianças como soldados. Os cidadãos mais vulneráveis -- mulheres, crianças, deficientes físicos -- têm sido afetados "desproporcionalmente" pela irrupção da violência. Desconhece-se qualquer posição pública e ostensiva do Brasil sobre esse conflito.

A guerra em Gaza -- Desenrolando-se há cerca de 20 dias,  esse conflito já provocou uma destruição sem precedentes no território palestino e causou mais de 1060 mortos entre os palestinos, na maioria civis, e 43 baixas militares no lado israelense. O ato de guerra israelense que nesta semana mais repúdio e revolta provocou foi o bombardeio de uma escola da ONU em Gaza pelo exército israelense, com pelo menos 15 mortos incluindo mulheres, crianças e funcionários da ONU. Em 22 deste mês de julho a Unicef informava que quase 150 crianças palestinas haviam sido mortas pelas forças israelenses em Gaza, incluindo 97 meninos e 49 meninas com idade entre 5 meses e 17 anos.  Das 146 crianças, pelo menos 105 vítimas tem 12 anos de idade ou menos – ou 71% das crianças.

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, chamou de volta ao Brasil para consultas o embaixador em Tel Aviv, Henrique Sardinha. A medida tem por objetivo demonstrar o descontentamento do governo brasileiro com o massacre de palestinos, a maioria civis, na Faixa de Gaza. Foi o segundo país, depois do Equador, a adotar a medida.

"O governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças", diz um comunicado do Itamaraty. A chancelaria israelense reagiu fortemente à posição e à atitude brasileiras e chamou o Brasil de "anão diplomático" e "parceiro diplomático irrelevante". A partir daí, estabeleceu-se um bate-boca ridículo, com o nosso chanceler nº 2, Marco Aurélio Garcia, chamando o porta-voz da chancelaria israelense de
 "sub do sub do sub do sub do sub do sub", afirmou Garcia a jornalistas, antes de solenidade no Palácio do Planalto de posse dos membros do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. Questionado se a declaração do porta-voz não teria sido deselegante, Garcia respondeu: "Eu não sou especialista em elegância".


Ver postagens:
Brasil, um anão diplomático
Brasil, um anão diplomático (II)

O conflito israelense-palestino tem todas características de ser insolúvel, em qualquer horizonte visível. Do lado palestino, a ascensão do Hamas só fez radicalizar ainda mais o confronto. Assiste-se a demonstrações de barbárie de ambos os lados, com um Golias infinitamente mais poderoso que o Davi. Em termos de poder de fogo, as forças armadas israelenses ocupavam em 2013 a 11ª posição no ranking mundial. A desproporção entre o poderio militar de Israel e o dos palestinos é gigantesco, e isto tem sido assim há décadas e todas as ações ofensivas e defensivas de Israel sempre guardam relação direta e linear com essa desproporção. Por isso, soa muito estranho que só agora o governo petralha de Dilma NPS tenha "identificado e constatado" essa desproporção. O que têm feito e fazem a Abin - Agência Brasileira de Inteligência e os nossos dois chanceleres (um deles o eterno e ridículo Marco Aurélio Garcia)?! Ninguém lê jornal no Planalto?! Me soa evidente que pelo menos dois fatores levaram Dilma NPS a fazer o que fez  na hora em que o fez: o ano eleitoral e seu apego visceral à demagogia eleitoreira, e mais uma oportunidade de mostrar antagonismo e "independência" em relação aos EUA, defensores e protetores incontestes e incondicionais de Israel.

O regime implacável e permanente de opressão e humilhação a que Israel submete há décadas a população palestina -- do qual o sistema  cada vez mais expansionista de assentamentos judeus em terras palestinas é apenas uma faceta -- é a receita perfeita para inviabilizar qualquer acordo entre as partes. O que Israel faz em Gaza e na Palestina em geral é uma grilagem institucionalizada de terras, além de um abuso de prepotência e do emprego de força.  Isso, no ano passado, já provocou uma onda de boicotes contra Israel e um crescente isolamento internacional do país. A política israelense na Palestina é o combustível perfeito para o renascimento e a manutenção de facções extremistas como o Hamas e o Hizbollah (ou Hezbollah). 

O comportamento opressivo e agressivo de Israel em Gaza já está gerando divisões na sociedade israelense. O jornal Haaretz, antigovernista e  porta-voz da esquerda, disse que o "Hamas deveria agradecer à direita israelense -- o número crescente de mortos em Gaza e a cada vez maior destruição de seu território fazem o background perfeito para restaurar a reputação do Hamas". Em um editorial, o mesmo jornal disse que o Primeiro-ministro Netanyahu precisa falar clara e francamente contra a crescente onda de agressões violentas contra árabes e esquerdistas que expressam suas opiniões contra a guerra em Gaza. 

Em 9/7/2004, a Corte Internacional de Justiça, principal órgão judiciário da ONU, com sede em Haia (Holanda), em resposta à Assembleia-Geral da Organização, declarou com ampla maioria (quase unanimidade, 14 votos a 1) contrária ao Direito Internacional a construção por Israel do que se convencionou ser nominado muro defensivo, cerca separatória ou, ainda, barreira de segurança, erigido no Território Palestino Ocupado, área sob jugo do Estado de Israel em consequência da Guerra dos Seis Dias (5 a 10 de junho de 1967). O longo relatório que  suporta a decisão da Corte de Haia está detalhado no documento "Consequências jurídicas da construção de um muro no Território Palestino Ocupado" (em francês e inglês). Me soa absolutamente bizarro que Israel tenha adotado uma solução que remete ao Muro de Berlim, que dividiu a Alemanha ao final da guerra contra o nazismo. Dever ter influenciado também Israel o muro que os EUA construíram em parte de sua fronteira com o México.

Como sinal da saturação da sociedade israelense com o regime de permanente violência e belicosidade do Estado judeu, em uma carta endereçada ao primeiro ministro Binyamin Netanyahu e ao público israelense, 60 jovens de ambos os sexos, de 16 a 19 anos, afirmam que pretendem se recusar a prestar serviço militar pois se opõem à ocupação dos territórios palestinos. Esta é a primeira grande onda de recusa ao serviço militar desde 2001, quando centenas de soldados da reserva se negaram a participar das ações militares de Israel na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, durante a segunda Intifada (levante palestino).

A iniciativa, denominada Recusa 2014 (Seruv 2014), foi publicada no domingo, 9 de março de 2014 e, segundo integrantes do grupo, nas  24 horas seguintes o número de assinantes vinha aumentando. "Nos territórios ocupados são cometidos diariamente atos definidos pela lei internacional como crimes de guerra ", declaram os jovens, "inclusive execuções extrajudiciais, construção de assentamentos em terras ocupadas, prisões sem julgamento, tortura, punição coletiva e distribuição desigual de recursos como eletricidade e água".

Repudio inteiramente a política israelense na Palestina, reconhecendo igualmente abusos inaceitáveis do lado palestino. Mas, é indispensável em qualquer análise desse cenário não esquecer que o que se tem é a relação entre uma força de ocupação poderosíssima e prepotente, e um povo a que são intransigente e permanentemente negados pelos invasores todos os recursos políticos de um ambiente minimamente democrático.

No seu cerne, a posição brasileira contra Israel na presente Guerra de Gaza está política e humanitariamente correta. O que destoa e irrita na nossa manifestação, e a torna oportunista e tipicamente um jogo de cena eleitoreiro, é a absoluta falta de isonomia e coerência de tratamento do governo petralha de Dilma NPS com outros conflitos igualmente sangrentos, desumanos, com uso também desproporcional de poderio militar.

Ver também:

Livros escolares em Israel e na Palestina: ensinando as crianças a se odiarem
Como 'sionismo' virou um palavrão
Unesco reconhece o Estado palestino como membro pleno





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