quinta-feira, 12 de junho de 2014

Suiça cancela compra de jato sueco e ajuda fornecedor brasileiro

[A reportagem abaixo, de Virgínia Silveira, foi publicada no jornal Valor Econômico em 11/6. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


A decisão da Suíça de cancelar a compra de 22 caças Gripen NG, da fabricante sueca Saab, no mês passado, aumentou as oportunidades de participação das empresas brasileiras na fase de desenvolvimento do avião, afirmou o brigadeiro José Augusto Crepaldi, presidente da Copac (Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate) e coordenador do programa F-X2.
"De novo a Saab se volta para o Brasil com mais força ainda, mas para que a participação da indústria e a sua capacitação sejam garantidas é necessário que haja constância orçamentária", afirmou o brigadeiro após participar de um debate sobre "O novo caça da Força Aérea Brasileira e seu impacto na indústria aeronáutica".
O governo da Suíça chegou a anunciar, em 2011, a decisão de adquirir o Gripen por US$ 3,4 bilhões, mas a compra foi rejeitada nas urnas pela população. Embora os analistas tenham afirmado que a decisão dos suíços gera incertezas sobre a continuidade do programa, a Saab garantiu que já está em negociação com outros países e que a encomenda do Brasil seria um primeiro passo importante.
A Akaer, especializada em engenharia aeronáutica, foi a primeira brasileira a se beneficiar do desenvolvimento do Gripen, pois havia sido contratada para fazer partes da fuselagem do avião antes mesmo de o governo brasileiro anunciar a sua opção pelo caça sueco. O presidente da Akaer, Cesar Augusto Silva, disse que a Saab, que está formalizando a compra de 15% das ações da empresa brasileira, já garantiu maior responsabilidade da brasileira no projeto, com o desenvolvimento de toda a fuselagem da aeronave. Até então, a Akaer era responsável pelo projeto da fuselagem central e dianteira. A brasileira será uma das líderes no desenvolvimento da versão biplace (de dois assentos) do Gripen, que será inteiramente desenvolvida no Brasil.
Pelo acordo feito pela Saab com o governo federal e a FAB, 80% do Gripen serão produzidos no país. Além da Akaer, a Embraer, Mectron, Atech, AEL Sistemas e a subsidiária da GE no país vão participar do fornecimento das partes mais complexas do caça, envolvendo integração de sistemas e armamentos, montagem final, data-link, componentes e manutenção de motores, sistemas aviônicos e desenvolvimento de aeroestrutura.
O Brasil, segundo o presidente da Copac, não pode ser considerado um mero comprador do avião sueco. "A Saab precisa do Brasil como parceiro estratégico deste programa e por essa razão adiou ao máximo a compra que foi aprovada pelo governo do seu país, para que as oportunidades de desenvolvimento conjuntas fossem mais amplas", disse.
A assinatura do contrato de aquisição de 36 caças para a FAB, avaliada em US$ 4,5 bilhões, deve acontecer até o fim do ano, informou o brigadeiro. Mesmo antes da assinatura do contrato, todas as indústrias brasileiras do setor aeroespacial e de defesa já estão discutindo com a Saab forma de participação no projeto.
Embora a Saab já tenha iniciado o desenvolvimento do avião, tendo em vista o atraso e as indefinições do processo de compra pelo governo brasileiro, o coordenador do F-X2 disse que o projeto não avançou muito e ainda está em uma fase inicial.

[A Suíça é um país difícil de se entender e, para mim, muito chato para nele se viver -- é lindo, mas chatíssimo. O lado alemão é dose, vivi lá três meses e sei como é.

Uma amiga minha, brasileira moradora na Suíça francesa, casada com um suíço, quis hospedar sua mãe por um tempo e foi impedida pelo condomínio de seu edifício porque uma pessoa a mais significava mais consumo de água, luz, etc -- teve que levar a mãe para um hotel. Uma vez, fui ao banheiro à noite depois das 22h e dei descarga. No dia seguinte, levei um baita esporro do síndico por ter quebrado a lei do silêncio ... Uma vez em Genebra, eu restava num carro oficial de nossa embaixada e na companhia de um diplomata nosso, e fomos hostilizados  quando paramos num sinal por um motorista de um carro ao lado que gritava como um doido idiota "por que não voltam para o seu país, por que nos incomodam?"-- logo em Genebra, sustentada em boa pelos inúmeros organismos internacionais nela sediados.

Fora essas bizarrices, a Suíça tem a peculiaridade -- em princípio, saudável a meu ver para um país com as dimensões suíças  -- de resolver na urna todas as grandes questões que afetem o país. Antes que algum maluco -- petista ou não -- queira extrapolar isso para o Brasil, é fundamental ter em conta que a Suíça tem cerca de 8 milhões de habitantes, em uma área total de menos de 42.000 km².

Esse veto popular à compra dos caças suecos Grippen -- comprados há pouco pela FAB, ver postagem anterior -- é mais um exemplo desse estilo suíço de ser. No referendo, 53,4% dos votantes se recusaram a autorizar o gasto de 3,1 bilhões de francos (US$ 3,5 bi) para a compra de 22 caças suecos Grippen, da Saab. Esse aviões destinavam-se a uma renovação da força aérea suíça, que conta com 54 F-5 Tiger já envelhecidos. A maior oposição a  essa compra ocorreu nos cantões franceses, quase 70% dos votos. Na Suíça italiana a oposição o resultado foi de 55% contra e nos cantões alemães -- onde houve o maior apoio à negociação -- o voto contra foi de 51,4% em Zurique e de 67,7% em Basel.

Lamentando o resultado mas respeitando-o, o governo suíço confessou não ter um plano B para a renovação de sua força aérea.

Mas, há nos bastidores dessa negociação com os suecos da Saab algumas informações preocupantes que seria interessante saber se são do conhecimento do nosso governo e da FAB. O site em inglês do jornal suíço Le News, em um artigo datado de 08/5 passado com o título "De quem é a verdade?", revela que há cinco anos atrás a Noruega, com base em dois estudos, rejeitou o caça sueco por seu "custo elevado" e "eficiência inadequada".

Os dois estudos noruegueses de 2008, um militar e um civil, comparou o caça sueco Saab Grippen NG com o caça americano Lockheed Martin F-35 Lightning II. De acordo com os relatórios desses estudos, disponíveis no website oficial fo governo norueguês, o caça sueco teve um desempenho menos eficiente em termos de custo e de capacidade defensiva. O porta-voz do departamento de defesa suíço Renato Kalbermatten alega, entretanto, que não é apropriado usar os relatórios de 2008 como referências, pois o caça sueco havia sido aperfeiçoado até a versão mais recente "E", objeto da negociação com a Saab.]



















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