terça-feira, 3 de junho de 2014

Mais uma má notícia: indústria está substituindo produto nacional por importado

[Esta postagem se baseia em duas reportagens de Marta Watanabe publicadas no jornal Valor Econômico de 31/3. Verifica-se, por parte da indústria brasileira, uma preocupante desnacionalização dos produtos ofertados no mercado interno, o que certamente reflete a multiplicidade de problemas enfrentados pelo nosso setor industrial nesses 11 anos de governo petista.]



Gráfico comparativo entre volume de importação de intermediários e produção industrial, de Fev/2009 a Jan/2014 - (Gráfico: Valor Econômico).


Apesar da desvalorização cambial, a indústria continua acelerando a importação de matérias-primas e bens intermediários - não para aumentar a produção, mas para substituir o produto nacional. É o que se depreende do forte descompasso entre a produção industrial e a importação de matérias-primas e intermediários nos últimos meses. O volume de compras externas de bens intermediários acelerou no primeiro bimestre, com alta de 13,3% em relação a igual período de 2013. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o salto foi de 10,1%.

Um ritmo maior no volume de importação de intermediários costuma refletir forte produção industrial, mas a comparação dos números mostra divergência entre os indicadores. A crescente importação desses bens não condiz com a produção física da indústria, que cresceu apenas 1,16% em 2013, na comparação com o ano anterior. Nos 12 meses encerrados em janeiro, a elevação foi pequena, de 0,5%. 

Para analistas de entidades como a Funcex e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os ritmos divergentes entre a produção industrial e o volume de importação de intermediários mostra que nesse tipo de bem ainda ocorre a substituição de produção doméstica por bens importados.


Para Daiane Santos, economista da Funcex, parte dos intermediários continua sendo comprada no exterior pela falta de oferta doméstica. Outra parte relevante ainda mantém preço competitivo em relação ao fabricado internamente, mesmo com a alta do dólar. Segundo ela, entre os grupos de intermediários com maior elevação de importação estão componentes eletrônicos, partes e peças para veículos, metalúrgicos não ferrosos e resinas elastômeras e fibras sintéticas.


José Augusto de Castro, presidente da AEB, diz que tudo isso reflete a continuidade do processo de substituição da produção doméstica. "A desvalorização do real não é mais um processo novo e deveria já ter mostrado mais efeitos na importação." Ele lembra que a desvalorização cambial não ocorreu apenas no Brasil. Países que são importantes fornecedores também estão com a moeda desvalorizada, como a China. "O yuan chinês, por exemplo, voltou a se desvalorizar. Isso permite ao exportador da China cortar o preço em dólar, o que contribui para a competitividade de seu produto".


Segundo dados da Funcex, os intermediários puxaram a queda de preços dos importados. O valor médio desses bens recuou 5,1% no acumulado até fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, a redução de preço médio do total dos importados foi de 2,6%.


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