terça-feira, 10 de junho de 2014

Benefícios da Copa são superestimados, diz estudo

[A reportagem abaixo, de Afonso Morais e Edson Sardinha, foi publicada no site Congresso em Foco em 29/5. Ela explicita o que qualquer pessoa atenta, minimamente inteligente e não anestesiada politicamente percebe com relação à Copa do Mundo no Brasil. É mais um striptease do governo Dilma. Alguém vai dizer que agora é tarde para chorar o leite derramado, Inês é morta e o melhor agora é relaxar e e gozar. Acho que não. O dinheiro do contribuinte não pode ser gasto de qualquer maneira e impunemente. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]



Dilma, na inauguração da Arena da Amazônia. Para pesquisadores da Unicamp, retorno da Copa ficará aquém do estimado - (Foto: Blog do Planalto/Fonte: Congresso em Foco).

Toda cada vez que são confrontadas com críticas sobre os gastos públicos com a Copa do Mundo no Brasil, as autoridades brasileiras contra-atacam com estudos que indicam ganhos astronômicos para a economia do país com a realização do Mundial da Fifa. As promessas não poderiam ser mais animadoras: centenas de milhares de empregos gerados, melhoria na infraestrutura das cidades-sede, modernização das arenas esportivas e atração de um número jamais visto de turistas estrangeiros ao país. O mesmo discurso tem sido adotado para rebater questionamentos sobre as despesas com os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.

Mas um livro a ser lançado nesta quinta-feira (29), em Campinas (SP), mostra que há sérios motivos para se desconfiar dessas previsões. A começar pela diferença de mais de R$ 40 bilhões entre os dois estudos contratados pelo governo federal para estimar o impacto do Mundial na economia brasileira. Além dos interesses políticos e econômicos envolvidos nas projeções, experiências em outros países que sediaram megaeventos esportivos revelam que os números finais ficam sempre abaixo do estimado inicialmente por governos e empresas.

É o que sustenta o livro Impactos econômicos de megaeventos esportivos, assinado pelo professor Marcelo Weishaupt Proni e pelos pesquisadores Raphael Brito Faustino e Leonardo Oliveira da Silva, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo, obtido pelo Congresso em Foco em primeira mão, relaciona equívocos técnicos na construção das estimativas otimistas. Entre eles, ignorar a gestão dos custos e os desvios de recursos para outras áreas fundamentais, como saúde e educação.

De acordo com os pesquisadores, o saldo tende a ser positivo, mas aquém do prometido, e nem todos os setores ou cidades envolvidos no evento terão os mesmos benefícios. De concreto, aponta, só a Fifa, com isenções tributárias e direitos de propriedade, tem vitória antecipada garantida nesse jogo de negócios.

Campanha enganosa

“O processo de legitimação dos gastos tem recorrido a uma campanha enganosa (baseada em promessas pouco prováveis), que apresenta a Copa e os Jogos como uma estratégia eficiente para estimular o desenvolvimento econômico local, mas sem discutir o caráter desse desenvolvimento e desconsiderando as enormes desigualdades regionais e sociais prevalecentes no país”, escrevem os economistas.

O livro também mostra que os investimentos da Copa costumam ter um impacto mais positivo quando há maior participação do setor privado. Além disso, segundo eles, estudos indicam que os principais legados dos megaeventos esportivos costumam ficar concentrados em poucas regiões e beneficiar poucos segmentos sociais, sem garantia de que os setores prejudicados serão recompensados de algum modo.

“Vários estudos indicam que os efeitos econômicos produzidos podem variar conforme a participação do setor público e do setor privado no financiamento dos megaeventos esportivos.” No Brasil, mais de 80% dos gastos com a Copa até o momento vieram dos cofres públicos.


África do Sul e Alemanha
Os pesquisadores ressaltam que o superdimensionamento dos ganhos com a Copa e os Jogos Olímpicos não é exclusividade do Brasil. Um dos capítulos mostra como o impacto estimado na Alemanha e na África do Sul, sedes do Mundial da Fifa em 2006 e 2010, não se concretizou.
Na Alemanha, por exemplo, o número de turistas estrangeiros registrado durante a Copa – em vez de dar um salto – foi inferior ao do mesmo período do ano anterior. Na África do Sul, a estimativa de crescimento da economia e de geração de postos de trabalho não passou da metade do previsto. O aumento projetado de 0,54% no Produto Interno Bruto (PIB) sul-africano não chegou a 0,3%.
Com exceção de obras de infraestrutura nas cidades-sede, não houve melhora nas condições de vida da população do país africano. “As principais melhorias trazidas para a infraestrutura urbana acabaram beneficiando mais a classe média, enquanto os principais estímulos econômicos foram apropriados por segmentos da classe empresarial". Apesar disso, observam os autores, a Copa elevou a autoestima tanto de alemães e sul-africanos e melhorou a imagem dos dois países internacionalmente.
Sem maniqueísmos
Os autores do livro, de 182 páginas, argumentam que o principal objetivo do estudo é oferecer uma “reflexão crítica” em relação aos impactos e legados esperados ou prometidos com a realização da Copa e dos Jogos Olímpicos, sem cair em “maniqueísmos”.  Apesar das críticas, os pesquisadores evitam fazer coro ao grupo que contesta a realização dos dois eventos no Brasil. Para eles, a organização de uma Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no país reforça a exigência por maior fiscalização e transparência nos gastos públicos.  Mas não pode ser vista como a salvação do país.
“É preciso entender que os megaeventos esportivos não podem ser vistos como ‘panaceia’ para problemas econômicos e sociais, como parecem acreditar alguns dirigentes e políticos, ainda que tenham contribuído para gerar um ambiente de otimismo e resgatar a confiança no desenvolvimento do país".
Na avaliação deles, um dos aspectos positivos deixados pela Copa foi a eclosão das manifestações de junho, durante a Copa das Confederações. Pautadas por uma demanda reprimida por melhores serviços públicos, ganharam as ruas com questionamentos sobre os gastos elevados na construção e reforma de estádios. Ou seja, o tema obrigou a população a refletir sobre a destinação do dinheiro público e pressionou os governantes a reverem suas posições. “Provavelmente, as críticas dirigidas ao descaso de governantes e à arrogância de dirigentes obrigarão o poder público a rever gastos com a máquina administrativa, assim como intensificar a fiscalização e o combate à corrupção".
O lançamento do livro está previsto para as 10h desta quinta, no auditório do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, numa parceria entre o IE, a Casa da Educação Física e Penses (Fórum Pensamento Estratégico da Unicamp). Professor do instituto, Marcelo Weishaupt Proni é economista, mestre em Ciências Econômicas e doutor em Educação Física. Raphael Brito Faustino é mestrando em Desenvolvimento Econômico, e Leonardo Oliveira da Silva, autor da monografia “Impactos econômicos e legados de megaeventos esportivos: uma visão crítica da Copa de 2014″.

[A tese de Leonardo Oliveira está disponível na internet, em formato pdf. O texto é extremamente interessante, vale a pena ser lido. Na introdução, o autor cita opiniões pró e contra a realização de megaeventos no país e, especificamente da Copa do Mundo, e menciona a área de Economia do Esporte que ele diz estar ainda em construção e é ainda pouco prestigiada no Brasil. 

No Capítulo I (Impactos econômicos e legados de megaeventos esportivos) o autor menciona que, por razões políticas, econômicas e sociais, os megaeventos esportivos provocam disputas cada vez mais acirradas entre países e cidades para sediá-los. É citado o exemplo da disputa pelas Olimpíadas de 2016 em que Chicago, com US$ 100 milhões de gastos, foi derrotada pelo Rio, que gastou R$ 88 milhões com sua candidatura. O projeto do Rio foi o mais caro entre as concorrentes,  estimado em R$ 13,92 bilhões -- o que, digo eu e não o autor, certamente será ultrapassado. 

Com relação à Copa de 2014, ele menciona que com as últimas estimativas oficiais, o evento no Brasil custará, apenas no que se refere à infraestrutura, R$ 28,4 bilhões, sendo que 23,5% (R$ 6,7 bilhões) deste valor será para a construção ou reforma de estádios. 
Considerando ainda que os custos previstos são sempre subestimados (ZIMBALIST, 
2010), o custo total de sediar um megaevento esportivo, como os Jogos Olímpicos ou a 
Copa do Mundo de futebol FIFA, é muito elevado (ver postagem anterior sobre o assunto). 

A experiência brasileira com os jogos Pan-Americanos de 2007, realizados na 
cidade do Rio de Janeiro, em 2007, é um exemplo bastante claro de como a previsão 
inicial de custos pode significar apenas uma pequena parcela dos custos finais. Estimados inicialmente em R$ 409 milhões em 2002, acabaram custando US$ 16 bilhões [afirmo eu e não o autor: ninguém foi preso nessa história].

O autor menciona a maquiagem que é feita para tornar os cenários os melhores possíveis, no intuito de sediar um megaevento. A esse respeito, cita trecho de um estudo publicado pela Golden Goal Sports Venture: "Na realidade, a maioria dos estudos encomendados pelas cidades candidatas apresentam impactos econômicos tão positivos que acabam servindo de base para justificar os investimentos públicos. O problema é que a análise de eventos passados não confirma as previsões iniciais, e as cidades-sede acabam ficando 
com um legado de dívidas e infraestuturas ociosas e de manutenção cara, que 
acabam colocando em dúvida a viabilidade da realização dos jogos". (GOLDEN 
GOAL, 2010, p.2).

A respeito dos que afirmam que são "inestimáveis" os benefícios oriundos de um megavento, o autor cita uma frase lapidar do economista Allen Sanderson, da Universidade de Chicago: “Anytime anybody uses the word „invaluable,‟ they are usually too lazy to measure it or they don't want to know the answer" ("Toda vez que alguém usa a palavra "inestimável" ele normalmente é demasiado preguiçoso para medí-la, ou não quer saber a resposta") (MATHESON, 2006, p.8).

No tocante aos legados de megaventos esportivos, o autor pergunta: Como definir o que são os legados dos megaeventos esportivos? Segundo Preuss (2006, p.2) ―"In literature, an immense variety of so called ―legacies‖ from sports events can be found. Unfortunately there is no satisfying definition of ―legacy‖ available". Ou seja, não há definição satisfatória para o que seja ―Legado‖ (VILLANO; TERRA, 2008). Tal indefinição, segundo Cashman (apud PREUSS, 2006), pode ser perigosa:

"The Word legacy, however, is elusive, problematic and even a dangerous word for a number of reasons. When the term is used by organizing committees, it is assumed to be entirely positive, there being no such thing as negative legacy when used in this context. Secondly, it is usually believed that legacy benefits flow to a community at the end of the Games as a matter of course. Thirdly, legacy is often assumed to be self evident, so that there is no meaning to define precisely what it is". (CASHMAN apud PREUSS, 2006, p.3).

A tese de Leonardo lista o que Preuss (2006) identifica como legados:

Positivos

  • instalações novas para o evento
  • infraestrutura geral
  • reflorescimento urbano
  • reputação internacional
  • aumento no turismo
  • melhoria do bem-estar público
  • aumento de empregos
  • oportunidades locais para negócios
  • relocação corporativa
  • propaganda da cidade
  • melhoria do estado de espírito da comunidade
  • cooperação inter-regional
  • geração de ideias
  • geração de valores culturais
  • memória popular
  • educação
  • experiência e know-how
Negativos
  • custos de construção elevados
  • investimentos em estruturas desnecessárias
  • endividamento do setor público
  • problemas temporários de congestionamentos humanos
  • perda de visitantes permanentes
  • aumentos de aluguéis
  • aumentos apenas temporários de empregos e de atividades comerciais/empresariais
  • deslocamentos socialmente injustos
Na minha opinião, e não da do autor, os legados considerados positivos só o serão se der tudo o mais certo possível, o que no Brasil é muito questionável (vide Jogos Panamericanos do Rio em 2007). Quanto aos legados negativos, embora ele esteja implícito nos dois primeiros itens é fundamental destacar o aumento na corrupção, o que no nosso país é infelizmente uma verdade secular quase pétrea.

No Capítulo 2, o mestrando aborda "O futebol-empresa, a Fifa e a Copa do Mundo". Entre várias considerações importantes, o autor lembra que com a transformação do futebol em um negócio que envolve a circulação de bilhões de dólares em todo o planeta, o controle da entidade que rege a modalidade tornou-se um fator chave. Além de conceder ao seu presidente um papel diplomático parecido ao que exercem chefes de Estado (a Fifa possui mais países membros do que a ONU), a entidade que governa o futebol no mundo criou em torno de si uma extensa e complexa rede de influências, cujo equilíbrio de poderes é determinado pelos interesses ao redor dos dividendos econômicos e políticos provenientes do esporte coletivo mais popular do mundo. A disputa para sediar uma Copa do Mundo, por exemplo, extrapola o meio futebolístico e envolve pesados interesses econômicos e políticos. 

No capítulo 3, o autor aborda "A Copa do Mundo de Futebol no Brasil". Ele cita que em 30 de outubro, juntamente com o anúncio oficial do Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014, a Fifa anunciou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) como a responsável pela organização da competição no Brasil. A CBF, por sua vez, criou o Comitê Organizador Local, presidido pelo próprio presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para tratar dos assuntos referentes à Copa. De acordo com o documento que trata dos regulamentos da competição, a CBF e o COL estarão sujeitos ao controle e supervisão da Fifa, que terá ―a última palavra em todos os assuntos referentes à Copa do Mundo de 2014.


A Copa do Mundo Fifa de futebol provoca alterações nas leis do país sede. Além 

das mudanças legais necessárias relativas aos compromissos assumidos entre o Brasil e 
a Fifa, que incluem, por exemplo, as sanções que devem ser aplicadas a quem 
desrespeitar os direitos de imagem e comercialização associados ao evento, há 
mudanças que partem da iniciativa local, e objetivam facilitar e tornar mais eficientes os 
processos envolvidos no planejamento e execução dos projetos relacionados à Copa.

Com relação às leis referentes aos compromissos assumidos entre o Brasil e a 
Fifa, a Lei Geral da Copa é a principal. Ela trata de aspectos como a proteção e 
exploração dos direitos comerciais (áreas de restrição comercial, captação e transmissão 
de imagem e som, direitos de propriedade industrial etc), dos vistos de entrada e das 

permissões de trabalho, da venda de ingressos, entre outros.
 
Questões como a venda de bebidas alcoólicas nos estádios e a meia entrada para estudantes e idosos são os 

maiores pontos de divergência entre o governo brasileiro e a Fifa, já que afetam 
questões constitucionais. Até onde se sabe, a Fifa ganhou todas as disputas contra o governo nessas ásreas (isto quem afirma sou eu, não o autor da tese).

O texto desse capítulo da tese -- assim como dos demais capítulos -- é pródigo em informações e dados sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil.

No subitem 3.2 - Perspectivas de impactos e legados, o autor menciona que no site oficial do Governo Federal sobre a Copa de 2014, a previsão dos impactos econômicos gerados pela realização do evento é apresentada por meio de um estudo realizado pela empresa de consultoria Value Partners. Trataremos os resultados deste estudo como a versão oficial dos impactos econômicos. 


De acordo com o estudo citado, os impactos econômicos gerados pela realização 
da Copa no Brasil podem chegar ao valor de R$ 183,2 bilhões, sendo R$ 47,5 bilhões 
(26%) proveniente dos impactos diretos e R$ 135,7 bilhões (74%) provenientes dos 
impactos indiretos, resultado da recirculação do dinheiro. Seriam criados 330 mil 
empregos permanentes e 380 mil empregos temporários. A arrecadação de tributos seria 
da ordem de R$ 16,8 bilhões. 

Outro estudo que tem sido utilizado nos discursos oficiais é o que foi realizado 
por uma parceria entre a empresa de consultoria Ernst & Young e a FGV, intitulado 
Brasil Sustentável – impactos sócio-econômicos da Copa do Mundo 2014. Neste estudo, 
o impacto total seria de R$ 142,39 bilhões entre o período de 2010 e 2014, sendo R$ 
29,78 bilhões (21%) de impactos diretos (R$ 22,46 bi em Infraestrutura, R$ 1,8 bi em 
organização e R$ 5,94 bi em despesas de visitantes) e R$ 112,79 bilhões (79%) de 
impactos indiretos (recirculação). A criação de empregos seria de 3,63 milhões de novos 
empregos temporários por ano até 2014 (relacionados apenas aos impactos diretos). A 
arrecadação de tributos atingiria o valor de R$ 18,13 bilhões.

Em uma primeira análise, chama a atenção a diferença de mais de R$ 40 bilhões 
nas previsões de impacto entre os dois estudos. Ainda mais conflitantes são os números 
relacionados à criação de empregos. A criação de 330 mil empregos permanentes e 380 
mil temporários já parecia um tanto quanto exagerada no primeiro estudo. No segundo 
estudo, este número chega a inacreditáveis 3,63 milhões de empregos anuais! Ainda de 
acordo com este estudo, as despesas de visitantes gerarão um impacto de R$ 5,94 
bilhões. Supondo que a previsão do ministério do turismo esteja certa e o Brasil recebe 
600.000 visitantes estrangeiros para a Copa, desconsiderando os efeitos ―crowding out‖, 
vazamento e substituição, e considerando um multiplicador de 2 (impactos indiretos), 
cada turista teria que gastar R$ 4.950 para se chegar ao valor previsto. Sendo que a 

média de gasto do turista a lazer no Brasil é de US$ 70,53/dia, ou R$ 124,13/dia (dólar 
a R$ 1,76) de acordo com estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas 

(Fipe), o tempo de permanência no país teria que ser de 40 dias!
 

Feitas estas observações, fica claro que tais estudos superestimaram os impactos 
provocados pela Copa 2014. Os erros que levaram a estes números são os mesmos 
citados no primeiro capítulo: consideração de todos os gastos como benefícios ao invés 
de custos, desconsideração dos custos de oportunidade, critérios pouco convincentes 
para a construção do multiplicador, e desconsideração dos efeitos substituição, 
crowding out e vazamento para o cálculo dos impactos promovidos pelo turismo. Além 
disso, não consideram o fato de que os impactos serão diferentes em cada cidade sede e 
seus entornos, já que questões como a visibilidade, o tipo de financiamento, o volume 
de gastos em relação ao PIB, as características dos projetos, são específicas a cada uma 
delas. É pouco provável que os economistas responsáveis pelos estudos desconheçam 
estas questões. O que nos leva a crer que não apenas os estudos, mas os resultados 
também foram encomendados por agentes interessados na defesa dos benefícios da 
realização do evento. No caso do primeiro estudo, o contratante foi o próprio governo 
federal, por meio do Ministério do Turismo.

Nas suas Conclusões, o autor menciona que o
 setor que mais gera impactos reais na economia por meio da Copa é o turismo. 
Há que se considerar, porém, algumas particularidades, como os efeitos "crowding out" (a grosso modo, uma "exclusão" do investimento privado por excesso de intervenção do Estado) 
substituição e vazamento. Além disso, os impactos provocados pelo turismo são muito 
difíceis de se prever, pois não são planejados e são muito difusos. 



Os impactos mais importantes relacionados à realização da Copa, porém, são os 
chamados impactos intangíveis, ou seja, aqueles de caráter mais subjetivo e cuja 
mensuração é ainda mais complexa que a dos impactos econômicos tangíveis. Dentre 
estes impactos, o relacionado à melhora da imagem internacional é o mais significativo, 
e está diretamente associado ao modelo de desenvolvimento citado acima, baseado no 
fluxo internacional de capitais, que buscam os melhores locus de valorização. Por outro 
lado, os potenciais riscos associados a estes impactos são inversamente proporcionais 
aos benefícios, já que uma imagem negativa resultante de uma Copa mal organizada 
pode causar danos irreparáveis à imagem internacional do país. 

O comprometimento com a transparência e controle dos gastos, o tipo de 
financiamento (se federal, estadual, municipal ou privado), o modelo de gestão de 
estádios e aeroportos (se por meio da administração pública, PPPs ou iniciativa 
privada), o volume de gastos em relação ao PIB, as melhorias efetivas para a população, 
dentre outros fatores, determinarão o sucesso ou fracasso das cidades sede em relação 
aos benefícios e riscos potenciais da realização da Copa do Mundo de Futebol. ]










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