sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Inflação, o bicho-papão brasileiro

[O texto traduzido abaixo foi publicado ontem pela revista The Economist. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Ver postagem anterior sobre a deterioração da economia no governo Dilma NPS.]

O ano não começou bem para Dilma Rousseff. O Real encerrou 2013 um terço mais fraco em relação ao dólar do que quando ela assumiu a presidência do Brasil há três anos atrás. As vendas de carro caíram pela primeira vez em uma década. Mais dólares saíram do país do que em qualquer outra época desde 2002.

O que é pior, em 12 de janeiro o pessoal da área financeira excessivamente obcecado com números [bean-counters] anunciou que a inflação alcançara 0,92% em dezembro, o maior aumento mensal numa década. Isso levou a inflação anual para 5,91%, acima das expectativas do mercado. Esse salto fez com que o Banco Central aumentasse a taxa básica de juros  [taxa Selic], não em 0,25% -- como os analistas há muito haviam estimado -- mas em 0,5% para 10,5%. [Além do significado usado acima de obcecado com números e cifras, "bean-counter" refere-se também a pessoa obcecada com minúcias para poupar custos. O "Business English Dictionary" (Pearson Longman) define "bean-counter" como um termo informal de desaprovação, que designa alguém cujo trabalho é estudar dados financeiros e calcular o custo de fazer alguma coisa, e que se preocupa unicamente em gerar lucro; o dicionário dá como exemplo a frase "the bean-counters who can so easily undermine a creative enterprise" (os "bean-counters que tão facilmente podem desestabilizar/arruinar uma empresa criativa").]

A inflação é o bicho-papão brasileiro. Os custos econômicos são claros: uma inflação elevada atinge tanto os pobres, que têm que batalhar para que as contas fechem, quanto a classe média endividada à medida que os juros sobem. Mas, ela é também um tema político. A maioria dos mais velhos se lembra da era hiperinflacionária do início dos anos 1990, quando os comerciantes ajustavam os preços cada manhã e os alteravam novamente à tarde.


A luta contra a inflação no Brasil: a política de taxa de juros (%) do Banco Central e os preços ao consumidor comparados (em %) aos do ano anterior - (Fonte: Haver Analytic/Gráfico: The Economist).

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, prontamente culpou o dólar elevado e os altos preços das commodities. Um reajuste de preços em novembro pela Petrobras, a gigantesca estatal do petróleo, teve sua influência. Mas a comida também ficou mais cara, mesmo com os preços no atacado tendo diminuído um pouco. Economistas listaram também como vilões o crédito fácil, um mercado de trabalho firme mas improdutivo e gastos públicos perdulários e ineficazes.

Dilma Rousseff tem feito o que pode para reprimir os preços. Em 2012, o governo havia a zero o imposto sobre combustível e lá ele ficou.  No ano passado, ele bloqueou o aumento das passagens nos transportes públicos (uma proposta de aumento, depois revertida, deflagrou enormes protestos por todo o país em junho), baixou impostos sobre matérias e commodities e adiou até posterior decisão um aumento de impostos sobre bebidas aprovado em outubro.  O setor estatal de energia elétrica reduziu em 16% as contas de energia, o maior corte em 20 anos. O jornal Estado de S. Paulo [Estadão] quantifica em R$ 20 bilhões (US$ 12 bi) o valor desse subsídio em 2013 [ver aqui]

Não fossem essas manipulações desajeitadas, diz Tony Volpon, do banco de investimentos Nomura, a inflação teria certamente ultrapassado o limite superior de 6,5% da banda do Banco Central. Os preços regulados aumentaram em 1,5%; os preços livres subiram 7,3%. Esta discrepância é insustentável. Se o governo não permitir que as empresas estatais ajustem seus preços, alerta Volpon, elas se tornarão insolventes. Nem pode seguir sustentando-as, sem causar danos irreparáveis às já frágeis finanças públicas.

Quando a situação se configurou, as trapaças não ajudaram o governo a cumprir sua promessa de impedir que a inflação atingisse os 5,84% alcançados em 2012. E elas deixam pouco espaço para Dilma Rousseff para a absorção de choques de preço este ano. Hernon do Carmo, da Universidade de S. Paulo, acha que a inflação tem chance de romper a banda definida pelo Banco Central.  Volpon calcula que a taxa Selic irá para 10,75% no outono. Com os preços altos e a taxa de juros próxima do valor que tinha quando Dilma tomou posse em 2011 -- após ter caído para um baixo histórico de 7,25% durante seis meses em 2012-2013 --, os eleitores se sentirão roubados quando forem votar. 

Mesmo que Dilma Rousseff permaneça claramente a favorita na eleição presidencial de outubro, as altas dos preços podem prejudicar as chances do seu PT nas eleições estaduais e para o Congresso Nacional. Políticos da oposição estão se deliciando. Álvaro Dias, vice-líder do PSDB, um partido de centro, disse ao jornal Estadão que a inflação afetará a eleição: "é o que elege ou derrota governos". 

[Com a realização da Copa do Mundo e a ganância estúpida e suicida das empresas e comerciantes brasileiros, as perspectivas para a inflação em 2014 não são nada animadoras. Oxalá elas tenham pelo menos o efeito positivo de cassar as pretensões eleitorais e eleitoreiras de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias).  Será, infelizmente, um preço alto a se pagar para ficar livre dessa incompetente.]

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