quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ao analisar os resultados do Pisa 2012 o governo exagera no ufanismo e não faz a autocrítica necessária

Uma atitude recorrente dos governos petistas nesta última década tem sido a de fazer estardalhaço com as conquistas, qualquer que seja seu porte, e varrer para debaixo do tapete os desempenhos piores. Para um partido que, como o PT, sempre quis aparecer como o rei da ética, da transparência e do "jeito novo de fazer política", essa é uma mesmice que degrada. Na análise do recente resultado para 2012 do Pisa, sigla inglesa para o Programa para Avaliação Internacional de Estudantes da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o governo de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) seguiu novamente esse modelito ufanista.

Para ser seu porta-voz o governo escolheu Aloizio Mercadante, não só por ser ele o ministro da Educação mas também por ser uma espécie de primeiro-ministro do governo da ex-guerrilheira. Como é de seu costume e competência, o ministro fez uma análise parcialíssima dos resultados do Pisa, com a profundidade de seu bigode.

Como o Brasil teve uma melhora em matemática, esse cidadão pendurou-se nesse resultado e "esqueceu-se" de que a avaliação cobre também as áreas de leitura e ciências -- e, p'ra variar, não fez qualquer análise comparativa com outros países, nem com os que são nossos concorrentes no cenário internacional. Como ele parece excitar-se com a própria voz, uma vez acometido de verborragia ele não para de soltar besteiras e mentiras ou, na ótima das hipóteses, meias-verdades. Se tivesse um mínimo de compromisso com a honestidade e com a realidade dos fatos, ele diria ao país que infeliz e lamentavelmente o Brasil, entre os 65 países avaliados, ficou em 58°lugar em matemática, 55° em leitura e 59° em ciências -- o resultado global do Pisa pode ser acessado no site do programa. Detalhe interessante: os EUA ficaram em 36° no cômputo geral, mais um sinal dos maus tempos para os americanos. Uma análise excelente e compacta dos resultados foi publicada em 3/12 no Datablog do jornal inglês The Guardian -- agradeço ao querido amigo Amauri o envio dessa fonte.

Se Mercadante fosse uma pessoa honesta e confiável, ele teria dito que em matemática o Brasil saiu-se muito pior que Latvia, Portugal, Croácia, Sérvia, Romênia, Chipre, Bulgária, Kazaquistão, etc,  e foi pior que Chile, México, Uruguai, Costa Rica e Albânia e superando apenas Argentina (logo abaixo de nós), Colômbia e Peru, entre outros menores. A média do Pisa para matemática em 2012 foi 494 e o Brasil chegou a 391.

Em leitura, a média do Pisa foi 496 e o Brasil alcançou 410. Perdemos para Tailândia, Chile, Costa Rica, Uruguai (praticamente empatados) e Montenegro, entre outros. Superamos os mesmos países que em matemática.

Em ciências, a média do Pisa foi 501 e a do Brasil, 405. Perdemos desta vez para a Argentina e a Jordânia, que havíamos superado nos dois outros quesitos, assim como continuamos perdendo para Chipre, Kazaquistão, Bulgária, Tailândia, Chile, Malásia, México, Montenegro, Uruguai, etc.  -- Ver abaixo uma versão compacta da tabela de classificação (clique na imagem para ampliá-la):


Não há dúvidas de que o Brasil fez melhoras importantes no período 2003-2012, e o próprio site do Pisa reconhece isso em uma longa nota de oito páginas sobre nosso país. O risco é perder o foco e exagerar no ufanismo demagógico ao celebrar isso. O mundo hoje é mais do que nunca competitivo, e quem não se preparar para essa competição vai comer poeira -- e a educação é peça chave para isso. E é exatamente no item comparativo que não dá de jeito nenhum para ficar batendo no peito, como faz Mercadante.

Apesar de ser a 6ª ou 7ª economia do mundo, no ranking do Pisa o Brasil perdeu para o México (14ª economia do mundo), praticamente empatou com a Argentina (26ª economia mundial), e perdeu feio para a Itália (8ª economia mundial) e para a Rússia (10ª economia do mundo e nossa companheira de Brics) -- isso para só citar alguns de nossos concorrentes diretos regionais e alhures. É evidente que essas deficiências na educação -- que já são sentidas em vários segmentos da nossa economia -- tendem a agravar-se, se o ufanismo míope não for deixado de lado.

Se os governos petistas tivessem uma noção exata e efetiva da importância da educação -- não com um apedeuta como o NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) sempre glorificando apenas o fato de ter chegado ao Planalto sem completar a escola -- teriam usado melhor essa década de poder para tirar o país dessa posição vergonhosa no Pisa. Basta dar uma olhada na merreca do que investiram e investem no ensino básico, por exemplo. Mercadante devia pelo menos calar a boca, para poupar nossos ouvidos e nossa inteligência -- e precisa decidir se é porta-voz do governo ou ministro de Estado.

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