sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"Precisamos de mais guerras", diz presidente de firma contratada para recrutar soldados para o Reino Unido

[O súditos da Rainha Elizabeth volta e meia nos deliciam com histórias e escândalos com detalhes um tanto ou quanto inusitados, às vezes com aquela sutileza do humor britânico. A história que traduzo a seguir, publicada no jornal The Independent de hoje, é mais uma dessas histórias atípicas, só que desta vez sem qualquer toque de humor. É interessante observar, também, como os ingleses adotam o conceito de privatização em setores que nos parecem bastante ou completamente inusitados para isso. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O presidente de uma empresa de terceirização acusada de ser responsável por um colapso no recrutamento para o exército [do Reino Unido - RU] tentou culpar a falta de guerras pela falha de sua companhia em conseguir novos soldados recrutas. 

O número de pessoas que comparecem nas entrevistas e testes de seleção para ingressar no exército sofreu uma queda de 35%, desde que a Capita foi contratada em março pelo Ministério da Defesa para a contratação de novos recrutas. Mas, quando solicitado a explicar a falha de sua empresa em manter os níveis de efetivo de pessoal o principal executivo da Capital insinuou que isso se devia parcialmente ao fato de que os novos recrutas teriam pouco a fazer. "Temos a desvantagem de hoje não haver guerras", disse Paul Pindar ao Comitê de Contas Públicas [do Parlamento].

"Soldados gostam de alistar-se no exército quando realmente têm algo a fazer", disse Pindar. Quando os parlamentares se mostraram surpresos ante essa afirmativa, ele acrescentou: "Os Srs. podem me fazer cara de desagrado, mas isso é algo que é factualmente verdadeiro". Ele disse que o recrutamento havia sido afetado também pela situação econômica do RU e pelas falhas de um novo sistema de TI, que foi dito à Capita que estaria pronto e rodando quando a empresa assumisse o contrato. 

Margaret Hodge, presidente do Comitê, classificou de "horríveis" os comentários de Pindar sobre as guerras. Seu suplente conservador, Richard Bacon, disse que não confiava na explicação de Pindar, assinalando que milhões de soldados haviam sido recrutados no passado sem que existissem quaisquer sistemas de TI.  Acrescentou em seguida: "Acho que há uma diferença em relação ao recrutamento que se fazia no passado, quando os jovens -- homens e mulheres -- se dirigiam aos postos de recrutamento e falavam com alguém uniformizado, que podia ser considerado como um modelo do que seriam. Hoje, preenchem um online um questionário sem qualquer característica especial. Vá você entender isso". Bacon disse ainda que acreditava que Pindar estava tentando ser "diplomático", não passando demasiada culpa para o Ministério de Defesa pelos problemas que sua empresa havia herdado com os sistemas de TI.

O Ministério da Defesa declinou de comentar a afirmação de Pindar, mas fontes dele assinalaram que ainda há 5.000 membros das forças armadas em serviço ativo no Afeganistão.

Pindar vinha defendendo sua empresa contra alegações dos parlamentares de que o recrutamento havia caído desde que a Capita se tornara responsável por anunciar, fazer propaganda e lidar com os formulários de inscrição. Parlamentares leram para ele estatísticas que mostravam que o recrutamento para o Exército Territorial havia decaído de 1.432 em 2012 para 367 no mesmo período deste ano [o Exército Territorial ("Territorial Army"), conhecido formalmente como Reserva do Exército, é formado por reservistas voluntários para serviço ativo e corresponde a cerca de 25% do efetivo total do exército britânico]. As cifras para o alistamento de soldados recrutas [ou soldados de linha] havia diminuído de 5.042 para 3.259.

Ex-comandantes do exército têm alertado que o deficit em homens faria as operações mais perigosas. Bacon disse que um de seus eleitores vinha tentando alistar-se desde maio, mas "perdeu-se no sistema". 

Pindar admitiu que problemas haviam ocorrido, mas disse que sua empresa estava confiante em que no prazo mais longo as metas de recrutamento seriam alcançadas. "Nossa expectativa é de que não falharemos no longo prazo. O que fizemos em resposta a essa situação foi, em vez de culpar terceiros pelo ocorrido, decidir que agora nos responsabilizaremos pela infraestrutura de TI mesmo que essa responsabilidade não seja nossa.  Estamos na expectativa de que os números no recrutamento aumentarão muito bruscamente. Não estamos cruzando os braços e culpando outras pessoas".

A audiência ocorreu quando falharam as tentativas de rebeldes do Partido Trabalhista de dotar o Parlamento de poderes para esmiuçar planos para substituir soldados de linha por reservistas.

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