segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Quando no STJ, Ministro Teori Zavascki (hoje no STF) fez 164 viagens com verba do Tribunal sem justificativa

[A reportagem abaixo é mais um exemplo impressionante, surpreendente, inexplicável, indecente, repugnante e inaceitável do processo sistemático e formal de transformação dos poderes da República em condomínios de castas privilegiadas. Conhecendo-se mais esse tipo de bandalha, conclui-se que falta ainda muita indignação nas ruas para combater essas máfias encasteladas na República e aniquilar de vez os sistemas moralmente viscosos e pegajosos de autobenefício e autoproteção que implantaram.

Além de tudo isso, há ainda o deboche irritante e moleque dos ocupantes desses poderes. No caso abaixo, de pilantragem togada andrajosamente maqueada de ato normal e justo por uma regrinha interna que tem o DNA da velhacaria, o gerador do malfeito nauseante é o STJ - sigla ou codinome de Superior Tribunal de Justiça, que mesmo assim e apesar disso tem a desfaçatez de se autointitular "O Tribunal da Cidadania" ...]

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki foi, dentre 50 colegas que passaram pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) de 2009 a 2012, o que mais viajou usando uma verba para passagens aéreas cujos gastos não precisam ser justificados para o tribunal.

Por meio de uma regra criada pelos próprios ministros do STJ em 2009, eles podem usar as passagens como quiserem, desde que respeitem o limite anual que hoje é de R$ 48 mil por gabinete. A emissão das passagens é feita automaticamente pelo STJ a pedido dos ministros.

Zavascki foi ministro do STJ de 2003, quando foi nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a 2012, quando passou a ocupar cadeira no STF por nomeação de Dilma Rousseff.

De abril de 2009, quando a regra foi criada, até o ano passado, Zavascki gastou R$ 176 mil em passagens aéreas, em valores nominais. Só 23% desses gastos ocorreram por missões oficiais -- em outubro de 2011, por exemplo, o STJ gastou R$ 35 mil para ele representar o tribunal em um encontro jurídico na Costa Rica.  Os dados foram obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

O desembolso dos outros R$ 128 mil não foi justificado e nem precisaria, segundo o STJ. Os registros não indicam origem e destino das viagens. 

A reportagem tentou por duas vezes acesso a essa informação, mas o STJ se recusou a fornecê-la, sob alegação de que comprometeria a segurança dos ministros. Zavascki também preferiu não informar à reportagem origem e destino das viagens.

No período 2009-2012, ele embarcou em aviões de carreira 87 vezes em viagens de ida e 77 vezes, em voltas, incluindo feriados, como os Carnavais de 2010, 2011 e 2012 -- no total, são 164 trechos viajados sem justificativa.  Não é possível saber o motivo da diferença dos números de idas e vindas.

No Carnaval do ano passado, Zavascki saiu de Brasília no dia 17 de fevereiro e retornou no dia 25 do mesmo mês.  Os dados mostram que ele preferiu sair de Brasília às quintas (36 vezes) e sextas-feiras (33 vezes), retornando quase sempre aos domingos (33 vezes) e às segundas (25).

R$ 2,4 milhões

A verba destinada às viagens sem justificativa dos ministros do STJ consumiu R$ 2,4 milhões de 2009 a 2012 --5,2% com Zavascki. As passagens aéreas em missões oficiais consumiram outros R$ 506 mil, além de R$ 272 mil em diárias dos ministros. 

Na lista dos ministros que mais gastaram sem justificar a viagem, Zavascki ocupa o primeiro lugar. Depois vêm Antonio Herman (gastos de R$ 144 mil), Napoleão Nunes Maia Filho (R$ 113 mil), Benedito Gonçalves (R$ 106 mil) e Maria Thereza Rocha de Assis Moura (R$ 100 mil).



Outro lado

Procurado, o STJ reiterou que a resolução permite aos ministros não justificarem a utilização de passagens adquiridas com a verba.  Questionado pela Folha sobre se a verba poderia ser usada para o deslocamento dos ministros para seus Estados de origem, incluindo finais de semana ou feriados, o STJ informou: "Sim, visto que a norma não traz nenhuma vedação nesse sentido".

A Folha pediu acesso e enviou perguntas aos dez ministros que mais gastaram com a verba de viagens, mas a assessoria do STJ disse que eles estavam de férias e que não teria como contatá-los.

O ministro Teori Zavascki foi procurado por meio da assessoria do STF, mas preferiu não se manifestar.


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