terça-feira, 2 de julho de 2013

Uma geração perdida, os jovens desempregados da Europa

[O texto traduzido abaixo foi publicado em 27/6 no jornal inglês The Independent. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Cada um dos 5,6 milhões de jovens europeus desempregados tem uma história diferente para contar. Alguns têm educação universitária e são sobrequalificados para os empregos que estão buscando. Outros deixaram a escola cedo para fazer dinheiro nos tempos das vacas gordas, apenas para perder tudo quando veio a crise.

Chefes de Estado da União Europeia (UE), reunidos hoje [lembrar que o artigo é do dia 27/6] e amanhã em Bruxelas colocaram o desemprego dos jovens no topo da agenda, pois as estatísticas a respeito são as piores já registradas. Em abril, perto de um quarto das pessoas abaixo de 25 anos à procura de trabalho na Europa estava desempregado. Na Grécia isso atinge mais de 60%; na Espanha, 56%.

A menos que essas cifras sombrias sejam logo revertidas, especialistas alertam sobre uma "geração perdida", presa numa espiral de pobreza e exclusão. Isso pode levar a um aprofundamento da intranquilidade social, do extremismo político, e da possibilidade de que fracassem as políticas destinadas a tornar coesa a Europa através da união monetária."Uma geração está crescendo desempregada, qual será sua postura com relação à Europa, em relação à solidariedade europeia?", perguntou Nils Muižnieks, Comissário de Direitos Humanos para o Conselho da Europa, uma instituição independente de defesa dos direitos humanos. "Tenho a sensação de que não será a geração mais voltada ou sensibilizada para a Europa, e esse será o preço que pagaremos por negligenciar esse tema".

No geral, 11% da força de trabalho da UE estão desempregados, enquanto a recessão e as medidas de austeridade vigentes provocam o fechamento de empresas e negócios. Os jovens estão sendo duramente atingidos, já que os trabalhadores que se aposentam não são substituídos e eles, os jovens, são geralmente os primeiros a serem demitidos.

No centro do debate está o que os líderes da UE podem realmente conseguir, quando o continente permanece atolado na recessão. Lásló Andor, o Comissário da UE para emprego, questões sociais e inclusão, disse que as nações mais ricas deveriam ajudar na recuperação das nações mais pobres. "Há nitidamente uma necessidade de mais solidariedade na Europa -- a geração jovem precisa disso e merece isso", disse ele ao The Independent antes da reunião de Bruxelas.

Mas, a chanceler alemã Angela Merkel deixou claro que não era favorável a um aumento de financiamento ou de recursos financeiros.  "O governo alemão insiste em que os problemas da Europa têm que ser atacados pela raiz e resolvidos passo a passo", ela disse ao Parlamento alemão. [Até onde a Alemanha pretende levar essa posição intransigente e insensível?!]

Uma minuta inicial das conclusões da reunião [de Bruxelas] pede para que se apresse a implementação de um esquema que garanta aos jovens acesso a educação ou treinamento dentro de quatro meses após perder um emprego ou deixar a escola. Ela advoga também uma reforma do mercado de trabalho e das políticas trabalhistas para ajudar as pessoas a se deslocarem para encontrar emprego. Espera-se que cerca de 6 bilhões de euros do próximo orçamento sejam mobilizados para esquemas de ataque ao problema do desemprego entre os jovens.

Entretanto, pleitos anteriores surgiram e se foram, e as figuras do desemprego continuam a subir. "Temos que resolver a crise financeira subjacente e retornar ao crescimento sustentável", disse Andor. "Sem isso, todas as iniciativas gerarão apenas um alívio temporário".

Enquanto há sinais de que alguns países estão beirando a recuperação, os dados de crescimento através da Europa continuam desapontadores. A desesperança toma assento, e já há sinais do que o desespero e a alienação podem gerar. Na Grécia, extremistas neonazista conseguem um apoio recorde. Os motins na Suécia no início do ano foram parcialmente atribuídos a perspectivas miseráveis de emprego para os jovens. Movimentos de independência estão crescendo e muitos jovens, cansados e irritados com as principais correntes políticas existentes estão se voltando para partidos menores, de protesto.

"Se há uma crise, as pessoas podem começar a desconfiar de seus líderes nacionais e a se dirigir para a UE em busca de soluções. Mas, depois de um momento, a confiança na UE pode também decair", disse Andor. "Estamos agora nessa segunda fase. A resposta é parcialmente por comunicações melhores, mais o mais relevante é que as políticas precisam também ser mais convincentes".

Entretanto, muitos economistas e ativistas sociais sentem que são exatamente as políticas para um crescimento de início rápido prescritas pela UE e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) as responsáveis pelo sofrimento existente. "Esperamos que os líderes da UE no Conselho Europeu se movam para além da austeridade e estimulem um novo crescimento e novos empregos", disse Patrick Itscher, vice secretário-geral da união comercial ETUC [sigla inglesa para Confederação Europeia das Uniões de Comércio]. "Os líderes políticos europeus carecem da coragem política de reconhecer os erros cometidos nos últimos anos e corrigir seu rumo".

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Após meses de negociações, autoridades do Parlamento Europeu e dos estados membros da UE chegaram a um acordo ontem [27/6] sobre um orçamento gradualmente reduzido para os próximos sete anos. O orçamento de US$ 960 bilhões para o período 2014-2020 marca os primeiros cortes de despesas na história da UE, e foi discutido e negociado em uma reunião em fevereiro, quando David Cameron e outros lutaram pelo corte de gastos [o jornal  cometeu um engano, o valor do orçamento mencionado é em euros e não em dólares]. Entretanto, o parlamento se recusou a ratificar o orçamento, argumentando pela necessidade de mais flexibilidade para aumentar gastos se as economias melhorassem, pela capacidade de realocar fundos não gastos e por um reforço nas verbas para atacar o desemprego.



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