sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um Maduro politicamente verde preside uma Venezuela dividida ao meio e gera apreensão no Brasil

[Durante os dois governos do NPA as relações Brasil-Venezuela viraram mais uma troca de gentilezas e favores entre dois amiguinhos demagogos, do que propriamente um relacionamento maduro entre países, e quem pagou e continua pagando a conta foi e é o Brasil.  Mudou nosso governo, mas não mudou esse compadrio. Nossa doce e supersimpática Dona Dilma submeteu-se  à tutela do NPA também nessa área da nossa política externa, e cometeu o desatino antidemocrático de forçar a expulsão temporária do Paraguai do Mercosul -- cujo Senado não admitia a entrada da Venezuela nesse mercado comum -- para permitir então a esse país essa admissão que lhe era negada. Jogada de moleque. Com os dois países (Paraguai e Venezuela) saindo de eleições presidenciais, o Brasil terá agora que preocupar-se com a reacomodação do Paraguai no Mercosul com um parceiro que não lhe agrada, e pajear de perto uma Venezuela em péssima situação econômica e politicamente dividida ao meio, presidida por um presidente que de maduro só tem o nome. Traduzo a seguir o artigo de Juan Arias publicado ontem no jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O Brasil tem consciência de seu peso no Mercosul e, em geral, no continente latino-americano. Talvez por isso se preocupe com a situação atual da Venezuela, um país com o qual mantém fortes laços econômicos e de amizade.

O governo Dilma estava preparado para as duas hipóteses de vitória na Venezuela, tanto a de Maduro como a de Capriles. É certo que Lula, por sua velha amizade com Hugo Chávez, havia enviado um vídeo de apoio à candidatura do chavista, mas também era certo que Capriles sempre afirmou que, se ganhasse a eleição, seguiria o "modelo brasileiro", que conjuga desenvolvimento econômico, políticas sociais fortes e respeito pelas instituições democráticas.

Qualquer dos dois candidatos que ganhasse limpamente as eleições cairia bem para o Brasil. Com o que não contavam nem Dilma nem sua diplomacia, é que a Venezuela fosse se dividir salomonicamente em duas metades, inclusive com fortes indícios de que o chavismo tenha roubado nas eleições contra seu adversário, dadas a pequena diferença de votos e as acusações de possíveis fraudes nas urnas.

Daí que, de alguma forma, Dilma -- que havia forçado por trás do contratempo imprevisto com o Paraguai [acho que aqui o excelente Juan Arias foi muito bonzinho com nossa ex-guerrilheira, chamando de "imprevista" a rasteira proposital e inominável que ela deu no Paraguai] a entrada da Venezuela no Mercosul -- hoje se vê de certa maneira imprensada contra a parede. E com um presidente no Paraguai que não lhe agrada. A presidente não pode deixar de reconhecer a vitória de Maduro, mas tampouco pode deixar de observar que o país venezuelano está gravemente dividido.

Em função disso, segundo escreve o sério e bem informado Clóvis Rossi no diário Folha de S. Paulo, Dilma estaria fazendo todo o possível para convencer Maduro a abrir um diálogo sincero com a oposição liderada por Capriles para, juntos, enfrentarem a grave situação econômica e de violência que o país atravessa. Ela o pediu pessoalmente a Maduro, ao mesmo tempo em que o aconselhou a aceitar a recontagem de cem por cento dos votos.

O Partido dos Trabalhadores (PT), mais próximo de Lula que de Dilma em suas alas radicais de esquerda, foi sempre próximo de Chávez, apesar de Lula atuar sempre como ponte e bombeiro frente às tiradas excessivamente autoritárias do caudilho, a quem chamava de irmão e a quem depois, ao ouvido, pedia moderação.

Dilma, realista, sabe que o futuro da Venezuela -- um país com o qual o Brasil não pode deixar de ir de mãos dadas -- é ainda incerto. Por isso, prefere insistir com Maduro por uma abertura de diálogo com a outra metade do país que talvez tivesse votado em Chávez estivesse ele vivo, mas que agora quer algo mais e melhor da herança que o caudilho lhe deixou, ainda que não lhe negue seu agradecimento sobretudo da parte dos mais pobres, que Chávez tratou de mimar e conquistar. 

De qualquer modo, não é difícil pensar que  a diplomacia brasileira, reconhecida sempre por suas posturas moderadas e de diálogo, acabe tendo um papel fundamental no desenvolvimento do futuro próximo da Venezuela pós-Chávez.

Ao final, tanto Dilma quanto Lula -- velho simpatizante de Chávez, ainda que não compartilhasse dos excessos de sua revolução bolivariana -- poderão acabar sendo uma carta importante na atual situação crítica da Venezuela.  A não ser que tanto o poder quanto a oposição venezuelanos acabem esticando tanto a corda, que se chegue a uma ruptura cujas consequências são imprevisíveis. São imprevisíveis até para o Brasil, o país que até agora tem mantido umas relações mais estreitas com a Venezuela e que conhecia, melhor que outros líderes políticos, o que ali se estava e se está jogando.


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