domingo, 24 de março de 2013

A concordata da gigante chinesa fabricante de painéis fotovoltaicos

[A notícia abaixo da The Economist apresenta dois detalhes inusitados: um, a concordata (com ares de falência) escancarada de uma empresa chinesa, a Suntech, uma das maiores fabricantes de paineis solares do mundo; o outro, o fato de o governo centralizador chinês permitir que isso acontecesse, o que não deixa de prejudicar a imagem chinesa em uma área emblemática para um país mais conhecido como extremamente danoso ao meio ambiente. O que no texto abaixo estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

A BP, uma empresa petrolífera gigante conhecida anteriormente como British Petroleum, fez uma malfadada campanha publicitária há alguns anos atrás autoproclamando-se "Além do Petróleo". A ideia era alardear seus grandes investimentos em energia renovável, especialmente sua efêmera posição como uma das maiores fabricantes mundiais de painéis solares. Esse esforço acabou sendo considerado como uma "lavagem ecológica" [por analogia com lavagem de dinheiro], pois os clientes da empresa perceberam que sua incursão [de fachada] na área verde não havia eliminado seu zelo em produzir -- e infelizmente, como se viu, vazar irresponsavelmente -- quantidades gigantescas da imunda pasta negra que sempre foi a fonte principal de seus lucros.

Não muito depois disso a Suntech, uma fabricante chinesa de painéis solares, disparou como um foguete para o topo da indústria de energia solar do mundo. O aumento do valor da empresa depois de sua inauguração em 2005 foi tão estratosférico que Shi Zhengrong, seu fundador, tornou-se rapidamente o homem mais rico da China. No auge de sua fortuna e de suas expectativas para a empresa, ele chegou a declarar pomposamente que sua ambição era tornar a Suntech tão grande quanto a BP. Como uma companhia de energia limpa, a Suntech tinha pelo menos a chance de cumprir a promessa enganadora da BP de ir além do petróleo. Infelizmente, em vez disso a Suntech acabou indo para além do lucro.

No dia 20 deste mês de março foi declarada a concordata da empresa, que operava em Wuxi, China. Isso se deu apenas alguns dias depois que ela não conseguiu honrar um de seus compromissos em bônus [de US$ 541 milhões, segundo o The Washington Post]. A Suntech vinha fechando várias de suas fábricas ao redor do mundo e o Sr. Shi, que uma vez havia sido um herói verde entre os "gatos gordos" que se juntaram na badalação anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, foi vergonhosamente defenestrado de seu cargo de presidente da empresa.

O que aconteceu? Em parte, a Suntech é uma vítima das circunstâncias. O boom global da indústria de energia solar dos últimos anos esfarelou-se, inevitável e dolorosamente. Subsídios distribuídos prodigamente pelo governo chinês estimularam uma superprodução de equipamentos pelos fabricantes nacionais, contribuindo para uma saturação dos mercados mundiais, ao mesmo tempo em que suas táticas de corte de preços varriam do mapa concorrentes do mundo desenvolvido e provocavam represálias sob a forma de taxações antidumping e outras ameaças de retaliação.

Tão perniciosa quanto a iniciativa chinesa foram as políticas dos países ricos,  que subsidiavam de maneiras diversas a produção e o consumo de energia solar e pararam de fazê-lo. A crise que se espalhou por toda a indústria solar é tão calamitosa, que se estima que mais de 30 empresas de energia solar no mundo faliram recentemente.  É claro que qualquer empresa, não importa se a maior do mundo, teria dificuldade em sobreviver nesse ambiente.

Entretanto, a Suntech e o Sr. Shi têm muita responsabilidade nessa triste história. Há acusações de má gestão, assim como assustadores sinais de impropriedade financeira. O China Daily, publicado oficialmente pelo governo, insinuou que a Suntech se meteu em dificuldades em parte porque "um sócio no negócio falsificou US$ 680 milhões em caução para um empréstimo garantido pela Suntech". A empresa e o Sr. Shi negam qualquer malfeito.

O que é inegável é que a Suntech se expandiu exageradamente, inclusive com instalações caras nos EUA, exatamente no momento em que deveria ter controlado suas ambições. Alguns esperam que ela utilize o processo de sua concordata para se reorganizar e ressurgir em um formato mais enxuto. Entretanto, a recente deposição de Shi de seu alto cargo de direção e a disputa amarga que se desenrola entre todos os envolvidos dificilmente permite confiar em que a empresa veja dias melhores em futuro próximo.

O que vem agora? Se experiência passada servir de exemplo, os líderes chineses podem não permitir que o desastre financeiro da maior empresa da indústria de energia solar do mundo macule as ambições do país de se tornar uma potência em tecnologia limpa. Eles provavelmente também não permitirão que os problemas financeiros dessa empresa gerem agitação e intranquilidade por causa da demissão maciça de trabalhadores. Rumores não confirmados estão circulando, no sentido de que o governo local em Wuxi já está  organizando algum tipo de resgate para a empresa. Uma coisa é certa: mesmo que se organize um pacote para resgate, os investidores estrangeiro vão perder um pacote.

Fabricação de painéis solares na chinesa Suntech - (Foto: AFP).

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