sábado, 16 de fevereiro de 2013

Brasil: capital da mídia social do planeta. Há razão para comemorar?

Quando, no ano passado, membros da família Barbosa fizeram sua péssima versão de um antigo gospel brasileiro [? - sic] em um vídeo caseiro, eles a acharam muito divertida -- divertida o bastante para colocá-la no You Tube. Mas, não esperavam que o resto do Brasil risse junto com eles. Em questão de semanas, no entanto, o vídeo foi visto e compartilhado milhões de vezes no You Tube e no Facebook. Paródias dele, incluindo uma versão animada em que os Simpsons parecem cantar a droga da versão Barbosa, se espalharam pela Internet. [O tal vídeo é uma porcaria requintada -- quem tiver paciência para esse tipo de agressão sonora pode acessá-lo em Para a Nossa Alegria - Familia Barbosa  O número de acessos assinalado no You Tube está muito longe desse monte de gente dito acima, mas no Facebook não tenho ideia.]

A popularidade do desempenho da família Barbosa reflete o crescimento da mídia social no maior país da América Latina. A crescente classe média brasileira está cada vez mais navegando online, e as mídias sociais são particularmente populares por causa da cultura de hipersociabilidade do brasileiro, dizem os executivos dessas mídias.  Isso faz do Brasil um polo de atração para as empresas de mídias sociais, no momento em que buscam crescer fora dos EUA e da Europa. O Brasil tem um apelo especial porque a China, o maior mercado emergente do mundo, atualmente bloqueia sites como You Tube, Facebook e Twitter, impedindo as empresas correspondentes de fazer dinheiro na economia rapidamente crescente do país.

A Facebook.Inc tem cerca de 65 milhões de usuários no Brasil, o que faz do país o segundo maior mercado da empresa depois dos EUA em número de usuários, de acordo com a empresa de análise de mídias sociais Socialbakers. 

No final de 2012, o Brasil era também o maior mercado para a Google.Inc  depois do mercado americano em número de visitantes, e um dos cinco maiores mercados do You Tube em termos de receita. Enquanto isso, a Twitter.Inc diz que o Brasil é um de seus cinco maiores mercados em número de usuários ativos.

As pessoas no Brasil estão passando cada vez mais tempo conectadas a sites de redes sociais. Em termos globais, o tempo médio gasto por usuários no Facebook caiu 2% para a marca de 361 minutos médios por usuário por mês em setembro de 2012, em comparação com o ano anterior, de acordo com uma pesquisa da comScore.  Mas, no Brasil, o tempo no Facebook cresceu 208% para 535 minutos no mesmo período. Quanto ao You Tube, o tempo médio gasto nele por usuário no Brasil cresceu 5% para 140 minutos, mesmo caindo 3% para 161 minutos em termos globais. [Acho essas estatísticas brasileiras muito mais motivo de preocupação do que de celebração, tamanho o nível de futilidade e de perda de tempo nessas redes -- este é o caminho mais curto para a criação de gerações de alienados, incapazes de aprofundar qualquer assunto ou discussão digno de nota. Embora todas essas vias de comunicação tenham um lado extremamente positivo no que se refere à rápida disseminação de notícias e fatos relevantes, é impressionante o tempo nelas gasto com baboseiras! Sem falar na perigosa exposição da vida privada que milhões adoram fazer nessas redes. E este absurdo desapego -- eu diria melhor, desrespeito -- com a própria privacidade gera um perigosíssimo descaso com a privacidade alheia, e facilita tremendamente o acesso indiscriminado e de extensão desconhecida dos Facebooks, Twitters e You Tubes nos dados e nas vidas pessoais de milhões de usuários, com objetivos e usos sobre os quais o controle externo é praticamente nulo.]

No Brasil, "é comum alguém começar a falar com você no elevador ou num restaurante, simplesmente para começar uma conversa", diz Alexandre Hohagen, vice-presidente da divisão da América Latina do Facebook.  Os usuários brasileiros têm um gosto especial por papear sobre shows de TV, esportes e notícias, diz ele. "Acho que nossa cultura ... realmente torna as pessoas muito mais abertas à inclusão de amigos e à conexão com eles".

A ascensão da classe média no Brasil tem ajudado até a projetar para o estrelato internacional alguns fenômenos locais da Internet, incluindo o cantor de música sertaneja Michel Teló. Sua música "Ai se eu te pego, ou "Oh, If I Catch You", sobre o encontro com uma garota bonita numa festa, tornou-se o sucesso número um no iTunes na Europa e na América Latina. Além disso, o vídeo da música no You Tube tornou-se um dos mais populares de todos os tempos, e tem quase seis milhões de fãs no Facebook.  Atletas mundialmente famosos, incluindo o time de basquete do Denver Nuggets (junto com o ex-colega de time, o brasileiro Nenê Hilário) e o astro português do futebol Cristiano Ronaldo são mostrados em vídeos dançando essa música.

"Os brasileiros têm essa paixão por compartilhar notícias e fotos", diz Álvaro Paes de Barros, diretor de parcerias de conteúdo do You Tube para a América Latina. Com a vinda próxima da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos para o Brasil, diz ele, o conteúdo brasileiro está se espalhando para mais longe porque "há muita curiosidade sobre o Brasil".

A Twitter lançou recentemente sua operação em São Paulo, e está contratando aqui pessoal para montar sua própria equipe de vendas, de marketing e de desenvolvimento de negócios, diz Shailesh Rao, vice-presidente para aumento de receita internacional. "O tamanho do mercado tornou importante nossa presença direta", diz ele. Enquanto a empresa cresce rapidamente no México, Argentina, Colômbia e Chile, acrescenta ele, nesses países a empresa opera através de um representante de vendas local.

Os números da comScore mostram que os usuários brasileiros passaram 41% a mais de tempo no Twitter em setembro de 2012 do que em setembro de 2011. Rao comenta que os brasileiros gostam de usar as redes sociais enquanto vêem TV, principalmente durante jogos de futebol e novelas. As empresas de tecnologia dizem que o Brasil representa uma enorme oportunidade, em termos tanto de usuários como de receita. Espera-se que o grosso dos gastos novos com propaganda nos próximos três anos ocorra nos mercados emergentes, principalmente os de China e Brasil, de acordo com a empresa de pesquisas Zenith Optimedia. A Zenith calcula que o Brasil responderá pela parcela de US$ 5,6 bilhões dos US$ 76 bilhões de gastos adicionais em propaganda, uma fatia maior que Índia, Indonésia e Rússia. Espera-se que a China contribua com US$ 12,5 bilhões, mas sites como Facebook e You Tube não se beneficiarão disso porque são bloqueados por filtros instalados na web pelo governo.

A empresa de pesquisas eMarketer Inc diz que os gastos com propaganda online no Brasil dobrarão para US$ 4 bilhões nos próximos quatro anos. Por enquanto, os brasileiros têm mostrado uma vontade inusitada de fazer compras online usando cartões de crédito. As pessoas estão comprando de tudo,  "de um livro a um carro online, o que não é muito comum em outros países", diz Hohagen, do Facebook. Em mercados como a Índia o comércio eletrônico (e-commerce), uma peça chave para acionar a propaganda online, está em um estágio de desenvolvimento mais atrasado.

Enquanto isso, a Seaborn Networks LLC, uma desenvolvedora de redes de telecom baseada em Beverly, Massachussetts (EUA), e a Alcatel-Lucent planejam um projeto de US$ 400 bilhões para instalar o primeiro cabo submarino direto entre Nova Iorque e São Paulo por volta de 2015. Isso permitiria uma conexão de 100 gigabites por segundo para atender a crescente demanda por capacidade de Internet, dados e comunicação de vozl entre a América do Sul e o resto da Europa.

Mas, o Brasil tem igualmente desafios. O mercado de propaganda digital do país está crescendo a partir de uma base pequena, e os marqueteiros brasileiros gastam apenas 10,6% de seus orçamentos de propaganda em anúncios digitais, comparados com os 19,8% do mercado global segundo a eMarketer. O crescimento econômico do país tambem desacelerou, para cerca de 1% em 2012 contra 2,7% em 2011 e 7,5% em 2010. Alta tributação sobre a folha de salários e uma quantidade proibitiva de burocracia são apenas algumas das barreiras enfrentadas por uma empresa estrangeira que tente entrar no mercado brasileiro. Ainda assim, as autoridades prevêem uma recuperação para este ano, os consumidores brasileiros têm estado ávidos por gastar e, com um número crescente de pessoas comprando smartphones e computadores, os sinais apontam para um crescimento continuado em conectividade.






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