segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Academia Média britânica recomenda 10 pontos para combater a obesidade no Reino Unido

220.000 médicos do Reino Unido (RU) estão exigindo um aumento de 20% no preço das bebidas doces, menos pontos de venda de fast food perto de escolas e a proibição nos hospitais de comida que não seja saudável, para evitar que a crescente crise de obesidade no país se torne insolúvel. [Isso se aplica perfeitamente ao Brasil e me parece já ser mais do que tempo do governo se preocupar com o problema -- basta ir a qualquer local de aglomeração de pessoas para observar como é cada vez maior o número de obesos no país. E, em sua esmagadora maioria, elas são jovens.]

A Academia de Colégios Médicos Reais (Academy of Medical Royal Colleges) está demandando por uma ação por parte de ministros, do Serviço Nacional de Saúde (NHS, em inglês), das assembleias legislativas e da indústria de alimentos, assim como uma mudança de comportamento dos pais, para quebrar o ciclo de se ter "geração após geração vitimada por morte e doenças relacionadas com a obesidade".  Num relatório em que expõe o problema em termos fortes, a academia diz que os médicos "estão unidos na visão de que a epidemia de obesidade é o maior problema de saúde pública que atinge o RU. As consequências da obesidade incluem diabete, doenças cardíacas e câncer e, sem sentido, pessoas estão morrendo devido a doenças evitáveis".

A academia condena severamente as tentativas de governos atuais e pregressos de contenção da obesidade como sendo "fragmentadas e desapontadoramente ineficientes" e extremamente inadequadas, dadas as dimensões do problema. Um em cada quatro adultos no RU é obeso, e as cifras são previstas subir para 60% dos homens, 50% das mulheres e 25% das crianças em 2050.

Após um ano de levantamento e análise, a academia organizou um plano de ação de 10 pontos para terminar com a fama de "gordo da Europa" atribuída ao RU [o termo em inglês "the fat man of Europe" traz uma coincidência que pode não ser fortuita: "Fat Man" foi o nome de código da bomba atômica lançada pelos EUA sobre Nagasaki em 9/8/45 -- a obesidade, na escala em que está, não deixa de ser uma bomba poderosa na saúde britânica]. O plano envolve profissionais da saúde indagando rotineiramente os pacientes com sobrepeso sobre seu estilo de vida, e ajuda aos pais novatos nos hábitos alimentares de seus bebês.

O presidente da academia, Prof. Terence Stephenson, disse que o relatório não tem a pretensão de oferecer uma solução total para o problema da obesidade, mas "ele efetivamente diz que precisamos, juntos, fazer mais, começando imediatamente, antes que o problema piore e o NHS não consiga lidar com ele". Estima-se que a obesidade custe ao NHS  ₤ 5,1 bilhões por ano [cerca de R$ 15 bilhões/ano].  O relatório propõe medidas que, afirma, "a sociedade como um todo precisa tomar para evitar que a crise de obesidade não se torne insolúvel". Convocando para uma reversão de hábitos nocivos à saúde de amplo uso, o documento acrescenta: "Exatamente como o desafio de persuadir a sociedade de que o hábito profundamente arraigado de fumar estava contra seus melhores interesses, mudar a maneira como comemos e praticamos exercícios é agora uma questão de necessidade".

A academia quer um aumento dramático nos esforços contra a obesidade. Suas 10 recomendações para acabar com o que ela chama de "ambiente obesogênico" incluem apoio a:
  • Um imposto experimental de 20% sobre os refrigerantes doces, ou adocicados, por pelo menos um ano, como o que vem sendo utilizado em áreas dos EUA, para ver o efeito que produzirá na venda desses produtos.  A receita potencial de ₤ 1 bi [R$ 3 bi] daí decorrente poderia financiar um aumento nos programas de gestão do peso.
  • Conselhos municipais e distritais [como nossas câmaras municipais e organizações comunitárias] na limitação do número de pontos de vendas de fast food autorizados a operar perto de escolas em geral, centros de lazer e outros locais de reunião de crianças, para acabar com o "paradoxo" de termos escolas cujos esforços para que seus alunos tenham merendas saudáveis sejam anulados ou prejudicados pela presença autorizada de vans de hamburgueres do lado de fora de seus portões.
  • Equipes do NHS conversando rotineiramente com pacientes com sobrepeso, em cada consulta, sobre seus hábitos alimentares e de exercícios físicos, oferecendo-lhes ajuda, numa política de "tornar útil cada contato".
  • Um programa de gastos do NHS de pelo menos ₤ 300 milhões [R$ 900 milhões] nos próximos três anos para atacar a séria falta de programas de gestão do peso, de modo que muito mais pacientes com problemas de peso possam ser atendidos e ajudados "de uma maneira solidária e afetiva".
  • Um aumento nas cirurgias bariátricas [para redução do estômago] para casos de obesidade mais severos, a partir do número atual de cerca de 8.000 operações por ano pelo NHS, para ajudar quem estiver com risco maior de morrer.
  • Adoção pelos hospitais, para a comida servida às suas equipes e a pacientes, dos mesmos padrões nutricionais já aplicados nas escolas públicas do RU, e um fim aos pontos de vendas e às máquinas automáticas de produtos nocivos à saúde dentro dos hospitais.
  • Visitas de profissionais de saúde para aconselhar e ajudar pais novatos sobre como alimentar seus filhos adequadamente, de modo a evitar que fiquem viciados em alimentos doces ou gordurosos quando ainda jovens.
  • Impor a todas as escolas a obrigação de servir comida saudável em suas cantinas, incluindo as academias e escolas livres que o secretário de Educação, Michael Gove, liberou das exigências impostas a todas as demais escolas públicas.
O relatório da academia fala da "perplexidade" de se encontrar cantinas de hospitais, que deveriam servir de exemplo, vendendo pratos nada saudáveis e "sendo ainda mais surpreendente que em muitas recepções de hospitais os pacientes e/ou seus acompanhantes passem por franquias ambulantes de fast food ou máquinas automáticas vendendo doces, bebidas e frituras". O documento é contundentemente mordaz em relação a [o secretário de Educação] Gove: "Parece que o mais extraordinário objetivo próprio do governo atual é excluir a onda de academias dos padrões nutricionais".
Stephenson disse ao The Guardian que os 20% de aumento de tributação sobre os refrigerantes doces/adocicados justifica-se porque estes representam "calorias inúteis" e eram "o suprassumo da comida ruim. Você está simplesmente consumindo açúcar puro. Seu corpo não evoluiu para lidar com esse tipo de coisa".

O chef e ativista anti-obesidade Jamie Oliver saudou o relatório como "o mais claro sinal de alerta já emitido de que a classe médica está profundamente preocupada com a obesidade. Precisamos agir agora para educar crianças e famílias sobre como escolher a comida certa para dar-lhes as melhores chances de viver".
A Federação de Alimentos e Bebidas, que representa os fabricantes desses produtos, classificou o relatório como uma "decepção" (damp squib) que "pouco acrescentou a um debate importante". Ela disse que o documento deixou de reconhecer o papel do álcool no acréscimo de calorias à dieta de adultos, e falou pouco sobre atividade física e "saúde no ambiente de trabalho". O porta-voz da federação, Terry Jones, disse: "A Academia apresentou como suas recomendações uma coleção de ideias incoerentes, aparentemente sob forte influência de grupos mono-temáticos".
O Departamento de Saúde disse que estava analisando as conclusões do relatório. "A ameaça que a obesidade apresenta tanto para adultos quanto para crianças é um dos mais importantes desafios de saúde pública de hoje", disse um porta-voz. "Esse relatório abrangente admite, como o fez nosso recente chamado a uma ação contra a obesidade, que não há uma resposta única ao problema da obesidade. Cabe a cada um -- governo, indústria, profissionais de saúde e grupos de voluntários, assim como aos cidadãos -- atuar solidariamente para promover e estimular alimentação e estilos de vida saudáveis".
O Consórcio Varejista Britânico disse que era um erro "demonizar" seus membros, que incluem Burger King, McDonalds e KFC [Kentucky Fried Chicken]. Seu porta-voz Richard Dodd disse que essas cadeias oferecem uma variedade de itens para os consumidores, e reformularam seus produtos para reduzir seus conteúdos de gordura, açúcar e sal. "É um erro demonizar qualquer tipo particular de alimento ou de ponto de venda de alimentos. Nossos membros estão enormemente engajados em encorajar dietas saudavelmente balanceadas e em dar aos consumidores as opções e informações de que necessitam", disse ele. [Me engana que eu gosto ...]. É também de responsabilidade dos pais "estruturar uma atitude saudável e responsável quanto a uma dieta equilibrada em geral".

Gavin Partington, diretor-geral da Associação Britânica de Refrigerantes, disse: "Compartilhamos o reconhecimento de que a obesidade é uma grande prioridade de saúde pública, mas rejeitamos a ideia de que um imposto sobre refrigerantes, que contribuem com apenas 2% das calorias totais em uma dieta média, irá ajudar na solução de um problema que tem a ver com dieta em geral e níveis de atividade [física]. Nos últimos 10 anos, o consumo de refrigerantes contendo açúcar adicionado caiu em 9% enquanto a incidência de obesidade vem aumentando. E, hoje, 61% dos refrigerantes não contêm açúcar adicionado.  As companhias de refrigerantes estão também se comprometendo em tomar uma atitude adicional, voluntária, como parte do apelo do governo por uma redução de calorias".








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