sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"Apaguinhos" se repetem e acendem alerta no setor elétrico

[Para quem, como eu, conhece Dª Dilma desde sua passagem pelo Ministério de Minas e Energia (MME), é fácil imaginar o estado de apoplexia de que a ex-guerrilheira deve estar possuída com os recentes sucessivos "apaguinhos" -- aqui, o diminutivo deve ser uma tentativa ridícula de minimizar o problema e reduzir o estresse da presidente. A vida no MME e no ONS (Operador Nacional do Sistema) deve estar um inferno, com as broncas do Palácio do Planalto. Reproduzo a seguir reportagem da Folha de S. Paulo, só disponível para leitores e assinantes do jornal. O que estiver entre colchete e em itálico é de minha responsabilidade.]

Os sucessivos acidentes em subestações e linhas do sistema elétrico preocupam especialistas. Eles temem que os problemas aumentem com a renovação das concessões pelo governo, que prevê remuneração baixa para as concessionárias. "As empresas só vão receber pelo custo de manutenção e isso pode comprometer a qualidade do serviço", afirmou o professor e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Nivalde de Castro. [A questão aqui é mais complexa, e seguramente o professor sabe disso. O que ocorre é que praticamente todas as usinas hidrelétricas cujas concessões estão por expirar estão com seus investimentos completamente amortizados, assim sendo não há o menor sentido -- a não ser o assalto puro e simples ao bolso do país -- que tais concessões sejam renovadas pelas mesmas tarifas cobradas até então. Resta chegar a um entendimento que atenda a todos, em um tipo de negociação que o setor elétrico está careca de fazer.]

Anteonte, um incêndio em uma subestação de Furnas, no Paraná, interrompeu o fornecimento de energia em parte de 12 Estados. Ontem, uma falha em uma subestação da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) suspendeu o fornecimento de energia em Brasília por duas horas.

"Lamento os transtornos que essas interrupções causam. Passamos por dissabores, mas estamos tomando as medidas necessárias", disse o ministro Edison Lobão.

Para o presidente do ONS, Hermes Chipp, as falhas poderiam ter acontecido em qualquer lugar do mundo. "Chama de apaguinho, fica melhor", disse Chipp, explicando que o termo "apagão" é usado pela presidente Dilma para se referir às panes e ao racionamento de energia ocorridos em 2001, no governo FHC. [Aqui o diretor geral -- e não presidente, como diz o jornal -- do ONS forçou um pouco a barra, seguindo a linha petista de não deixar morrer em hipótese alguma a memória do apagão de 2001 do governo FHC, sem dúvida o pior e maior de nossa história, atingindo 97 milhões de pessoas, segundo a consultora PSR. Estranhamente, Hermes se esqueceu dos blecautes de 2009 e 2011, que atingiram 60 milhões e 53 milhões de pessoas, respectivamente, segundo ainda a consultora PSR -- não há ginástica verbal que consiga chamar esses dois eventos de "apaguinhos"...  Outro detalhe sério de nosso sistema elétrico, que afeta tanto o ONS como a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), é que
a qualidade dos serviços de energia elétrica entregue ao consumidor brasileiro entrou num processo de deterioração de 2008 a 2011. O número de apagões, que após a privatização do setor caiu drasticamente, voltou a piorar em 2008 e ultrapassou a meta estabelecida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2009. Em 2010, a situação continuou piorando. Em três anos, o índice de interrupções do Brasil subiu de 16 horas para cerca de 20 horas.  No Nordeste, o indicador subiu de 18 para 27 horas. A pior situação foi verificada em Sergipe, onde o volume de apagões dobrou, de 22 para 44 horas. A Bahia também teve uma piora significativa: subiu de 14 para 20 horas. Alguns estados apresentaram melhora, como o caso do Maranhão e Piauí. Mas lá os indicadores ainda continuam altos, entre 22 e 44 horas. Na opinião de especialistas do setor, a explicação está na falta de investimento adequado nas redes existentes de distribuição e transmissão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo].

Diferentemente do que aconteceu em 2001, quando faltou energia para ser distribuída, agora houve problemas nos equipamentos. "Só não foi maior porque todas as térmicas do país estão ligadas. Poderia ser igual ao apagão de 2009", disse Adriano Pires, consultor do setor, referindo-se ao blecaute que deixou 18 Estados sem energia também por falha em equipamentos [ver comentário acima sobre esse apagão e o de 2011].

Por conta do baixo nível dos reservatórios  das usinas hidrelétricas, o menor desde 2001, o ONS determinou a operação das térmicas.

Um comentário:

  1. Há várias imposturas nesses eventos e a maioria trata de tapar o sol com a peneira ou mesmo de tentar de se esconder atrás do próprio dedo indicador e quase sempre acusador.
    1) Num primeiro momento, o incêndio era no pára-raios. Posteriormente, anunciou-se que era fogo em transformador secundário e que seria substituído prontamante. Bem... um tranformador secundário NÃO PODE causar tanto estrago, a menos que a coordenação da proteção esteja descoordenada ou negigenciada. O fato de o "fogo ocorrer" já indica atrazo na atuação da proteção. Houve um curto-circuito (muito provavelmente) e que não foi detectado com a presteza esperada.
    2) É bem verdade que um incêndio desse tipo pode acontecer em qualquer lugar do mundo, mas o mundo não tem relatado esse tipo de evento fortuito e indesejado, como alega a malta.
    3) Os casos de "apagões e apaguinhos" seriam isolados, vociferam os (ir)responsáveis. Num sistema interligado, esses eventos não podem ser assim tão isolados, pois que estão ligados entre si. Em bom tempo..., a causa inicial que detona o episódio pode até ser local, mas o que vem após é de competência do bem saber o que fazer.
    4) No passado recente, o ministro Edison Lambão atribuiu a um apagão a "cartela do disjuntor". Ouvi ao vivo na rádio - "Ô garoto.. como se chama mesmo aquilo? ´"Cartela, respondeu o "garoto" meio que intimidado.
    5) Pouco importa se "apagão ou apaguinho ou desligamento seletivo da cargas ou load-shedding (mais elegante)", nesse jogo sórdido de mentiras institucionais ou de desculpas pra lá de esfarrapadas e cretinas. A qualidade do serviço despenca a olhos vistos e o verão vem chegando. Onde terei guardado minhas ventarolas e minhas lanternas?
    Amauri Menezes

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