sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Van Gogh era daltônico, diz cientista japonês

O constante céu azul turquesa, as fortes tonalidades de amarelo e a profundidade torta do traço pós-impressionista de Vincent van Gogh podem ter uma explicação além da genialidade do artista que viveu entre 1853 e 1890. O cientista japonês Kazunori Asada publicou uma tese em seu site oficial em que defende que o holandês sofria de daltonismo e que isso teria impactado em sua obra. Clique na fotogaleria abaixo para ver as pinturas originais de Van Gogh e aquelas alteradas por Asada, para simular a diferença entre as visões de um daltônico e de alguém com olhos sadios .

[Pela descrição do cientista japonês, sua "descoberta" (não comprovada por nenhuma evidência) deu-se por acaso, durante uma apresentação sua no "Color Vision Experience Room" (CVER) no Hokkaido Color Universal Design Organization (HCUDO). O CVER usa iluminação filtrada por um filtro óptico, gerando um espectro de luz modificado. No CVER, quem tem visão normal para cores, as vê do mesmo modo como são vistas por portadores de protanopia (distúrbio de visão das cores caracterizado pela perda do mecanismo sensorial relativo ao vermelho e ao verde, e de seus derivados) ou de deuteranopia (percepção deficiente do verde, que é confundido com uma cor arroxeada). Esses tipos de deficiências para cores significam que certas combinações de cores tornam-se difíceis de serem diferenciadas. 

No CVER havia pinturas de Van Gogh. Sob a luz filtrada, Asada observou que tais pinturas tinham uma aparência diferente das pinturas originais de Van Gogh que sempre tinha visto. Segundo Asada, Van Gogh tinha um jeito um tanto estranho de usar cores. Embora seja rico seu uso das cores, há linhas de cores diferentes que ocorrem concorrentemente, confluentemente, ou um ponto de cor diferente surge de repente. Ele [Asada] havia ouvido conjecturas de que Van Gogh tinha deficiência visual para cores.]


Quadro "Wheat field behind Saint-Paul hospital with a reaper" (Campo de trigo atrás do hospital Saint-Paul com coplheiteiro), de 1889. A imagem superior é do original de Van Gogh, a imagem inferior seria a "real", vista por um não-daltônico segundo Asada.


"The Langlois Bridge at Arles" (A Ponte Laglois em Arles), de 1888. Para Asada, a maneira como a ponte é refletida na água no original (imagem superior) é "surreal" -- na imagem inferior, a visão de um não-daltônico, segundo Asada.


"Starry night" (Noite estrelada), de 1889. A imagem superior é a do original de Van Gogh, a inferior é a não distorcida pelo daltonismo, segundo Asada.


"Flowering garden with path" (Jardim florido, com caminho), de 1888. O original (imagem superior) ganha traços de fotografia, enquanto a imagem inferior é a "corrigida" por Asada, com outra sensação de profundidade.


"Road menders" (Reparadores de estrada), de 1889. No original (imagem superior) as cores das árvores e do solo são um pouco estranhas, as linhas são rudes. Após a "correção" (imagem inferior), as árvores e o solo começam a parecer sólidos e a profundidade é percebida na estrada, diz Asada.
"Sower with Setting Sun after Millet" (Semeador com sol poente à maneira de Millet) - Na parte superior, o original de Van Gogh, na inferior a versão "não daltônica" de Asada.


"Sunflowers" (Girassóis), de 1888. "Flores são mais tangíveis", diz Asada sobre a pintura original (imagem superior), justificando a modificação que fez (imagem inferior), com filtros.


"The Cafe Terrace on the the Place du Forum Arles at Night" (O Café Terraço na Praça do Forum, Arles à noite). Ainda segundo Asada, cada pedra do pavimento se torna mais sólida com a manipulação da pintura (imagem inferior) -- na imagem superior, o original de Van Gogh.


"Sel-portrait" (Autorretrato), de 1889. "A expressão severa de um homem de difícil proximidade", analisa o cientista japonês Kazunori Asada sobre o autorretrato de Van Gogh. O original (imagem superior) apresentaria a coloração alterada pelo daltonismo, "corrigido" na imagem inferior. 


“Apesar de a percepção de cores ser diferente para cada indivíduo, eu penso que possivelmente a visão de Van Gogh também é diferente da maioria das pessoas. Provavelmente, ele encontrou regras de como escolher e usar tintas que fossem adequadas para seus olhos”, escreveu o cientista.

Asada usou um mecanismo de lentes criado por ele mesmo, o “Chromatic Vision Simulator”, para simular a diferença entre a visão do artista e de uma pessoa com visão sadia. Com a alteração, perspectivas aparecem mais convencionais com a realidade da arquitetura. E as cores, consideradas pelo cientista como “estranhas”, se aproximam da paleta que nos rodeia no cotidiano. Ele desconsidera, no entanto, que uma das propostas da corrente impressionista (que começou no século XIX e influenciou diretamente o trabalho de Van Gogh) era desconstruir figuras, objetos e paisagens.

"A pesquisa é notável, não só porque aborda de forma inteligente a questão da diferença de percepção de mundo entre uma pessoa normal e um deficiente visual, mas também se propõe a dar acesso a novas tecnologias a essas pessoas",  explica ao GLOBO Francisco Bandeira, médico oftalmologista, especialista em doenças oculares externas e córnea.  "No caso de Van Gogh, é pouco provável sabermos exatamente o que ele tinha, uma vez que o daltonismo pode se apresentar sob diversas formas e somente realizando testes de cores específico. Mas o fato de ter uma deficiência visual só faz dele ainda melhor, já que mesmo debilitado ele ainda conseguiu se expressar de uma maneira tão pura que até hoje toca o mundo".


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