domingo, 26 de agosto de 2012

Governos erram e nós pagamos a conta

Farei uma lista curtinha -- caso contrário passaria o resto da vida não fazendo outra coisa -- sobre algumas mancadas escancaradas de governos que já doem ou inevitavelmente irão doer em nossos bolsos. Me restringirei aos governos federal e estadual para não me estender.

Trens chineses do metrô carioca

A história desses trens parece piada de português. Ao preço de R$ 320 milhões, o governo do Estado comprou 19 composições para o metrô carioca -- primeira dúvida: ainda não consegui entender a lógica das concessões do nosso governo estadual: nas barcas Rio-Niterói, quem compra as embarcações é o Estado, no metrô carioca, quem compra os trens também é o Estado. Em ambos os casos, os concessionários mamam nas tetas do governo, ficam com o filé mignon, e quem paga a conta são o contribuinte e o usuário.

Voltando aos trens chineses: devem ter sido comprados pela Internet, ou então pelo próprio governador Sérgio Cabral logo em seguida àquele famoso rega-bofe num restaurante 5 estrelas de Paris com o dono da Delta e entourage. Até agora não se sabe quem os especificou. O fato é que os trens que aqui chegaram 1) são mais largos que a via por onde trafegarão, o que obrigou a redução das plataformas e uma inspeção do CREA-RJ a pedido do Globo: "As equipes buscam verificar se as adaptações realizadas nas estações foram feitas de forma adequada. A ideia de fazer a análise surgiu após o Crea receber denúncias de que a concessionária reduziu o tamanho de plataformas e pilastras da linha subterrânea sem levar em conta algumas medidas de segurança". No entanto, há quem diga o contrário: no mês passado, o trem virou polêmica quando sindicato e especialistas denunciaram que a concessionária estaria realizando ajustes em estações e túneis para evitar possíveis colisões laterais das composições que, mais leves que as atuais, poderiam chacoalhar mais. Na época, o MetrôRio rebateu as acusações, alegando que os ajustes foram feitos para adequações a padrões internacionais. -- 2) Os vagões são mais altos que as plataformas, com desníveis de até um palmo!

Na estação Maracanã, o desnível entre o piso do trem e a plataforma chega a um palmo - (Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo).

3) Os trens chineses comportam só 38 pessoas sentadas, contra os 38, 42 e 48 dos trens atuais. O presidente da concessionária afirmou que o novo layout interno dos trens - com bancos dispostos em forma longitudinal, para possibilitar mais passageiros em pé - é um padrão mundial. "Mundial", onde? Isso é mentira: os metrôs de Paris, de Berlim e de Nova Iorque, só para citar três bem mais extensos que o do Rio, não são assim. Aplicaram ao metrô carioca o conceito de transporte de gado, que viaja em pé. -- Alguém por acaso ouviu falar de Agetransp nessa história toda? ...

Trem-bala

Mais um "trem" na nossa vida ... A insistência (leia-se pirraça e teimosia) de Dª Dilma com esse meio de transporte é mais uma prova inequívoca dos riscos do nosso presidencialismo, quando ocupado por alguém teimoso, autoritário e surdo ao bom-senso. O custo desse brinquedinho da ex-guerrilheira -- fruto, talvez, de sua infância perdida e/ou carente -- está estimado pelo governo na bagatela de R$ 30 bilhões, mas especialistas acham que pode chegar ao dobro, R$ 60 bi.

Essa é mais uma das inúmeras decisões monocráticas da nossa ex-guerrilheira, movida não apenas pela psicose do "quem manda sou eu, PT saudações", como também pelo complexo de inferioridade reverso de querer ter o primeiro trem a 300 km/h das Américas.  O abuso de autoridade de Dª Dilma não parou aí, ela criou uma empresa estatal -- a Etav -- só p'ra cuidar da sua geringonça!

Enquanto isso, a China fez um inédito recall de 54 trens-bala após um trágico acidente com um trem desse tipo, que matou 40 pessoas e provocou fúria na população.  E em dezembro de 2011 o Congresso americano sepultou, em horizonte visível, o projeto do trem-bala americano por razões que nos soam extremamente familiares: prioridade injustificável, estimativas inchadas e irreais em termos de número de usuários e de retorno de investimento, e rotas definidas por critérios políticos e não técnicos.

Não sei não, mas sou capaz de jurar que em algum aposento íntimo nossa ex-guerrilheira deve passar horas divertindo-se com um trenzinho elétrico.


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