sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Entre acepipes e drinques, ministro do STF, Procurador-Geral e advogados do mensalão se confraternizam

[Não sou dos que acham que o mundo deve parar por causa do julgamento do mensalão, mas um pouco de contenção e austeridade deve necessariamente fazer parte das regras de conduta de ministros do Supremo Tribunal Federal e do Procurador-Geral da República, principalmente em meio a um julgamento importante, complexo e conturbado como o do mensalão. Se ainda não têm, já é tempo de os ministros togados da nossa Suprema Corte terem a consciência exata de que, além dos réus arrolados nos autos, eles e o tribunal que compõem também estão sob julgamento. A notícia abaixo, da Folha de S. Paulo de hoje, deixa seríssimas dúvidas sobre isso e sobre os conceitos de comportamento ético dessas figuras, nem todas decididamente "ilustres". Não tenho a mínima vocação para falso moralista, mas também não acredito em Papai Noel. É-me impossível crer que, com o julgamento em andamento e às vésperas do voto de Lewandowski sobre João Paulo Cunha (a festinha da notícia terminou na madrugada de ontem), esses senhores só tenham conversado sobre abobrinhas, entre um drinque e outro. 

Como não podia deixar de ser, novamente debaixo dos refletores -- seu lugar predileto -- está o ministro Marco Aurélio Mello, o ego falante do STF, o porta-voz de si mesmo, aquele que não tem o mínimo prurido em analisar para a mídia assuntos ainda em julgamento no STF e em emitir comentários dificilmente elegantes sobre seus pares, especialmente quanto a Joaquim Barbosa.]

"Precisa de proteção?", perguntou o advogado Cláudio Fruet ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Não foi necessário. A apenas 5,4 km do STF (Supremo Tribunal Federal), Gurgel, o ministro Marco Aurélio Mello e advogados dos réus do mensalão confraternizaram numa festa que invadiu a madrugada de ontem.  Algoz dos réus, Gurgel celebrou com os advogados o 80º aniversário de José Gerardo Grossi no salão de um hotel, em Brasília.

"Elegantíssimos, gentilíssimos", repetiu Gurgel ao cumprimentar Arnaldo Malheiros e Alberto Toron, defensores de Delúbio Soares e João Paulo Cunha, respectivamente. 

O advogado Arnaldo Malheiros (defensor de Delúbio Soares) com o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, e o advogado Alberto Toron (defensor de João Paulo Cunha) - (Foto: Sérgio Lima/Folhapress).

No jantar, a aposta generalizada era pela absolvição de João Paulo, o que ocorreu [ao que se sabe, quem inocentou o deputado petista até agora foi apenas o ministro Ricardo Lewandowski]

Um dos primeiros a chegar, Gurgel recebeu, ao lado da mulher, a subprocuradora Cláudia Sampaio, o advogado Márcio Thomaz Bastos com caloroso abraço. "O embate acontece lá. Aqui, é confraternização", justificou Gurgel.  Apesar do afago, assentiu quando desejavam força para "limpar o Brasil". E concordou com uma senhora que chamou os réus de "ladrões". "Ladrões", endossou. 

Ao lado de Gurgel, o antecessor Antonio Fernando Souza não exibia tanta desenvoltura. Autor da denúncia e alvo dos advogados, atacou: "Eles também diziam que não havia dinheiro público. E já há dois votos a favor". 

Cercado de advogados, Marco Aurélio brincou com Toron, ausente de Brasília quando Joaquim Barbosa pediu a condenação de seu cliente: "Vou cortar seu ponto", disse. Ao ex-ministro Sepúlveda Pertence falou do gênio de Barbosa. Descreveu-lhe a sessão em que ele acusou Ricardo Lewandowski de deslealdade. Lembrando que foi repreendido por Sepúlveda após um arroubo, opinou: "Aquilo ali é meio de vida. Não de morte". 

Evanise Santos representou o namorado, o ex-ministro José Dirceu --que, de Vinhedo (SP), telefonou para parabenizar o aniversariante [pelo jeito, nesse jantar só faltou a presença ao vivo e em cores dos próprios réus do mensalão, pois seus prepostos estavam todos lá].

O jantar terminou com um show de gaita. No repertório, o tema de "O Poderoso Chefão".

Advogados dos réus do mensalão conversam no plenário do STF depois do voto do ministro Lewandowski ontem -- por que tanta alegria?... - (Foto: Alan Marques/Folhapress).

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