terça-feira, 21 de agosto de 2012

Belo Monte: vai ou racha?

Se prevalecer a pressão de indigenistas e ambientalistas e Belo Monte tiver suas obras interrompidas indefinidamente, e a usina inviabilizada, estaremos assistindo ao início do fim da matriz energética mais limpa do mundo. Não conheço pessoalmente muitos ambientalistas, mas os poucos que conheço são todos profissionais liberais -- quando se fala em defender o meio ambiente, estão sempre dispostos a carregar faixas e pichar paredes. Todos, invariavelmente, adoram os prazeres da vida moderna: geladeira, TV (HD, se der pé), se bobear um home theaterzinho e outros que tais -- todos (ou pelo menos a grossa maioria) fingem não saber como é gerada a energia elétrica que alimenta essa parafernália e torna suas vidas muitíssimo mais agradáveis.  Criticam as usinas hidroelétricas, quer sejam de reservatório de acumulação ou a fio d'água, mais por modismo que por outra razão. Fazem vista grossa  à maior inserção de usinas térmicas na nossa matriz energética que isso acarreta, e fazem a defesa de fontes alternativas -- principalmente eólica e solar -- sem saber exatamente do que estão falando.

Não morro de amores por Belo Monte, e já escrevi sobre isso, mas trocá-la simplesmente por usinas térmicas é uma emenda muitíssimo pior que o soneto. Não renego a priori as usinas térmicas, indispensáveis para a complementação de um sistema que depende da Mãe Natureza num clima cada vez mais maluco, mas deixar intacto nosso enorme potencial hídrico ainda inexplorado é simplesmente burrice e suicídio, não há índio e meio ambiente que justifique isso.

O problema crucial de Belo Monte são os índios -- um grupo reduzido --  que serão afetados por ela. Acho que, sinceramente, os índios são hoje um problema sério para o país, e isso só tende a agravar-se. Para variar, também no caso dos índios pecamos pelo exagero. Temos reservado aos índios áreas territoriais absurda e injustificadamente grandes -- várias delas maiores que países europeus, por exemplo -- o que, além de ser uma aberração, nos tem gerado problemas diversos e no futuro podem nos gerar até problemas de segurança nacional (principalmente com nossa mania de falarmos em "nações" indígenas).  Entupimos os índios de terras e geralmente os tratamos como cidadãos de segunda categoria, deixando-os à mercê de doenças e da bebida e tornando-os incapacitados de gerir o que têm. Apesar de, juridicamente, tutelado da União, na prática o índio brasileiro vive ao deus-dará -- é um "latifundiário" completamente dependente para tomar conta do que tem. Terras imensas e ricas em tudo -- água, madeira, minérios --, nas mãos desse tipo de "proprietário" são um prato feito para todo tipo de problemas (e ONG é que não falta p'ra isso ...). E as usinas hidroelétricas em "suas" terras são apenas uma das pontas do iceberg.

Por falar em indigenistas e ambientalistas, nada ilustra melhor a histeria coletiva que ambos os temas provocam na opinião pública (com a imprensa sensacionalista a reboque) do que a famosa história da Physalaemus soaresi. Este nome pomposo refere-se a uma perereca de apenas 2 cm de comprimento, considerada rara, descoberta em setembro de 2009 em Seropédica, em pleno traçado do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. Pois bem, por causa desse minúsculo anfíbio a obra (que é do PAC) foi paralizada, e se construiu um viaduto de R$ 18 milhões para preservar o habitat do bichinho ...  Um país que se presta a uma insanidade desse tipo não pode, realmente, ser considerado sério.

Voltando ao imbróglio de Belo Monte, a coisa azedou quando na semana passada a Justiça federal determinou que as obras da usina fossem interrompidas -- sob pena de multa diária de R$ 500 mil -- até que os índios sejam ouvidos e seus problemas resolvidos. Não há bola de cristal que consiga determinar quando esse nó será desatado. Há muita gente -- ONGs, verdes e, talvez, até os índios (que são massa de manobra dessa gente) -- comemorando (não sei bem o quê), mas se alguém lhes perguntar como repor os 4.500 MW de Belo Monte, vai certamente ter gente falando em baboseira de energia solar e eólica. Já me convenci de que o apelido de "verdes" dado aos ambientalistas refere-se, na verdade, à sua imaturidade. Recomendo-lhes a leitura de postagem anterior, que diz que a desaceleração da economia poupou o Brasil de um novo apagão.

A ironia dessa decisão da nossa justiça é que ela é exatamente idêntica à feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA há um ano atrás, contra a qual o governo Dilma reagiu com "indignação" e, em represália, nossa ex-guerrilheira mandou suspender a contribuição financeira do Brasil para a OEA. Depois desse chilique todo, passou-se um ano, o governo e a empreiteira fingiram-se de mortos, tentaram criar um clima de fato consumado e agora, com a determinação da nossa justiça, em vez de uma perereca vão ter que engolir um senhor sapo.


Um comentário:

  1. Amigo VASCO:
    Sua análise é brilhante, sendo pouco posível que se possa acrescentar algo que contribua para o aclaramento do problema.
    Mas, sem dúvidas, o grande problema está, em minha opinião, na excessiva "proteção" dada às ditas nações indigenas.
    Sinceramente, não me lembro da existência de NENHUMA tribo que ainda mantenha seus costumes e rituais característicos. TODOS estão, vamos dizer, "aculturados", vivendo com as benesses de uma civilização tecnológica que lhes traz conforto, higiene, lazer, etc.
    Entretanto, como os chamados QUILOMBOLAS, têm direito à terras, tratamento diferenciado, etc., que lhes permitem manter o "status quo" de classes privilegiadas em um mundo cada vez mais globalizado.
    Preservar a CULTURA INDIGENA é louvável. Mas, onde ela se encontra, próxima ao seu estado original, no Brasil de hoje?

    Abraços - LEVY

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