sábado, 11 de agosto de 2012

A interminável polêmica sobre o exame de próstata para diagnóstico de câncer

[O câncer de próstata surge em cerca de 10% dos homens com 50 anos, 30% daqueles com 70 anos e 100% dos que chegarem aos 100 anos de idade.  O câncer da próstata é encontrado em um número elevado de indivíduos, sem lhes causar qualquer mal. Por exemplo, o estudo da próstata em necrópsias de homens com idade entre 61 e 70 anos que faleceram sem doença prostática aparente revela focos do tumor em 24% deles. Contudo, apenas 11% deles apresentam, em vida, manifestações clínicas relacionadas com o câncer.  Em outras palavras, 13% dos tumores nesse grupo etário têm um caráter indolente, não chegam a se manifestar em vida e os seus portadores morrem por outros motivos, com o câncer, mas não pelo câncer. 

O problema é que é cada vez maior a polêmica sobre a necessidade, validade e/ou conveniência de se fazer rotineiramente o exame de PSA (a sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico) nos moldes atuais para diagnóstico de câncer de próstata, e quem fica desnorteado, perdido e preocupado é o homem comum que, a partir dos 50, fica sob o risco dessa terrível e traiçoeira doença. O prestigioso jornal inglês The Independent publica um artigo hoje que se soma à corrente que é  contrária às práticas atuais do exame para diagnóstico do câncer de próstata. Traduzo a seguir seu texto.]

A maneira de reduzir os índices de câncer de próstata? Menos diagnósticos.

Jeremy Laurance (The Independent - 10/8/2012)

Um especialista internacional em câncer criou uma maneira de reduzir o peso e o impacto de uma das doenças malignas que mais crescem no Reino Unido (RU): diagnosticá-la menos. Chris Parker, uma autoridade mundial em câncer de próstata no Royal Marsden Hospital de Londres, diz que o diagnóstico é mais prejudicial do que benéfico para muitos homens. Os casos de câncer de próstata triplicaram desde os anos 1970, e a atual cifra de 40.000 casos diagnosticados no RU poderia ser reduzida em mais de 10.000, diz o Dr. Parker.

Avanços na compreensão da doença durante a década passada capacitaram os médicos a distinguir os homens de alto risco, de doença agressiva, que necessitam de tratamento, daqueles de baixo risco, de doença de avanço lento, que não necessitam de tratamento. Homens de baixo risco têm mais probabilidade de morrer com o câncer, vitimados por outro causa do que pelo câncer -- mas, isso significa que não têm benefício algum em serem diagnosticados e sofrerem danos porque viverão o resto de suas vidas assombrados pelo câncer.

Em artigo no British Medical Journal, Dr. Parker diz: "O atendimento padrão para câncer de próstata de baixo risco deve ser o de "espera vigilante" (watchful waiting) [monitoramento assíduo (regular monitoring)], que levanta uma questão importante: se câncer de próstata de baixo risco não requer tratamento, há então alguma necessidade de que seja diagnosticado? No futuro, precisamos focar em evitar não apenas o tratamento, mas também o diagnóstico de doença de baixo risco".

Dr. Parker, oncologista clínico consultor na Unidade Acadêmica de Urologia no Royal Marsden [Hospital] e no Instituto de Pesquisa de Câncer, estava comentando os resultados da maior avaliação feita no mundo sobre cirurgia de câncer de próstata, divulgada pelo The Independent em abril e publicada no mês passado no New England Journal of Medicine. Ela mostrou que era inútil a cirurgia para câncer de próstata de risco baixo para médio.

Pacientes analisados na avaliação "Intervenção na Próstata x Observação" [PIVOT, em inglês - Prostate Intervention versus Observation Trial] que haviam sido submetidos à operação padrão para remoção da próstata, chamada de prostatectomia radical, não sobreviveram mais tempo do que aqueles que não tiveram tratamento.

No RU, 6 em 10 homens diagnosticados com câncer de próstata de baixo risco tiveram tratamento imediato, de acordo com a Associação Britânica de Cirurgiões Urologistas. "Assim, a prática corrente de tratar doença de baixo risco com prostatectomia radical está em desacordo com a melhor evidência disponível fornecida pelo Pivot: a cirurgia para câncer de próstata de baixo risco não é eficaz [no sentido de não produzir os resultados que dela se espera]", escreve o Dr. Parker.

Isso deixa pendente a questão de como os homens devem ser diagnosticados. Dr. Parker disse que o exame de sangue para PSA pode ainda ser usado para avaliação de câncer em homens com sintomas, mas outros fatores devem ser levados em conta e exames mais sofisticados devem ser usados. Os sintomas de câncer de próstata incluem dificuldade para urinar, urinar mais do que o normal (especialmente à noite), dificuldade para iniciar a micção ou manter o jato de urina, ou jato fraco.  [Dúvida: há a possibilidade de que esses sintomas apareçam depois que o câncer esteja avançado?]


"Queremos evitar a dependência apenas do exame de PSA e partir para um cálculo de risco que inclua PSA e idade, histórico familiar, tamanho da próstata e outros parâmetros. Queremos também encontrar métodos novos e melhores de estimativa de risco, tais como varredura por ressonância magnética [MRI - Magnetic Resonance Imaging], do mesmo modo como a mamografia é usada para exame da mama", disse Dr. Parker. "Se isso se mostrar exitoso, essa abordagem pode reduzir em mais de 10.000 casos a incidência anual de câncer de próstata, poupando tempo, custos e a angústia emocional associada com a decisão sobre como tratar doença de baixo risco".

O Prof. Mark Emberton, oncologista consultor e especialista em urologia no University College Hospital, em Londres, disse que varreduras via MRI devem ser utilizadas para o diagnóstico de câncer de próstata.


O oncologista Dr. Chris Parker, referência da reportagem do The Independent -- (Foto: The Royal Marsden Hospital).

[Recentemente, recebi de um amigo um artigo sobre uma técnica dita pioneira para redução do aumento benigno da próstata (HBP - hiperplasia benigna da Próstata) sem recorrer à cirurgia, praticada por um cirurgião de Portugal, Dr. João Martins Pisco.  Repasso isso em caráter meramente informativo, sem condição nenhuma de confirmar a validade e o índice de sucesso desse tratamento.]




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