domingo, 15 de julho de 2012

O bizarro Mitt Romney

Por mais que associações de amigos tipo OEA e Unasul, ou indivíduos como Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata (NPA), Hugo Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, e até mesmo a nossa ex-guerrilheira Dilma queiram fazer pouco e/ou "provocar" ou "irritar" os Estados Unidos, é indispensável admitir que instituições e cidadãos mais sensatos reconhecem a importância incontestável dos EUA no mundo. E, queiram aqueles ou não, fazemos parte desse mundo e com uma vizinhança física do gigante do norte que reforça a importância estratégica desse relacionamento, sob qualquer ponto de vista, sempre que mantido o respeito mútuo.

Nesse contexto, não podemos ficar inteiramente alheios às eleições americanas em novembro próximo, principalmente quando um dos candidatos se chama Willard Mitt Romney.  Se Obama tem defeitos e problemas, e certamente os mostrou em seu governo, comparado com Romney ele é um poço de virtudes.

O ex-governador de Massachusetts é uma figura no mínimo bizarra, no comportamento e nas ideias. P'ra começar, ele é mórmon, o que considero extrapolar a liberdade de religião, que me perdoem os que pensam o contrário. Sua biografia, não fosse ele americano, daria para jurar que é um roteiro  com recortes de Jerry Lewis, os Três Patetas, Casseta e Planeta, Silvio Santos, Gugu Liberato, propaganda política na nossa TV, Hora do Brasil, e por aí vai. A jornalista Dorrit Harazim faz um bom perfil dele hoje no Globo, com seu artigo "O esquisitão".

Ela conta, por exemplo, a fantástica história -- que deve ter provocado úlceras no pessoal da Sociedade Protetora dos Animais -- da viagem de 12 horas em 1983  de Romney com seu cão de estimação (imaginem se não fosse ...) Seamus em cima do carro, dentro de um recipiente com para-brisa. A história que Dorrit conta da celebração do feriado de 4 de julho que Romney fez com a família em seu sítio Wolfeboro, New Hampshire, desopila até fígado com cirrose irremediável. Ela cita o livro "The Rude Guide to Mitt" ("O guia rude de Mitt", em tradução literal), de Alex Paleene, que, pelo que ela diz, deve ser uma ótima leitura enquanto a TV estiver desligada na nossa propaganda eleitoral.

Outro perfil cáustico, porém mais preocupante, de Romney é traçado pelo economista Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008, em sua coluna "Quem é importante?" de ontem no jornal Folha de S. Paulo. Krugman diz: "A base política de Mitt Romney é formada por pessoas que se acham muito importantes. Especificamente, estamos falando de pessoas que acreditam ser, como declarou outro doador de verbas para Romney, "o motor da economia": elas deveriam ser celebradas, e os impostos que pagam, já os mais baixos em 80 anos, deveriam ser reduzidos ainda mais".

Krugman continua: "Evitar pagar impostos, usando métodos legais, é uma atitude muito americana", declarou o senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul. "E existe uma boa chance de que os republicanos capturem tanto a Casa Branca quanto o Congresso", acrescenta Krugman. "Se isso acontecer, teremos uma virada radical na direção de políticas econômicas cuja proposta básica é a de que devemos ser muito solícitos para com os muito ricos. Por isso é importante que compreendamos por que essas políticas não funcionam. A primeira coisa que é preciso saber é que os Estados Unidos nem sempre foram assim. Quando John Kennedy foi eleito presidente, em 1960, a riqueza do 0,01% dos norte-americanos mais endinheirados era equivalente a um quarto do valor atual, na comparação com uma família média -- e os muito ricos pagavam impostos muito mais elevados do que pagam hoje".

Sigo com Krugman: "E ainda assim conseguíamos ter uma economia dinâmica e inovadora que causava inveja ao mundo. Os muito ricos podem imaginar que é sua riqueza a Terra girar, mas a história afirma o oposto. A essa observação histórica devemos acrescentar outra nota: diversos dos muito ricos atuais, entre os quais Romney, ganharam ou ganham seu dinheiro no setor financeiro, comprando e vendendo ativos em lugar de criar empresas no sentido tradicional. De fato, a disparada na riqueza dos mais endinheirados com relação à média nacional aconteceu no mesmo período em que Wall Street passava por crescimento explosivo.

Será que lembrei de mencionar que os banqueiros resgatados agora apoiam Romney por maioria esmagadora, já que ele promete reverter as modestas reformas financeiras introduzidas depois da crise? É claro que muitos, provavelmente a maioria, dos ricos fazem contribuição positiva para a economia. E recebem generosas recompensas monetárias por isso. No entanto, rendas anuais de US$ 20 milhões ou mais não bastam.

Eles também querem ser reverenciados e receber tratamento especial na forma de impostos baixos. E isso é algo que não merecem. Afinal, a "pessoa comum" também contribui com a economia. Por que conferir benefícios aos ricos?  Não devemos considerá-los mais importantes que os demais trabalhadores norte-americanos".

 O cachorro Seamus, de Mitt Romney - (Foto: Wikipedia).

Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia em 2008 - (Foto: Wikipedia).

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