sábado, 14 de julho de 2012

No Brasil, até a Polícia Federal dá pitaco em poluição ambiental

O Brasil vem se transformando, às vezes p'ra melhor, outras vezes -- mais do que o suportável -- p'ra pior. Já fomos "apenas" o país em que todo mundo entende e é técnico de futebol. Agora, o país começa a ficar dividido entre os "ecochatos" e os doutores em meio ambiente e poluição ambiental -- a mais recente surfista dessa onda é a Polícia Federal (PF), que nesta semana resolveu demonstrar uma insuspeita e, até então, recôndita competência em poluição ambiental. Antes de chegar ao show inesperado da PF, vamos recapitular os fatos.

Em novembro passado, a petroleira americana Chevron assumiu inteira responsabilidade pelo vazamento de óleo em suas atividades de perfuração na Bacia de Campos.  Em dezembro de 2011, a ANP - Agência Nacional do Petróleo aplicou uma terceira multa à Chevron por conta desse vazamento e da poluição por ele gerada, e em março de 2012, após um novo vazamento, a própria Chevron pediu a suspensão de suas atividades no país.

Pois bem, depois desse imbróglio todo, eis que de repente, não mais que de repente, surge nossa Polícia Federal que, através de seu Instituto de Criminalística, contraria e surpreende até a própria Chevron e afirma categoricamente que "o vazamento de petróleo da Chevron ocorrido em novembro do ano passado no campo de Frade, na Bacia de Campos, não matou nem afetou a saúde da vida marinha".  [Ou seja, para esse Instituto e para a PF qualquer coisa menor que 5 cm não existe, é ficção científica, microorganismos então, nem pensar ou falar ...]

O laudo, de 26 de abril, concluiu que hão há registro sobre a ocorrência de espécime de ave marinha morta ou com condição de saúde desfavorável, decorrente do vazamento de petróleo. Procurada pela reportagem, a Polícia Federal não quis comentar. O delegado Fábio Scliar, responsável pelo inquérito, está impedido de falar sobre o caso.
 O procurador do Ministério Público Federal de Campos Eduardo Santos Oliveira disse desconhecer o laudo, mas destacou que o documento não invalida outros laudos de órgãos ambientais, que confirmam danos:

— É uma farsa. É um laudo inconclusivo. Dano ambiental não precisa ter peixe morto. Não ter sinal de homicídio não quer dizer que não haja crime.

Depois de tanta "categoria", corremos o sério -- e talvez benéfico -- risco da nossa PF esvaziar-se completamente, com a fuga de seus "cérebros" especialistas ambientais para a Chevron, para a BP (a do vazamento no Golfo do México) e até mesmo para a bizarra ANP. A menos que alguma ave desgarrada e irresponsável, egressa misteriosamente da Bacia de Campos, resolva registrar um BO (Boletim de Ocorrência) na PF declarando-se vítima da Chevron naquele famigerado vazamento de óleo, a fauna marinha daquela bacia está ferrada.

A perda  de Chico Anísio e Millôr Fernandes revela-se, cada vez mais, pior do que se podia imaginar. Foram-se os autênticos e bons humoristas, e no palco do patropi começam a pulular uns bufões de quinta categoria, travestidos -- o que é pior -- de autoridades, opinando sem qualquer pejo sobre algo de que não entendem (nem carecem entender) e expondo o país ao ridículo. Com tanto macaco no mesmo galho ambiental, o resultado caminha para um final tragicômico, de que a trapalhada da Polícia Federal é um péssimo exemplo.

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