domingo, 10 de junho de 2012

Israel instala mísseis nucleares em submarinos importados da Alemanha (VI)

[Ver postagem anterior.]

Parte VI

O acordo para o submarino número seis

Em agosto de 2009, Netanyahu, que havia sido recentemente reeleito para o cargo de primeiro-ministro como líder do partido conservador Likud ["união", em hebraico], foi a Berlim. Ele explicou a Merkel como os submarinos eram importantes para Israel; que para qualquer lado que um israelense olhe, norte, sul ou leste, não há região interior em terra para se operar estrategicamente, e apenas o espaço aéreo e o mar servem como zonas de proteção. "Necessitamos desse sexto barco", disse Netanyahu a Merkel segundo participantes da visita israelense, acrescentando o pedido para que a Alemanha doasse esse submarino, como havia feito com os outros [é impressionante!].

A resposta de Merkel incluiu, em troca, três pedidos específicos. Primeiro, Israel deveria interromper sua política de expansão de assentamentos, e segundo, o governo [israelense] deveria liberar ativos fiscais pertencentes à Autoridade Nacional Palestina que havia congelado.  Terceiro, Israel tem que permitir a continuação da construção de uma estação de tratamento de esgoto na Faixa de Gaza, financiada pela Alemanha. O fator crítico, acrescentou a chanceler, era [agir com] uma discrição absoluta. Se os detalhes vazassem, o acordo estaria encerrado, porque a resistência do Bundestag seria muito forte para ser superada. Os dois líderes concordaram em que o diplomata alemão Christoph Heusgen e o assessor de Netanyahu para segurança, Uzi Arad, elaborassem os detalhes do acordo.

Arad é conhecido como uma pessoa impulsiva e irritadiça, que não tem dificuldade em atacar os alemães verbalmente.  Quando Merkel criticou a política de assentamentos de Israel em um discurso no Bundestag em julho de 2009, Arad ligou para a Chancelaria e despejou em Heusgen uma saraivada de reclamações iradas. Arad encerrou a ligação com a exigência de que Merkel deveria não apenas se desculpar, mas também se retratar por suas declarações [sujeitinho abusado e malcriado ...].

Pedindo ajuda

O fato de que Arad era suposto liderar as negociações retardou novamente as conversações sobre o sexto submarino. Finalmente, Netanyahu pediu a Yoram Ben-Zeev, embaixador de Israel na Alemanha, que ajudasse nos entendimentos. Ben Zeev retornou a Israel quando terminou seu prazo como embaixador, em 28 de novembro de 2011. Ele estava em sua em Tzahala, um subúrbio de Tel Aviv, quando foi chamado por telefone por Jaakov Amidror, o novo assessor de segurança de Netanyahu. "Netanyahu tem mais um pedido", disse ele. "A Alemanha está pronta para assinar o acordo do submarino. Você precisar pegar o próximo voo para Berlim".

No final das contas, Ben-Zeev e Heusgen acertaram por telefone os detalhes finais e o contrato foi assinado em 20 de março de 2012, na residência do embaixador israelense em Berlim. O ministro da Defesa israelense Barak voou especialmente para o evento e Rüdiger Wolf, um secretário-executivo do ministério da Defesa alemão, assinou em nome do governo alemão. Como o governo israelense tinha novamente problemas financeiros, a Alemanhas fez novas concessões, concordando em pagar € 135 milhões (US$ 170 milhões), um terço do custo do submarino, e permitiu que Israel adiasse o pagamento de sua parte até 2015. Neanyahu manifestou respeitosamente seus agradecimentos em uma carta escrita à mão.

Ainda assim, é grande o desapontamento dentro da Chancelaria, já que Netanyahu simplesmente ignorou os pedidos de Merkel. A política de assentamentos de Israel continua a mesma, e não houve nenhum progresso quanto à estação de tratamento de esgoto. O governo israelense apenas liberou o dinheiro de impostos dos palestinos. Merkel aparentemente concluiu que não há sentido em dizer nada adicional a Netanyahu, já que nada garante que vá ouví-la.

Oportunidade perdida

Mas, o governo deveria tomar isso como uma razão para interromper a construção do submarino? Isso mandaria a Israel um sinal de que o apoio alemão apoia-se em certas condições -- mas, mostraria também menos solidariedade, e isto é algo que Merkel não quer. A chanceler perdeu uma oportunidade de usar uma das poucas fontes de que o governo alemão dispõe para exercer influência sobre o governo israelense, que se comporta como uma potência de ocupação em território palestino. O quarto submarino, chamado Tannin, foi lançado ao mar inicialmente no início de maio e sua entrega está prevista para o início de 2013. O submarino número 5 será entregue em 2015, e o número 6 em 2017.

Esses últimos submarinos são particularmente importantes para Israel, porque serão equipados com uma revolução tecnológica: propulsão por célula combustível [fuel cell propulsion  - ver Fuel Cell Propulsion of Submarines
-- ver também "Como funciona a célula a combustível"], que permite que o navio funcione ainda mais silenciosamente e por períodos de tempo mais longos. Os primeiros submarinos da classe Dolphin tinham que vir à tona a cada dois dias para dar partida no motor a diesel, para carregar suas baterias para deslocamento submerso contínuo.  O novo sistema de propulsão, que não requer essas paradas, amplia em muito as possibilidades de uso dos submarinos. Isso lhes permitirá deslocar-se submersos por um período de tempo pelo menos quatro vezes mais longo que o dos Dolphins anteriores, com as células combustíveis possibilitando-lhes permanecer submersos pelo menos 18 dias de uma vez.  O Golfo Persa, ao largo da costa do Irã, não está mais fora do alcance da frota israelense, tudo graças à qualidade da engenharia da Alemanha.

[...] O submarino Tekumah pode deslocar-se dentro d'água a velocidades de 20 nós [ca. 37 km/h] ou mais, um predador suave e poderoso. Mas, a habilidade de fato ocorre nas operações a baixa velocidade executadas próximo à costa inimiga, em locais em que a marinha israelense opera secretamente e nos quais  o Tekumah e os outros submarinos têm de se aproximar dos alvos com grande cuidado.

"Tudo é possível"

[...] O oficial do Tekumah disse que acompanhou a polêmica sobre o poema de Günter Grass e se surpreendeu com a intensidade do debate. Sua própria família veio originalmente da Alemanha -- seus avós conseguiram escapar antes do Holocausto, deixando seu subúrbio em Munique em 1934 e mais tarde tornando-se parte da geração que fundou Israel. "Jamais podemos esquecer o passado", diz ele, "mas podemos fazer tudo o que for possível para evitar um novo Holocausto".

[...] Em Israel, Berlim e Kiel já se fala que em breve Israel quererá encomendar seus submarinos 7, 8 e 9.

(Autores da reportagem: Ronen Bergman, Erich Follath, Einat Keinan, Otfried Nassauer, Jörg Schmitt, Holger Stark, Thomas Wiegold e Klaus Wiegrefe. Traduzido para o inglês por Christopher Sultan.) -- Clique nas imagens abaixo para ampliá-las.


Submarinos da classe Dolphin - (Gráfico publicado em Spiegel Online).

Poder de dissuasão de Israel ("Para que o poder de dissuasão de Israel tenha credibilidade, os submarinos israelenses têm que ser capazes de atacar alvos vitais do Irã. A partir do Golfo Pérsico, um alcance de 800 km seria suficiente. Da costa do Mediterrâneo, entretanto, os mísseis israelenses teriam que ser capazes de voar o dobro dessa distância") - (Gráfico: Spiegel Online).

Um submarino israelense da classe Dolphin, no Mediterrâneo, ao lago da costa em Tel Aviv.  Os submarinos de Israel são ultramodernos, com um alcance de cruzeiro de 4.500 milhas náuticas (8.334 km). A Alemanha já forneceu três desses submarinos e Israel encomendou três mais - (Foto: AFP).

Marinheiros israelenses em um submarino da classe Dolphin, no porto de Haifa. A chanceler alemã Angela Merkel fez consideráveis concessões aos israelenses para o fornecimento do sexto submarino - (Foto: Reuters).

Submarinos da classe Dolphin são construídos nos estaleiros alemães em Kiel. O fato de que Israel equipa esses barcos com mísseis dotados de ogivas nucleares era segredo até agora. Israel encomendou três mais desses submarinos - (Foto: dapd).

O primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin e o chanceler alemão Helmut Kohl em 1995. Os dois fizeram grandes avanços na modernização
da frota de submarinos de Israel - (Foto: AFP).

A Alemanha sempre se viu moralmente obrigada a garantir a sobrevivência de Israel. Aqui, uma foto de Tel Aviv atingida por um míssil iraquiano Scud no início de 1991, no começo da Guerra do Golfo - (Foto: AP).

A chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Jerusalém, no início de 2011. Spiegel ficou sabendo que Israel está equipando submarinos feitos na Alemanha com míiseis dotados de ogivas nucleares - (Foto: DPA).

O presidente israelense Shimon Peres (esq.) com o presidente alemão Joachim Gauck na semana passada, no memorial Yad Vashem ao Holocausto. Ex-membros de alto escalão de governos alemães disseram à Spiegel que sempre presumiram que os submarinos alemães exportados para Israel seriam equipados com armas nucleares - (Foto: dapd).

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