quarta-feira, 30 de maio de 2012

Christine Lagarde, do FMI, recrimina fortemente quem não paga impostos, mas ela própria não os paga

[A velha arrogância francesa e a clássica insensibilidade do FMI, personificadas em Christine Lagarde, principal dirigente desse Fundo, geraram mais um lamentável e absolutamente desnecessário espezinhamento público da Grécia, como se vê pelo texto abaixo, traduzido de reportagem publicada no jornal inglês The Guardian de ontem. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Christine Lagarde, a chefona do FMI provocou uma forte reação de revolta internacional depois de afirmar, em uma entrevista ao jornal The Guardian, que os gregos fariam melhor se pagassem seus impostos, e se soube que ela própria não paga impostos. Como executiva de uma instituição internacional, seu salário anual de US$ 467.940 (£ 298.675)  e mais uma compensação anual de US$ 83.760 não estão sujeitos a quaisquer impostos.

A ex-ministra francesa das Finanças assumiu o posto de diretora-geral do FMI no ano passado, quando sucedeu ao seu compatriota Dominique-Strauss Khan, que caiu em desgraça e foi forçado a renunciar  depois de ter sido acusado (com denúncias que depois foram retiradas) de assédio sexual a uma arrumadeira de um hotel em Nova Iorque.

Lagarde, de 56 anos, recebe de salário e benefícios mais do que o presidente Barack Obama recebe do governo americano, e ele paga impostos sobre isso.

A isenção fiscal de Lagarde é a mesma que se aplica a quase todos os empregados da ONU, pelo artigo 34 da Convenção de Viena de 1961 sobre relações diplomáticas, assinada por 187 países, que declara: "O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, pessoais ou reais,  nacionais, regionais ou municipais [com as exceções seguintes ... (ver texto da Convenção)].

De acordo com o contrato de Lagarde, ela  tem direito a um aumento salarial no dia 1 de julho de cada ano, durante os cinco anos de vigência desse documento.

Os salários básicos [na ONU] variam de US$ 46.000 a US$ 80.521. Os salários de nível sênior vão de US$ 95.394 a US$ 123.033, mas são complementados com ajustes para fazer frente ao custo de vida em diferentes países [bela mordomia!]. Um empregado da ONU baseado em Genebra, por exemplo, verá seu salário de referência aumentado em 106%, em Bonn por 50,6%, em Paris por 62% e em Peshawar [Paquistão] por 38,6%. Mesmo em Juba, a capital do Sudão do Sul, um dos países mais pobres do mundo, o salário de um empregado da ONU será aumentado em 53,2%.

Outros benefícios incluem subsídio para aluguel, compensações financeiras relativas a esposa e filhos, subvenção para educação de crianças em idade escolar, auxílio para viagem e transporte [remessa de bens], assim como seguro médico subsidiado.

Durante muitos anos os críticos desse sistema têm reclamado que os empregados do FMI, do Banco Mundial e da ONU vivem luxuosamente às custas do contribuinte internacional.

Durante a conferência econômica de Bretton Woods em 1944, em que o FMI foi criado [e também o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD, em inglês), e o dólar foi adotado como moeda de referência para o comércio internacional], políticos americanos e britânicos discordaram sobre os salários dos burocratas. Os delegados britânicos, incluindo o economista John Maynard Keynes, consideraram "monstruosas" as propostas salariais dos americanos, mas foram derrotados [é bom lembrar que a Segunda Grande Guerra ainda grassava quando isso foi decidido].

Funcionários dessas várias organizações [internacionais] há tempos insistem em que os salários altos são uma maneira de atrair talentos do setor privado. Na realidade, a maioria dos cargos de nível sênior é recrutada de setores governamentais.

Christine Lagarde, diretora-geral do FMI - (Foto: Dominick Reuter/Reuters).

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