sábado, 10 de março de 2012

Os mistérios da Ilha de Páscoa (I)

Agradeço a Agenor Magalhães por ter me despertado a atenção para o tema desta postagem.

Situada a 3.700 km da costa do Chile, a Ilha de Páscoa (4.888 hab., estimativa de 2010) constitui a província chilena de Isla de Pascua -- é um dos lugares habitados mais isolados do mundo. Em idioma nativo, a ilha é conhecida como Rapa Nui ("ilha grande") ou Te pito o te henua ("umbigo do mundo") -- os nativos, os rapanui, constituem cerca de 60% da população. A grande atração da ilha são as suas mais de 800 gigantescas estátuas de pedra, os moais, que teriam sido construídas entre 1200dC e 1500 dC pelo povo rapanui.


Os moais, cujas cabeças ostentam "pukaos" - cilindros de pedra vermelha pesando até doze toneladas, possivelmente representando um cocar de penas vermelhas - representam, de modo estilizado, um torso humano masculino de orelhas longas, sem pernas [visíveis -- ver na parte II desta postagem]. Em sua maioria, medem entre 4,5 a 6 metros de comprimento e pesam entre 1 a 27 toneladas. A maior delas, entretanto, tem mais de 20 metros de altura. Sua construção, como foram transportados e o que efetivamente representam permanecem um mistério ainda indecifrado. Segundo a teoria mais aceita sobre a ilha, os moais teriam sido erguidos pelos primeiros habitantes, os "rapanui", como uma homenagem aos líderes mortos, o que explicaria o fato de estarem todos de costas para o mar, ou seja, de frente para o interior da ilha onde ficavam as aldeias.

Todas as estátuas teriam sido derrubadas [por quem?] de  seus ahus (plataformas) no século 17 -- a partir de 1956 algumas delas foram restauradas.


Outro conjunto de moais.

Os moais não são o único mistério da Ilha de Páscoa -- a escrita dos rapanui, o rongo-rongo, nunca pôde ser decifrada.  O rongo-rongo é uma escrita pictográfica, registrada em entalhalhes feitos em tabuletas de madeira e em outros artefatos da ilha. O sistema não é conhecido nas ilhas vizinhas. A explicação corrente é que o rongo-rongo foi criado pelos nativos como imitação do sistema que espanhóis ali introduziram no século XVIII, em 1770. Entretanto, apesar desta alegada origem recente, nenhum arqueólogo ou linguísta conseguiu decifrar os documentos rapanui.

Rongo-rongo, o sistema de escrita dos rapanui, permanece indecifrado e pode guardar a explicação para o mistério dos moais. 


As semelhanças entre os sinais do rongo-rongo (sempre a segunda coluna à direita na imagem acima -- clique na imagem para ampliá-la) e a antiga escrita hindu (sempre a primeira coluna à esquerda na imagem acima) foram observadas por Wilhelm de Hevesy, em 1932.


Quando os primeiros europeus chegaram à ilha da Páscoa, o lugar era um ecossistema praticamente isolado que estava sofrendo os efeitos do desgaste dos recursos naturais, desflorestamento e superpopulação. Nos anos seguintes esta população foi devastada por doenças européias e pelo comércio de escravos. Em 1877, havia pouco mais de 100 habitantes na ilha. [A estimativa para 2010 era de 4.888 habitantes]. Neste processo, o rongo-rongo quase desapareceu. Os colonizadores decidiram que a escrita fazia parte do paganismo popular e devia ser banida junto com outras tradições "heréticas". Os missionários obrigaram os nativos a destruir a tábuas de rapanui.

Em 1864, o padre Joseph Eyraud tornou-se o primeiro não-ilhéu a registrar o Rongorongo. Ele escreveu antes do último declínio da sociedade da ilha: "Em todas as casas pode-se encontrar tabuletas de madeira e outros objetos com a escrita hieroglífica." Eyraud não pôde encontrar ninguém que pudesse traduzir os textos; o povo tinha medo de tratar do assunto por causa das proibições dos missionários. Em 1886, William Thompson, do navio americano USS Mohican, em viagem na ilha, coletando objetos para o National Museum, de Washington, se interessou pela escrita dos nativos. Ele obteve duas raras tabuletas e conseguiu que um ilhéu traduzisse o texto. A transcrição obtida é um dos poucos documentos que podem servir de parâmetro para decifrar o rongo-rongo.

 Os estudos continuaram nas décadas seguintes. Em 1932, Wilhelm de Hevesy tentou encontrar uma conexão entre o rongo-rongo e a escrita hindu. Ele havia encontrado correlação entre as duas escritas em 40 exemplos de símbolos mas suas conclusões não foram adiante. Em 1950, Thomas Barthel foi o primeiro lingüísta contemporâneo a se interessar pelo rongo-rongo. Barthel estabeleceu que o sistema era composto de 120 elementos básicos que, combinados, formavam mil e quinhentos diferentes signos que representam objetos e idéias. A tradução é extremamente difícil porque, um único símbolo pode representar uma frase inteira. Uma grande conquista de Barthel foi identificar um artefato conhecido como Mamri como um calendário lunar.

As pesquisas mais recentes têm sido conduzidas pelo linguísta Steven Fisher. Entre os muitos exemplares da escrita estudados por ele destaca-se uma peça que pertenceu a um chefe nativo da ilha. O objeto é coberto de pictografias. Estudando essas figuras, Fisher descobriu que as unidades de significação do rongo-rongo são tríades, compostas de três signos. Um dos textos logo mostrou ser um canto religioso e o estudo de outros levou o linguísta à concluir que todos os textos da Ilha de Páscoa são relacionados a mitos da criação.

A escrita rongo-rongo continua instigando os pesquisadores. Hoje, apenas 25 tabuletas e objetos sobreviveram à devastação do tempo. Antropólogos e arqueólogos têm esperança de conseguir traduzir os pictogramas que podem revelar o mistério dos Moais, as estátuas colossais da ilha. Há quem acredite que os Moais foram erigidos pelos últimos remanescentes do continente perdido da Lemúria que, de acordo com a tradição ocultista, abrigou a terceira humanidade ou Terceira Raça Humana, quando os homens eram "gigantes" semelhantes às estátuas.

(continua)

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