quarta-feira, 14 de março de 2012

A bomba de 100 bilhões de euros -- O sistema de Bancos Centrais da eurozona está maciçamente desequilibrado (III)

Vejam a postagem anterior sobre esse assunto.

O que é ainda pior é que os bancos centrais também tornaram-se crescentemente negligentes quanto aos requisitos colaterais que exigiam para empréstimos a bancos de seus países. Enquanto, no passado, só aceitavam bônus de governos com avaliação de alto nível, agora começaram a aceitar garantias de segunda ou terceira categoria. Isso pode ser visto claramente nas estatísticas: justo entre 2005 e 2010, o volume de garantias aceitas pelos bancos centrais aumentou de € 8 bilhões para € 14 bilhões -- e cresceu igualmente ainda mais desde então.

Especialmente os bancos nos países em crise, que já são dependentes de seus bancos centrais, agora lhes apresentam suas piores garantias. Os bancos gregos, por exemplo, têm basicamente bônus de seu próprio governo em seu portfólio. Ninguém no mercado livre quer essas garantias, mas o banco central grego continua a aceitá-las, emitindo em troca dinheiro novo para os bancos. "Fluxo de caixa privado foi substituído por fluxo de caixa público", explica Sinn.

Isso se torna perigoso, se essas garantias forem necessárias em algum momento, por exemplo se a Grécia deixar a união monetária ou declarar falência. Nesse momento, os bônus gregos não terão valor, e será mínima a probabilidade de que o banco central grego seja capaz de pagar suas dívidas ao sistema do euro.

"Se apenas uma pessoa diz isso, não pode ser verdade"

No início, Sinn recebeu muitas críticas por suas opiniões. Houve uma espécie de clamor de protestos, quando publicou pela primeira vez detalhes de suas ideias no Frankfurter Allgemeine Zeitung, em parte porque nem todas essas suas ideias foram formuladas e apresentadas tão claramente como em seu mais recente artigo sobre o assunto. Ele estava exagerando e artificialmente superestimando os riscos, diziam outros economistas. O próprio Bundesbank, inicialmente, também rejeitou como mais ou menos inofensivos os balanços divergentes. Sinn estava essencialmente só e isolado com suas ideias.

"Todo mundo pensava: se apenas uma pessoa diz isso, não pode ser verdade", disse Sinn. Apesar disso, diz o economista, ele nunca duvidou de sua própria interpretação dos fatos. Agora, a maioria das vozes críticas silenciou. "Passei duas semanas examinando o assunto", diz um professor de economia alemão. "Sinn está certo, sua análise é brilhante". Outros reconhecem, rangendo os dentes, que os riscos dos balanços do TARGET2 parecer ser maiores do que achavam originalmente.

Enquanto isso, o BCE confirmou os princípios por trás da análise de Sinn, mas tirou conclusões consideravelmente inócuas, pelo menos publicamente. O fato de que os fundos do banco central sejam distribuídos tão desniveladamente, de acordo com o BCE, na realidade ajuda a gerar estabilidade, já que bancos financeiramente sólidos "mesmo em países financeiramente estressados" são capazes de satisfazer suas necessidades de liquidez. Esse comunicado parece ser tranquilizador apenas à primeira vista. A verdade nua e crua é que ele significa que os bancos comerciais nos países europeus atingidos pela crise estão forçados a se respaldar em fundos de seus bancos centrais, porque não conseguem mais obter dinheiro em outro lugar.

Eurobônus ajudariam a resolver o problema

É difícil vir com maneiras de reduzir risco sem mergulhar a zona do euro no caos -- exatamente o que aconteceria, se os bancos centrais dos países em crise fossem obrigados a pagar suas dívidas da noite para o dia. Sinn sugere que sejam endurecidos os regulamentos que os bancos comerciais ou colaterais utilizam para tomar empréstimos de bancos centrais. No médio prazo, ele diz, os bancos centrais seriam forçados a regularmente consolidar suas dívidas com garantias mais seguras, o que é prática comum no Federal Reserve System dos EUA.

Outra sugestão para reduzir o risco de bancos centrais seria deslocar a ajuda da política monetária para a política fiscal, por exemplo pela criação de eurobônus. Este, no entanto, é uma caminho que Sinn prefere não levar em conta. Em vez disso, ele defende medidas mais duras [até quando?! - e se o doente morrer com a violência do remédio? ...].  "As regras precisam ser mais restritivas", diz ele. Quem não puder cumprí-las não pertence à zona do euro [não pode fazer parte dela]".  Sinn, como sempre, o provocador. [Ah, o velho estilo marcial germânico! O problema é que todo mundo (inclusive e principalmente a Alemanha) dormiu no ponto na hora de montar a união monetária, deixaram a coisa correr frouxa, nivelaram gigantes e pigmeus por baixo, e agora está todo mundo correndo como louco atrás do prejuízo.]


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