segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O delay brasileiro

O texto abaixo é da autoria de Camilo Rocha e foi publicado ontem no blogue Link do jornal O Estado de S. Paulo.

O consumidor brasileiro encarava um evento como a Consumer Electronics Show (CES) e suas novidades tecnológicas como um mundo bem distante. Ali se falava de produtos que apareceriam por aqui só depois de dois ou três anos.  Isso mudou. O “delay” entre o estande gringo e a vitrine do shopping mais próximo é muito menor, quando não inexistente. Por exemplo, na CES do começo de 2011, um dos grandes destaques foram os tablets. Acompanhando a tendência, o mercado brasileiro foi inundado por lançamentos e opções de tablets, em preços e configurações diversas.

Outro lançamento que deu o que falar na CES 2011 foi uma TV LED de 75 polegadas da Samsung, a maior do mundo até então. Pois a tal TV já pode ser encontrada no Mercado Livre para compra (preço: R$ 18 mil).

Mas, se o delay em relação aos lançamentos de hardware e software foi superado, ainda patinamos em outras frentes. Duas delas, fundamentais para a inclusão digital: preços e qualidade de conexão. Mais do que qualquer novidade 3D ou aparelho incrível, duas notícias que deixariam o brasileiro mais satisfeito em 2012 seriam aparelhos e serviços mais baratos e conexão mais rápida e mais abrangente.

Com qualidade de conexão restrita, por exemplo, ficamos à margem de um dos temas quentes da CES 2012, conforme ressaltado em entrevista ao Link por seu economista-chefe, Shawn DuBravac: a conectividade (leia acima). Segundo ele, TVs com internet devem ser quase metade dos aparelhos vendidos em 2012 nos EUA. Games conectados são outro destaque. Mas não para por aí: a CES deve ser palco também de cafeteiras que fazem o café do jeito que o usuário gosta, e de lavadoras de roupa conectadas que mandam mensagens para o celular quando a roupa está pronta.

A TV conectada reposiciona o televisor de volta no centro do lar, posto que começou a perder para o PC. A TV com internet traz o melhor (e o pior) dos dois mundos. Estamos falando de redes sociais, filmes sob demanda, fotos, clipes, jogos online, música, navegação na web, novela das oito e o jogão de domingo saindo todos da mesma caixa. Sem falar que a TV conectada ainda acena com a perspectiva de uma sala com menos fios, aparelhos, caixinhas e discos de DVDs espalhados. É um equipamento que se apoia em conteúdo em streaming, localizado na “nuvem”.

Nada disso poderá ser aproveitado sem uma boa conexão de internet de banda larga. Afinal, ninguém quer ver filmes que “engasgam” e com qualidade de imagem oscilante. Assim como ninguém quer brincar em jogos online e ver suas ações serem concretizadas na tela com atraso em relação ao comando.

Sabemos como são as coisas por aqui. Com seus preços, não é acessível para a maioria da população. Mesmo o preço mais em conta prometido pelo Plano Nacional de Banda Larga (R$ 35 por 1 MB de conexão) é o dobro do que um projeto dos EUA recentemente anunciado, em que um consórcio de empresas pretende oferecer a mesma velocidade por metade do preço. Detalhe importante: 1 Mbps é menos de um décimo da taxa média de banda oferecida pelas operadoras dos EUA.

A conexão 3G é outro serviço que não sai barato e que vive derrapando. Em 2010, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), éramos 20 milhões de usuários da rede utilizada por tablets e smartphones. O serviço, porém, é prejudicado por cobertura insuficiente e oscilação no sinal. Mais de 30 mil reclamações relacionadas ao 3G foram registradas pela agência no mesmo ano.

Portanto, se hoje “alcançamos” o mundo da CES em questão de lançamentos, esse progresso é relativo. Nos últimos tempos, quando pensamos em inovação, pensamos muito mais em softwares (aplicativos, programas, nuvem) do que em objetos físicos. Pena que o consumidor brasileiro ainda precisa ver resolvida uma série de limitações cotidianas para entrar de cabeça nessa realidade.

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