terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Fifa pressiona governo e diz que Brasil "pede demais"

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, defendeu nesta segunda-feira que o governo brasileiro seja responsabilizado em casos de prejuízos causados à entidade por conta de desastres naturais na Copa-2014.

Esse é um dos principais impasses entre governo e Fifa na elaboração da Lei Geral da Copa, que deve ser colocado em votação na Câmara em fevereiro. O governo, com o apoio da oposição, defende que a União pague os danos causados à entidade apenas em casos de "ação ou omissão", enquanto a Fifa insiste em colocar tragédias da natureza.  "Desastre natural e segurança no país não podem ser responsabilidade da Fifa, tem que ser do governo. Não podemos ser responsáveis por eventos deste tipo", disse Jérôme Valcke em coletiva no Ministério do Esporte. [Sou radicalmente contra qualquer concessão atípica e exagerada ou absurda à Fifa, acho que esse Jerôme e a Fifa como um todo nos tratam com muita arrogância e petulância, mas nesse ponto sou forçado a reconhecer que a Fifa tem razão. Ela realmente não pode ser responsabilizada financeiramente por desastres naturais e pela segurança durante a Copa. Estamos gastando neurônio e energia com tolice, há coisas mais importantes em jogo -- entre elas, uma que acho inadmissível que é contrariar a nossa legislação e permitir o consumo de cerveja nos estádios, só porque a Ambev é patrocinadora da Copa.]

O secretário-geral da Fifa começa nesta segunda-feira, junto com o ministro Aldo Rebelo (Esporte) e o ex-atacante e hoje empresário Ronaldo, uma série de visitas às 12 sedes da Copa-2014. Foi a primeira vez que Valcke falou abertamente sobre as responsabilidades do governo em caso de prejuízos --antes, a Fifa concentrava o lobby em deputados que discutem a Lei Geral da Copa. 

Valcke comparou a discussão da lei a um "parto" e ainda ironizou a maneira que o Brasil negocia com a Fifa a organização da Copa, que exige mais do que outros países. "Talvez porque o Brasil é o país que ganhou cinco vezes a Copa e aí vocês acham que podem pedir, pedir e pedir. Mas na vida tem princípios e chegamos bem longe nas discussões e é o momento de acertar o acordo", disse o secretário-geral da Fifa.

O ministro do Esporte, contudo, minimizou a polêmica e disse que os 11 compromissos firmados com a Fifa em 2007 já determinam a responsabilidade do governo --só restando um "acerto de texto". 

Valcke abriu brecha para que a cota social de ingressos da Copa, ao custo de US$ 25 (equivalente a R$ 45), terá que discutida por conta da "logística", mais um ponto polêmico da Lei Geral. "Se vocês dão ingresso aos indígenas, vão ter que garantir que chegarão aos estádios", disse. [Aqui esse Sr. Valcke exibe a sutileza paquidérmica de sua educação e de sua ironia, típicas de um francês quando se refere ou se dirige a terceiromundistas. Aliás, essa combinação -- um francês, secretariando uma instituição que tem sede na Suiça, e ainda por cima com a força que tem a Fifa -- é indigesta, é ilusão esperar qualquer cavalheirismo desse cidadão. Se for o caso, é  bom tratá-lo na mesma moeda.]

A entrevista coletiva contou ainda com a participação do ex-jogador Ronaldo Nazário, representante do Comitê Organizador Local da Copa, vinculado à Fifa. Ele disse que trabalhará com Ricardo Teixeira, presidente do Comitê, para ser um garoto propaganda da Copa.  "Meu papel, além de toda a burocracia que faz parte dentro do conselho do Comitê, é fazer com que brasileiro acredite na Copa e fique orgulhoso", disse o ex-jogador.

O empresário Ronaldo, o ministro do Esporte Aldo Rebelo e o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, em Brasília - (Foto: Sergio Lima/Folhapress).

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