sábado, 24 de dezembro de 2011

Terras raras podem ser novo filão brasileiro

Uma crise no abastecimento de um conjunto de metais está levando empresas brasileiras e o governo a tentar iniciar um novo tipo de exploração mineral, voltada para o ramo de alta tecnologia.

Usados na fabricação de uma variada gama de produtos, de tablets a carros elétricos, os metais de terras raras --um conjunto de 17 elementos químicos-- são explorados praticamente em regime de monopólio pela China.  Os chineses, no entanto, vêm aumentando as restrições à exportação dessa matéria-prima, o que pôs em risco o abastecimento de diversos tipos de indústrias e gerou uma corrida mundial por alternativas.

O preço chegou a subir até 4.000% desde 2008. Naquele ano, a produção da China foi de 120 mil toneladas, em um mercado estimado em até US$ 3 bilhões.  O valor de venda pelos chineses costumava ser tão baixo que a exploração comercial das terras raras em outras partes do mundo não compensava. Agora, com a maior demanda pela matéria-prima e a escalada dos preços, a situação mudou.

O Brasil tem reservas inexploradas desse conjunto de minérios em Estados como Goiás e Amazonas.  O grupo canadense MBAC divulgou, no começo do mês, que uma área sua em Araxá (MG) tem um "dos mais altos níveis de óxidos de terras raras" no mundo.

Outras indústrias trabalham para obter esse conjunto de metais por meio do processamento de resíduos de outros minérios.  A Mineração São Francisco de Assis, que explora estanho em São Félix do Xingu (PA), tenta obter terras raras em seus próprios rejeitos. A empresa pretende começar uma unidade-piloto já no próximo ano. A CSN, por meio de uma subsidiária, também tem um projeto.

O governo federal tenta atrair a Vale e sua estrutura em mineração para o ramo das terras raras. Também cogita usar financiamentos do BNDES para estimular novos projetos desses minérios. 

Com o aumento das restrições na China, EUA e Austrália também já anunciam investimentos no setor. 

Problemas ambientais

Durante a mineração, dois elementos radioativos, o tório e o urânio, costumam vir com as terras raras. É preciso separá-los dos outros minerais explorados. Isso faz com que a indústria precise montar um esquema de alta proteção ambiental, encarecendo o trabalho.

Almir Clemente, dono da Resind, diz que gerir o tório e o urânio é "o maior obstáculo" para a produção. Ele pretende começar a produzir 50 toneladas por mês de terras raras a partir de fevereiro em São João del Rei (MG).

[Essa notícia da abertura de mercado para as terras raras brasileiras deve, a meu ver, ser encarada com um misto de  satisfação e preocupação, porque o histórico nosso em produtos estratégicos é o de sermos ferrados por mineradoras estrangeiras e pelo mercado internacional. Um bom exemplo disso é o nióbio, usado inclusive em tecnologia espacial, do qual o Brasil é o maior produtor mundial (possuímos 93% das reservas mundiais de pirocloro, minério de nióbio) -- sua produção e venda, pelo Brasil, encerra histórias nebulosas, como a de venda por preço muito abaixo do custo de produção, preço internacional fixado pela Inglaterra (que não tem nióbio nenhum), etc. O produto é tão estratégico, que a China comprou 15% da CBMM - Companhia Brasileira de Meatalurgia e Mineração, do grupo Moreira Salles, dona da maior mina de nióbio do mundo, em Araxá (MG).]

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