sábado, 31 de dezembro de 2011

Imigrantes em "paraísos do desenvolvimento" destacam o que falta ao Brasil

Enquanto o Brasil se prepara para avançar mais uma posição no ranking das economias, mas ainda enfrenta mazelas típicas de países subdesenvolvidos, imigrantes brasileiros que vivem nos países com os mais altos índices de desenvolvimento destacam as diferenças entre os dois mundos.

Leonardo Dória vive há 10 anos na Noruega, país que lidera o ranking elaborado a partir do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Calculado em 187 países, o IDH foi introduzido numa tentativa de desviar o foco do desenvolvimento puramente econômico, medido pelo Produto Interno Bruno (PIB), passando a explorar também outros indicadores como expectativa de vida, média de anos de estudo, acesso à saúde e distribuição de renda.

Com nota 0,943, a Noruega fica perto da nota máxima 1, seguida pela Austrália (0,929) e pela Holanda (0,910). Esses países fazem parte de um grupo de 47 com desenvolvimento considerado muito alto. O Brasil está no grupo imediatamente inferior, na 84ª posição, e com nota 0,718.

"O petróleo gera muita riqueza para a Noruega", diz Doria à BBC Brasil, destacando que essa riqueza é distribuída de forma "justa e igualitária". [Ver postagem sobre como o petróleo gera recursos para a Noruega e como eles são utilizados pelo país].

Uma forma de medir isso e comparar com o Brasil toma por base o coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda em um país. A Noruega tem um coeficiente de 25,8, que indica uma das melhores distribuições de renda do mundo. O do Brasil, de 53,9, põe os país entre os 10 piores do mundo no quesito, segundo a ONU.

Salários compensadores

O baiano Alessandro Mendes, também morador de Oslo, diz que ainda está se adaptando ao país. Ele chegou à Noruega a passeio, após visitar a irmã na Alemanha. "Eu dei sorte. Vim a convite da minha atual esposa e acabei encontrando um trabalho", conta. Em 2008, no auge da crise financeira, ele perdeu o emprego. "Meu filho tinha acabado de nascer e foi um baque pra gente." Ele aproveitou os 12 meses de licença maternidade remunerada da esposa e voltou para o Brasil por cinco meses, para colocar a cabeça no lugar.

Acabou retornando a Oslo e encontrando emprego como subgerente de uma rede de supermercados, mas anda decepcionado com o país. "O custo de vida aqui é muito alto, eu tenho de pagar o equivalente a cerca de R$ 600 por mês pela creche da minha filha", diz, ao explicar que já pensou em fazer bicos como guia de turismo para aumentar a renda familiar.


Doria, que, além de trabalhar como geógrafo, tem um site com dicas sobre a Noruega, concorda que o custo de vida no país seja alto. "Mas os salários compensam e, tudo o que você paga, está relacionado à sua renda anual", disse, citando a educação e a saúde, calculadas com base nos rendimentos de cada trabalhador, de modo a não pesar no bolso dos mais pobres e manter a igualdade de oportunidades.

Filhos poliglotas

Na Holanda, terceira colocada no último ranking do IDH, o sistema é parecido. Para ter acesso a médicos e hospitais públicos, o cidadão precisa ter um plano de saúde cujo valor é calculado com base na renda.  "Eu pago 500 euros mensais para mim, para minha mulher e para os meus três filhos", diz o músico paulista Alaor Soares, que mora na cidade holandesa de Vleutten desde 1992. "E meu filho acabou de começar o ano letivo e eu tive apenas que comprar um computador para ele usar durante as aulas, o resto é gratuito", acrescentou.


Na mesma escola, os três filhos de Alaor aprendem francês e alemão. Além disso, já falam português, holandês e inglês, que aprenderam em casa.
"Aqui, a escola é pública e todo mundo usa, até a filha da princesa", diz Marcia Curvo, engrossando o coro. Há 12 anos na Holanda, a goiana fala com orgulho do país que adotou para viver. "Eu pago imposto e tenho retorno. Amanhã, se eu ficar inválida, eu vou ter tudo: tratamento, assistente social, moradia. Eu não vou ficar jogada no meio da rua". 

Futuros planejados

Além do alto nível das infraestruturas e dos serviços nesses países, poder planejar o futuro é outra vantagem citada por brasileiros. "A gente tem estabilidade, pode pensar em comprar uma casa, um carro, o governo ajuda, se for preciso", afirma Eliane Braz, que mora em Toulouse, no sul da França, país que ocupa a 20ª posição no ranking de IDH.


"Saber que é possível fazer planos com segurança e que esses planos darão certo se você fizer a sua parte é uma das maiores vantagens de se morar na Noruega", diz Leonardo Doria, que gostaria que o Brasil tivesse essa qualidade. Ele também adoraria que o país onde nasceu tivesse uma cidadania mais madura. "Eu gostaria que os brasileiros tivessem essa consciência dos noruegueses", diz o carioca. "Aqui, as pessoas se envolvem com as questões sociais, elas sabem que têm direitos e deveres, e cobram isso dos políticos".


Já Alessandro Moraes adoraria que políticos brasileiros fossem como os noruegueses, que "recebem salários discretos e sem auxílios extras".



Leonardo Doria destaca possibilidade de fazer planos de longo prazo na Noruega - (Foto: BBC Brasil).

O músico brasileiro Alaor Silva elogia os benefícios oferecidos pelo governo da Holanda - (Foto: Arquivo pessoal).

  

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