terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nos EUA, é interrompido o primeiro teste de terapia com células-tronco embrionárias humanas em seres humanos

A empresa que conduzia os primeiros testes aprovados pelo governo [nos EUA] de uma terapia desenvolvida com a utilização de células-tronco embrionárias humanas anunciou subitamente ontem, segunda-feira, que estava suspendendo o estudo, surpreendendo os defensores dessa área altamente contenciosa.

Geron Corp., de Menlo Park, Califórnia, disse que a decisão, que interrompe um dos mais controvertidos e detalhadamente vigiados experimentos na história da pesquisa biomédica, resultava de uma decisão comercial, de negócios, visando focalizar exclusivamente no desenvolvimento de terapias de câncer.

"No ambiente atual de escassez de capital e de condições econômicas incertas, pretendemos focar nossos recursos no avanço de nossas duas novas e promissoras possíveis drogas oncológicas", disse em umcomunicado John A. Scarlett, CEO da Geron.  "Isso não seria possível, se continuássemos a financiar os programas de células-tronco nos níveis atuais", acrescentou.

A Geron anunciou também que estava eliminando 66 postos de trabalho de tempo integral, representando 38% de sua força de trabalho.

Outra empresa continua a testar uma segunda terapia de células-tronco embrionárias em seres humanos, mas o anúncio da Geron significou um revés e um desapontamento grandes, disseram pesquisadores e defensores da técnica.

"Enquanto as células-tronco têm-se provado inestimáveis para pesquisas, transformar essa promissora ciência em novas terapias é um processo lento e doloroso, com muitos reveses",  disse George Q. Daley, um pesquisador de ponta em células-tronco na Escola de Medicina de Harvard. "Uma primeira tentativa segura teria pavimentado o caminho a ser seguido por muitos outros", acrescentou.

"Estou indignado. Isso me enoja", disse Daniel Heumann, que está na diretoria da Fundação Christopher e Dana Reeve. "Criar esperanças nas pessoas e, então, fazer isso por razões financeiras é indigno, mesquinho. Estão nos tratando como ratos de laboratório".

A pesquisa com células-tronco embrionárias humanas tem sido o foco de muita excitação e cáusticos debates,  mas até agora mostrou-se promissora apenas em estudos com animais e de laboratório. O estudo da Geron era a primeira tentativa sancionada pelo governo de testar uma terapia usando as células em pessoas.

Embora a companhia [Geron] não vá tratar nenhum paciente adicional, pesquisadores continuarão a acompanhar os quatro pacientes tratados até agora, "acumulando dados e atualizando a FDA [Food and Drug Administration] e a comunidade médica sobre seu progresso", disse a Geron. A empresa está também "buscando parceiros com recursos técnicos e financeiros para possibilitar desenvolvimento adicional" de sua terapia de células-tronco.

Muitos cientistas consideram que células-tronco embrionárias podem representar um dos avanços mais importantes da medicina. Porque elas podem transformar-se virtualmente em qualquer célula ou tecido, pesquisadores têm esperança de que elas, ao final, produzam curas para várias enfermidades, incluindo doenças cardíacas, câncer, mal de Alzheimer, e paralisia. Mas, essa área está carregada de controvérsias políticas, morais e éticas. Embriões com dias de idade têm sido destruídos para a obtenção das células, o que é considerado imoral pelos críticos dessa técnica. Depois de muitos adiamentos, a FDA aprovou no ano passado dois experimentos para testar, em seres humanos, terapias criadas a partir células-tronco embrionárias, incluindo um estudo testando o tratamento experimental da Geron em 10 pacientes parcialmente paralisados por danos à medula espinhal. Ambos os estudos foram criados basicamente para determinar-se se a abordagem é segura.

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