terça-feira, 16 de agosto de 2011

Tomografia computadorizada para diagnóstico de câncer de pulmão gera debate nos EUA

Hospitais e clínicas de radiologia nos EUA começaram a usar cada vez mais frequentemente exames de Tomografia Computadorizada (TC) para diagnosticar câncer de pulmão, apesar da forte discordância quanto ao exame ser feito de maneira tão ampla e, se for o caso, quem deve passar por ele. Essa tendência foi deflagrada por um estudo federal recente nos EUA, que concluiu que submeter certos fumantes de forte consumo e ex-fumantes à TC poderia reduzir significativamente suas chances de morrer de câncer de pulmão -- o estudo diz que o uso da TC pode reduzir em 20% essas chances em comparação com o tradicional raio-X

Os exames por TC criam imagens tridimensionais dos pulmões, em contraste com as imagens bidimensionais do raio-X, e têm mais chance de detetar pequenos tumores, aumentando a probabilidade de sobrevivência do paciente.

Os defensores da TC dizem que ela pode salvar milhares de vidas, e que as pessoas com risco de câncer de pulmão deveriam poder fazer esse exame, com o apoio de seus médicos, e as compahias de seguro deveriam cobrí-lo. Os críticos desse exame em larga escala reconhecem que a TC representa um avanço excitante, mas argumentam que está longe de estar claro se, na realidade, os benefícios superam os riscos. Submeter milhões de americanos à TC poderia causar mais malefício que benefício, por gerar uma onda de alarmes falsos que provocará exames de acompanhamento, biópsias e cirurgias caros, perigosos e desnecessários, segundo eles.

Mais de 222.000 americanos recebem diagnóstico de câncer de pulmão a cada ano, e mais de 157.000 morrem da doença -- mais do que os óbitos por câncer de mama, cólon e próstata combinados. O câncer de pulmão tem sido notoriamente difícil de ser tratado, em parte por ser geralmente diagnosticado muito tardiamente.

Há cerca de 100 milhões de pessoas nos EUA, entre fumantes e ex-fumantes, todas sob risco crescente. Muitas mais podem ser propensas à doença, por histórico familiar ou por exposição a substâncias como o radônio (elemento químico radioativo, da família dos gases nobres), o amianto e o asbesto.

Em novembro de 2010, o Instituto Nacional de Câncer dos EUA anunciou que estava interrompendo o Teste Nacional de Exame do Pulmão por Varredura (Screening) de 250 milhões de dólares, que estava testando essa abordagem em 53.500 homens e mulheres em 33 locais nos EUA, quando ficou claro que esse tipo de exame poderia reduzir em surpreendentes 20% a taxa de mortalidade do câncer de pulmão em relação aos exames com os antiquados raios-X de tórax.

Apesar do fato de que muitos hospitais e clínicas radiológicas podem fazer TC de pulmão porque a disponibilizam para outros fins, as autoridades dizem que são necessárias mais análises para responder a muitas questões, incluindo precisamente quem pode se beneficiar dela e em que condições.

Os exames de TC produziram alarmes falsos em cerca de 40% dos casos estudados. Enquanto 88 vidas foram salvas entre is oparticipantes do teste, 16 pacientes morreram de aparentes complicações oriundas dos procedimentos de acompanhamento, incluindo 6 que não tinham câncer.

"Varredura (screening) para [diagnóstico de] câncer de pulmão salva vidas, mas é uma faca de dois gumes", disse Otis W. Brawley, médico-chefe da Sociedade Americana de Câncer. "Há um benefício enorme, mas há também um risco documentado e um dano documentado", acrescenta.

Grupos médicos importantes estão insistindo com os clínicos para que esperem até que especialistas façam uma revisão cuidadosa dos resultados encontrados. Eles desejam também os resultados de um estudo de custo x benefício financiado pelo governo, que está em andamento. As seguradoras, incluindo os poderosos Centros de Serviços de Medicare e Medicaid do governo, dizem que examinarão os resultados dessas deliberações antes de decidir se pagarão pelos exames de TC.

Não há monitoramento de quão comuns têm sidos os exames de TC para câncer de pulmão, mas vários centros anunciaram que iniciaram programas com esse exame desde que os resultados do estudo foram liberados, e entrevistas com radiologistas no país indicam que a tendência está se acelerando.

A maioria dos principais centros médicos somente submetem à TC os pacientes que atendem aos critérios rígidos do estudo: os de idade entre 55 e 74 anos que têm um histórico de fumar pelo menos 30 anos como fumantes inveterados. Os críticos estão menos preocupados com esses programas, principalmente porque os centros têm equipes interdisciplinares experientes especializadas em minimizar atividades desnecessárias em termos de exames de acompanhamento com TC, biópsias e cirurgias.  Mas, alguns centros vão além disso, examinando pessoas mais jovens, mais velhas e que nunca fumaram mas que podem estar sob risco ampliado por várias razões, incluindo exposição a fumo passivo e a riscos nos locais de trabalho.
Exames com TC criam imagens tridimensionais dos pulmões, em vez das imagens bidimensionais dos raios-X de tórax (Foto: The Washington Post).

Nenhum comentário:

Postar um comentário