domingo, 17 de julho de 2011

O que está além de um "default": cálculos catastróficos

É difícil imaginar uma única palavra que, sozinha, consiga descrever o absurdo inimaginável que será para a economia mundial a possibilidade de que os EUA entrem em default  (impossibilidade de honrar seus compromissos financeiros) a partir de 02 de agosto vindouro, se democratas e republicanos não chegarem rápido a um acordo para elevação do teto da dívida do país! Em postagem anterior, abordei parte desse problema.

Em artigo de ontem, 15/7, o colunista Ezra Klein, do The Washington Post, dá cores mais realisticamente negras a essa catástrofe que se anuncia. Diz ele que é fácil entender porque o governo americano terá mais problemas em tomar dinheiro emprestado se não conseguir pagar suas contas -- ele faz referência à posição adotada pelo presidente do Federal Reserve dos EUA (o Banco Central deles) na quinta-feira, rejeitando alternativas para a elevação do limite para que o país tome dinheiro emprestado (o teto da dívida). É um pouco mais difícil, continua ele, entender porque os cidadãos normais americanos, a cidade de Pittsburg, hospitais em Iowa, ou empresas de porte médio terão mais dificuldades em conseguir dinheiro emprestado -- mas todos eles terão. E essa dificuldade em conseguir empréstimo é a primeira maneira pela qual um default, ou algo muito próximo disto para o "conforto" do mercado, poderia gerar um sério revés para a economia.

Tudo se volta ou aponta para os bônus do Tesouro americano, que são o fundamento para quase todos os outros produtos financeiros -- a base da pirâmide financeira global. Se os custos do governo federal para tomar empréstimo aumentarem, o mesmo acontecerá para todo mundo. As taxas de hipoteca darão um salto, empréstimos para compra de carro ficarão mais difíceis de serem amortizados, as universidades não serão capazes de emitir títulos, e as cidades não conseguirão se autofinanciar.

Aos Tesouros cabe fixar a taxa de "restituição sem risco" -- o preço de fazer um empréstimo a alguém e saber, com absoluta certeza, que ele pagará, com juros. Assim, quando emprestadores decidem quanto irão cobrar eles começam com a taxa sem risco e lhe acrescentam algo, para cobrir o risco de que o tomador não lhes pague  e o inconveniente de ter que esperar que ele lhes pague. É uma prática chamada benchmarking, e é encontrada em todo lugar: na sua hipoteca, no seu cartão de crédito, nas amortizações de seu carro, no empréstimo que você tomar para contratar novos empregados para o seu negócio. É comum mesmo internacionalmente. O fato de que empréstimos brasileiros sejam ou estejam vinculados à dívida do governo americano mostra a alta consideração com que o mundo nos vê. A ocorrência de um default destroi essa confiança fundamental que permite que os mercados financeiros operem.

"Há toda uma estrutura de crédito", diz Pete Davis, presidente da Davis Capital Investment Ideas. "Pense nisso como se fosse pontes e estradas, mas é finanças, está tudo interconectado e está tudo apoiado no topo de Tesouros ... Então, quando você balança a base disso tudo o que está no topo balança também", acrescenta ele. Alguns setores da economia, com certeza, serão mais sacudidos do que outros. Benchmarking é apenas a maneira mais comum com a qual a suave função de mercado do Tesouro afeta tudo mais, mas não é a única maneira.

Na quarta-feira, a agência Moody's avisou que estava colocando a classificação do crédito dos EUA sob revisão para rebaixamento (downgrade). Mas a agência não parou aí -- outros 7.000 produtos de dívida que estão "diretamente ligados ao governo americano ou são de alguma outra maneira vulneráveis ao risco soberano" foram também colocados sob revisão para um possível rebaixamento. Isso significa 130 bilhões de dólares em termos de dívida -- se os EUA tropeçarem ou cairem, o mesmo acontecerá com esse volume financeiro.

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