sábado, 30 de julho de 2011

Bilionário aposta nos rapazes do Brasil para trazer paz ao Daguestão

Os refletores estão acesos, o estádio está lotado, e a figura familiar do jogador Roberto Carlos, ganhador da Copa do Mundo, corre pela esquerda do campo. O fato estranho em relação a essa cena é o local onde ocorre -- em Mackhachkala, capital do Daguestão. [A República do Daguestão é uma unidade política da Rússia, no norte do mar Cáspio, com 3 milhões de habitantes]. Um pedaço de terra montanhoso, localizado no extremo sul da Rússia e de frente para o mar Cáspio, o Daguestão tem sido conhecido nos últimos anos por sua pobreza e sua violência. A forte insurgência islâmica reivindica vítimas quase que diariamente, envolvendo policiais e funcionários e autoridades do governo.

Neste ano, entretanto, um bilionário da região anunciou um plano de investimentos para atacar a pobreza e a instabilidade da república. A peça central de seu plano é o futebol. Suleiman Kerimov, um homem de negócios reservado com investimentos em muitos setores, é o 118˚ homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes, com uma fortuna de US$ 7,8 bilhões. Sua empresa prometeu no mês passado investir mais de US$ 1,5 bilhão em instalações esportivas e projetos de infraestrutura no Daguestão, e até agora seu investimento mais visível é o time de futebol do Anzhi, de Mackhachkala.

Kerimov assumiu o Anzhi em janeiro, prometendo grandes investimentos. O mundo do futebol ficou surpreso quando Roberto Carlos, um dos mais famosos jogadores do mundo, assinou com o time, seguido por três outros brasileiros e outros grandes nomes internacionais. As pequenas multidões domésticas transformaram-se em casas lotadas. Um novo estádio de 40 mil lugares está prometido para daqui a quatro anos, com instalações de treinamento de última geração, restaurantes, hotéis e spas, diz o porta-voz do clube Alexander Udaltsov. O objetivo é a classificação para a competição máxima da Europa, a Champions League, dentro de cinco anos, e o time já está consolidando sua posição entre os seis maiores times da liga principal da Rússia.

Mas, há um objetivo ainda mais ambicioso, que é o de usar o futebol para trazer alguma esperança e felicidade ao Daguestão. "É claro que não foi muito divertido que isso tenha sido em Mackhachkala", admite Udaltsov, "o Sr. Kerimov está muito interessado em dar ao povo daqui algo de que possa se orgulhar".

Por enquanto, o time fica baseado em Mackhachkala apenas um par de dias antes de cada jogo. O resto do tempo ele fica em seu principal centro de treinamento nos arredores de Moscou. O clube nega que isso deve à falta de segurança local, alegando que a única razão é a falta de estrutura no Daguestão. Quando o novo estádio estiver pronto o clube lá ficará em tempo integral, diz Udaltsov.

O ciclo de violência continua no Daguestão. Na quinta-feira, 28/7, o chefe da secretaria de imprensa do presidente da República, Magomedsalam Magomedov, foi morto a tiros quando entrava em seu carro.

As autoridades têm dito repetidas vezes que a melhor maneira de evitar que os jovens se juntem aos insurgentes é dar-lhes oportunidades econômicas e esperança. Esporte e um "estilo de vida saudável" são repetidos como mantras de como manter os jovens longe de problemas, e a esperança é que o "fenômeno Anzhi" gere coesão social e orgulho na região.

Mas, há situações esdrúxulas -- um artigo no jornal local Chernovik, em abril, dizia que enquanto Roberto Carlos ganha US$ 6,5 milhões por ano, um professor escolar local ganha entre US$ 3.250,00 e US$ 4.000,00. Mas,  para aqueles que estão dentro do estádio esse é um dinheiro que vale a pena ser pago. "Os russos dizem que aqui não há nada além de ovelhas e terroristas", disse Gadzhi, um jovem de 24 anos, enquanto torcia e agitava uma bandeira. "Eles estão errados, temo o Anzhi".
Roberto Carlos em ação pelo Anzhi (Foto: Reuters).
Localização geográfica do Daguestão.
O vilarejo de Shamil, no Daguestão (Foto: Google).
Um casal em trajes típicos do Daguestão (Foto: Google).

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