domingo, 22 de maio de 2011

Rejeição de filhos do sexo feminino provoca milhões de abortos na Índia

O censo de 2011 na Índia mostra um sério declínio no número de meninas abaixo de 7 anos -- teme-se que oito milhões de fetos femininos foram abortados na última década. Reportagem da BBC News dá detalhes dessa tragédia. Ela conta, por exemplo, a história de Kulwant, que tem três filhas (24, 23 e 20 anos) e um rapaz de 16 anos. Entre o nascimento da terceira filha e o do filho ela engravidou três vezes, e em cada gravidez foi forçada a abortar por sua família porque os testes de ultrassom confirmavam que se tratava de uma menina. "Minha sogra me insultava por dar à luz apenas mulheres, e me dizia que seu filho se divorciaria de mim se eu não lhe desse um filho", disse Kulwant. Até o nascimento de seu filho ela foi vítima diária de espancamentos e abusos de seu marido, de sua sogra e de seu cunhado -- "uma vez tentaram me botar fogo", disse ela. "Eles estavam furiosos. Eles não queriam mulheres na família, queriam homens para poder receber gordos dotes", acrescentou ela. A Índia aboliu legalmente o regime de dotes em 1961, mas a prática se mantém desenfreada e os valores dos dotes crescem continuamente, afetando tanto os ricos quanto os pobres.

Histórias como a de Kulwant são comuns e se repetem em milhões de lares indianos, e têm piorado. Em 1961, para cada 1.000 garotos abaixo de 7 anos havia 976 meninas, hoje este número caiu para 914. Esta relação entre meninas e garotos é uma das piores do mundo, depois da China. Muitos fatores cooperam para isso: infanticídio, abuso e rejeição de crianças do sexo feminino. Mas há ativistas que dizem que o declínio é em grande parte devido à crescente disponibilidade de testes pré-natais de previsão de sexo, e já falam de genocídio. O governo foi forçado a admitir que não teve êxito em sua estratégia de acabar com o feticídio feminino.
Número decrescente de meninas entre 0 e 6 anos na Índia desde 1961 (Número de meninas entre 0 e 6 anos para cada 1.000 meninos). --- Relação geral entre mulheres e homens (para todas as idades).

O Primeiro-Ministro indiano Manmohan Singh descreveu o feticídio e o infanticídio femininos como "uma vergonha nacional", e convocou uma "cruzada" para salvar os bebês femininos. Sabu George, o mais conhecido ativista indiano nesse campo, diz que na realidade o governo tem mostrado pouca disposição para acabar com essa prática, e menciona que até 30 anos atrás a relação entre os números de pessoas dos dois sexos era "razoável". Aí, em 1974, o prestigioso Instituto de Ciências Médicas "All India", de Nova Delhi, surgiu com um estudo que dizia que os testes de determinação de sexo eram um benefício para as mulheres indianas. Ele dizia que elas não mais necessitavam ter um número interminável de crianças para ter o correto número de filhos, e encorajava a determinação e a eliminação de fetos femininos como um instrumento eficaz de controle populacional. Hoje, há 40.000 clínicas de ultrassom registradas no país, e muitas outras sem qualquer registro.

Em 1994, o Ato do Teste de Determinação Pré-Natal declarou ilegal o aborto seletivo de sexo. Em 2004, esse Ato recebeu emenda para incluir também como ilegal a escolha de sexo, mesmo no estágio pré-concepcional. "O que se precisa é de uma aplicação estrita da lei", diz Varsha Joshi, operador do censo em Nova Delhi. "Não vejo absolutamente nenhuma vontade por parte do governo em fazer isso"

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