domingo, 24 de abril de 2011

A Prefeitura do Rio não protege o Aterro do Flamengo

Quem quer que viva no Rio, ou por ele passe, não deixa de se deslumbrar com o Aterro do Flamengo, uma jóia numa cidade maravilhosa, uma harmonia perfeita de natureza e ambiente gerada pelo gênio de Burle Marx. Apesar disso, e do que vale e representa para a cidade, sucessivos prefeitos têm permitido que ele se transforme em palco e platéia de megaeventos, geralmente religiosos, que o castigam impiedosamente. O atual prefeito, Eduardo Paes, certamente numa crise de ressaca ou enxaqueca, chegou a cogitar de nele realizar uma etapa da corrida de carros da Fórmula Indy americana, uma megaestupidez.

A mais recente agressão ao Aterro deu-se na quinta-feira santa, com a realização de um evento religioso inexplicavelmente autorizado pela prefeitura, reunindo um público estimado em 50 mil pessoas -- imaginem esse monte de gente, ocupando e pisoteando o Aterro! Felizmente, para o local e a cidade, o feriadão falou mais alto que a religiosidade, e a afluência de gente foi a metade da prevista. Pode-se facilmente imaginar a cara do Aterro depois de receber 100 mil pessoas ...

Há duas coisas, pelo menos, que me intrigam nessas manifestações religiosas dos chamados "crentes" (em oposição aos "católicos") -- justiça se faça, os católicos são bem mais discretos --: uma, a mania de fazer manifestações públicas volumosas em locais absolutamente impróprios (essa gente adora o Aterro, no que, inegavelmente, tem bom gosto), a outra a de serem especialmente barulhentos. Fico também sem entender porque o deus e o diabo desses crentes são evidentemente surdos ou quase isto, pois pastores e bispos só lhes falam aos berros! Uma sexta-feira dessas à noite, a caminho de uma roda de samba no maravilhoso Trapiche Gamboa por volta das 21h, cheguei a dar uma parada defronte a uma dessas milhares de igrejas "universais" ou equivalentes que entopem a cidade, ali pertinho na Sacadura Cabral, e fiquei espantado com a gritaria reinante, apesar do local estar com meia lotação. Pelo jeito, era uma sessão de exorcização em que o pastor ou bispo (a hierarquia dessa gente é confusa) apopleticamente aos berros mandava o demônio (também não consigo guardar a enxurrada de nomes dados a essa figura) se afastar, e a plateia respondia no mesmo diapasão. Quem queria dormir por perto, danou-se.

De duas, uma: ou o deus e o demônio desse pessoal são ambos surdos, ou os pastores e bispos querem incutir em seus seguidores a impressão de que aquelas duas entidades só atendem "no grito" -- qualquer das duas hipóteses me soa muito esdrúxula.

Em carta que enviei ao Globo nesta semana hoje findante, e por ele publicada, propus que se proíbam quaisquer manifestações coletivas no Aterro do Flamengo e que a cidade reserve um espaço exclusivo para isso, algo como um "Rezódromo", ou então que o Sambódromo passe também a abrigar esse tipo de aglomeração.
Uma imagem do Aterro do Flamengo. (Google)
Outra imagem do Aterro do Flamengo. (Google)

3 comentários:

  1. "...uma harmonia perfeita de natureza e ambiente gerada pelo gênio de Burle Marx."
    Burle Max é eterno!Mas todos os créditos do projeto do Aterro do Flamengo são de exclusividade dele? Porque excluir de uma maneira tão rude os créditos da concepçao do projeto/idéia á urbanista e paisagista Lota de Macedo Soares?? Claudia Rota

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  2. Prezada Claudia,

    Grato pela preciosa informação. Fica registrada a indispensável referência de que Maria Carlota [mais conhecida como Lota] Costallat de Macedo Soares foi uma das principais responsáveis pelo fantástico Aterro do Flamengo.

    Vasco S. da Costa

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