sábado, 19 de março de 2011

Falando de Líbia, o que está por trás da intervenção militar autorizada pela ONU?

No momento em que se processa uma intervenção armada na Líbia por uma coalizão de países, por decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas (com a abstenção de Alemanha, Brasil, China, Índia e Rússia, e a aprovação dos 10 países restantes), sob a alegação de proteção da população civil desse país, parece-me oportuno dar uma olhada em outros países em que a população civil já vem sendo dizimada ou poderá sê-lo,  e qual a posição que o ocidente (em particular os países que formam a coalizão que agora intervém na Líbia) tem adotado em relação a isso.
  • Sudão -- hoje o maior país da África e um incipiente produtor de petróleo (520 mil barris/dia), está em guerra civil há 46 anos; a guerra e secas prolongadas já mataram mais de 2 milhões (leia mais). Ação do ocidente para ajudar o país a sair dessa situação: zero.
  • Somália -- outro país africano, considerado politicamente falido, está em guerra civil desde 1991 e é considerado um dos países mais pobres e violentos do mundo -- o caos político em que se encontra tornou-o gerador e reduto de piratas que há anos vêm sequestrando navios e tripulações de qualquer bandeira. A ONU interveio de 1992 a 1995, e então se retirou do país, depois de seu contingente sofrer pesadas baixas. No final de 2009 havia 678 mil refugiados somalianos amparados pela ONU (leia aqui). Ação do ocidente após 1995: zero.
  • Costa do Marfim -- também africano, o país está à beira de uma guerra civil porque o presidente em exercício se recusa a reconhecer sua derrota nas eleições de 2010, já tendo havido escaramuças e mortes entre seus partidários e os do presidente eleito (leia mais). Medidas efetivas do ocidente para evitar que a situação degenere em querra civil de grandes proporções: zero.
A lista poderia se estender. O que diferencia a Líbia desses países? Duas coisas: o petróleo que produz, de vital importâncias para vários países ocidentais, e sua posição estratégica. Estas são as verdadeiras razões por trás da intervenção militar do ocidente ora em curso no país, tudo mais é pura hipocrisia e deslavada mentira. Até ontem Kadafi era paparicado, protegido e apoiado pelos mesmos países que hoje querem derrubá-lo, e que propositadamente deixaram a situação chegar ao ponto incontrolável a que chegou para justificar sua já planejada intervenção militar. Nessa briga não há anjinhos, ninguém é flor que se cheire. Kadafi é um ditador sanguinário e o que está fazendo é inadmissível, mas o Egito e a Tunísia estão aí para provar que governos podem ser derrubados e regimes podem ser substituídos sem guerra civil e sem derramamento de sangue. EUA, França, e Inglaterra, membros proeminentes da coalizão, têm um passado (e até um presente ...) que os condena em termos de mentalidade xerifesca de atuar violentamente em defesa de seus interesses -- a Líbia é mais uma prova disto.

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